Blog analisa os programas de sócios-torcedores dos 18 maiores clubes do país e diz: ainda há muito o que se fazer!

Moda entre os principais clubes do Futebol em Terras Brasilis, os programas de sócios-torcedores têm sido visto, nos últimos anos, como uma das principais fontes de renda dos maiores clubes do país.

Atraindo cada vez mais torcedores com o mote de ajudar seu clube do coração, além de acentuar algumas rivalidades locais, temos visto e ouvido falar cada vez mais sobre esses programas, principalmente no que tange à quantidade de associados em cada clube.

De olho em um mercado com potencial enorme de crescimento, algumas das maiores empresas do país (lideradas pela gigante de bebidas Ambev) se uniram há uns dois anos, sob a tutela do ex-jogador Ronaldo (fenômeno), para criar o Movimento por um Futebol Melhor, em que descontos em seus produtos e serviços passariam a fazer parte do rol de benefícios dados aos sócios-torcedores de muitos dos clubes que têm esse programa.

Ou seja, o negócio é realmente atraente.

A história desses programas é mais longa do que imaginamos.

Lembro-me de já na década de 90 ver o São Paulo, vanguardista que era naquela época, lançar o seu programa de sócio-torcedor.

Mesmo estando na vanguarda, não foi o Tricolor do Morumbi quem melhor lidou com esse programa.

Na década passada assistimos ao surgimento daquele que é, hoje, o programa que mais conta com sócios no país: o do Internacional.

Com pouco mais de 130 mil torcedores adimplentes (em dia) com o clube, o Sport Club Internacional é, há algum tempo, o clube brasileiro com maior número de sócios.

Não contente em só ver esse número, esse blogueiro que vos escreve foi pesquisar cada um dos programas dos 18 maiores clubes do país, de acordo com o nosso Ranking, para verificar o que pode ser melhorado e quanto que esses programas estão realmente beneficiando nosso futebol.

A primeira pesquisa, e mais óbvia, foi sobre o tamanho de cada programa. Mas não me contentei apenas em verificar o número de torcedores adimplentes. Fui um pouco mais afundo nessa questão e verifiquei a proporcionalidade de sócios-torcedores no número de torcedores que cada clube tem.

E chegamos ao seguinte quadro:

Sócio-Torcedor - Total

Aqui os clubes aparecem ordenados pela proporção de sócios em relação ao número de torcedores. Ao lado de cada coluna temos a colocação do clube na coluna que se refere.

Antes de analisá-lo, vale informar as fontes: o número de sócios torcedores eu peguei no site do Movimento por um Futebol Melhor. Esses são números de 11/03/2015.

Já o tamanho da torcida eu peguei da pesquisa da agência Pluri Pesquisas Esportivas, de 2013, pesquisa essa com a menor margem de erro já divulgada.

O primeiro fato que chama a atenção, logo de cara, é que nenhum clube brasileiro ainda conseguiu atingir o percentual que o Benfica, de Portugal, tem de sócios. O time lusitano tem 4% de seus torcedores inscritos no seu programa de sócios e é, atualmente, o clube recordista de sócios no mundo.

O segundo ponto que chama a atenção, e esse muito interessante de se ver, é que nenhuma das 4 maiores torcidas do país está entre as primeiras colocadas no número proporcional de sócios. Muito pelo contrário.

Flamengo, Corinthians, São Paulo e Vasco da Gama aparecem, respectivamente, na 14ª, 13ª, 12ª e 15ª colocações quando analisamos proporcionalmente seus programas de sócios-torcedores.

Muito pouco para esses gigantes.

Se analisarmos em números absolutos o Corinthians aparece em 3º lugar no número de sócios, o que alivia um pouco a barra do clube do Parque São Jorge.

Mas Flamengo, 7º no total de sócios, São Paulo, 8º no total, e Vasco, 13º no total estão muito aquém do que se esperava, em se tratando de tamanho de suas torcidas.

Na ponta da tabela vemos os dois grandes do Rio Grande do Sul, com uma diferença bem grande no número total de sócios. Enquanto que o Colorado tem 2,59% de sua torcida cadastrada, o Tricolor Imortal, dono da maior torcida do estado, tem pouco mais de 1,30% de seus torcedores no plano de sócios.

Vale lembrar que os gaúchos aparecem em 8º e 10º colocados na pesquisa de tamanho das torcidas, o que nos leva a crer que a rivalidade local é uma grande incentivadora na disputa pra ver quem tem mais sócios.

Um número que me surpreendeu, positivamente, mas que por si só não fala muita coisa, foi o número de sócios-torcedores do Bahia. O Tricolor da Boa Terra aparece em 4º lugar entre os que mais possuem sócios proporcionalmente à sua torcida.

Outra curiosidade foi não conseguir encontrar o número de sócios-torcedores dos dois times paranaenses. Como ambos não fazem parte do Movimento por um Futebol Melhor, não conseguimos verificar quantos sócios tem cada clube.

Pra finalizar a análise dos números, vale um grande destaque para a torcida do Palmeiras, que até bem pouco tempo atrás nem tinha programa de sócio torcedor, mas que nos últimos meses fez explodir o número de associados em seu programa, sendo o segundo clube do país a ultrapassar a marca dos 100 mil torcedores adimplentes.

Quanto tempo não se perdeu no Palmeiras até começarem a entender que é, e sempre será, a sua torcida que levará o clube para o topo sempre?

Esmiuçando os programas:

Como eu disse, nessa pesquisa eu não me contentei em apenas verificar o número de sócios-torcedores de cada clube.

Não.

Eu acessei cada um dos sites, vi cada um dos planos, comparei seus valores e seus benefícios e me sinto pronto para afirmar: ainda há um longo caminho a percorrer se os clubes querem realmente ganhar dinheiro com seus programas de sócio-torcedor!

A começar por um ponto em comum entre todos os programas: todos, sem exceção, tem como ponto central na captação de sócios o ingresso aos jogos dos times.

Erro primário dos gestores desses programas ao acreditar que todos os torcedores querem ir ao estádio para acompanhar seus times.

Há algumas exceções, como é o caso do programa do Internacional, que prevê um valor menor de mensalidade de acordo com a distância que o torcedor residir do clube (o que indiretamente significa que esse torcedor vá menos ao estádio).

Mas, mesmo nessas exceções, o ponto central da captação é a compra do ingresso (seja preferência na compra, seja compra com desconto).

E aí eu sugiro ao amigo leitor que faça a seguinte conta: imagine se todos os torcedores do Corinthians quisessem ir ao estádio ao menos uma vez e, utopicamente, imagine que o Corinthians queira dar a possibilidade de que todos o façam ao menos uma vez.

São 29.350.776 torcedores para 48.234 lugares na Arena Corinthians, o que significa dizer que teríamos 596 jogos para fazer com que todos os torcedores fossem aos jogos do Timão em sua casa.

Com uma média de 80 jogos por ano, sendo metade em sua casa (40 jogos), levaríamos quase 15 anos para completar a primeira rodada com todos os torcedores assistindo jogos do Timão em seu novo (até quando?) estádio.

Por essa contas vimos que é inviável que todos os torcedores vão ao estádio. Muitos passam a vida sem acompanhar seu time em um estádio de futebol, quanto mais na “casa” do time.

E essa é a principal crítica que o blog tem ao formato dos programas de sócios-torcedores.

Poucas são as vantagens para aqueles torcedores que não querem, ou não podem, ir ao estádio.

Como eu, por exemplo, que não vou a um jogo do meu Timão (por isso do exemplo ter sido exatamente com o Corinthians) desde 2009.

E não faço questão de ir.

E confesso que já entrei no site do programa de sócio-torcedor do Corinthians, o Fiel Torcedor, e fiquei muito a fim de me cadastrar.

Mas não vi muitas vantagens pra mim, mero torcedor de sofá.

E igual a mim, amigo, existem milhões de torcedores que simplesmente não vêem vantagem em se tornar sócio-torcedor de seu clube apenas pelo fato de “ajudar” seu time de coração.

Até porque, sabemos que não se tem garantia de que esse dinheiro vá realmente ajudar o nosso clube, não é?

Talvez ampliar as redes de desconto que muitos clubes fazem, como o Coritiba que tem uma ampla rede de empresas conveniadas que dão descontos aos seus sócios.

Talvez, e aí sim eu acho que seria uma boa vantagem, dar um belo desconto no pay-per-view do time do coração (em ação conjunta com a Globo, lógico).

Talvez dar um belo desconto em produtos nas lojas oficiais dos clubes, distribuir camisetas, criar ações de marketing em localidades distantes das sedes, enfim, pôr essa galera do marketing do clubes para pensar no que se pode criar para o torcedor que não sente interesse, ou até segurança, de ir a um estádio de futebol.

Outra vantagem que eu vi apenas em cinco clubes (Internacional, Grêmio, Bahia, Fluminense e Coritiba) é o direito a voto em todos os planos de sócio-torcedor.

Pô, é uma sacada genial!

Se o clube tem como principal atividade o futebol, sendo ela que mais arrecada, nada mais justo com os torcedores que eles possam escolher o presidente do seu clube.

E não me venha com essa de clube social, que isso é papo! Estamos falando dos 18 maiores times de futebol do país, clube social é coisa de bairro.

Isso atrai o torcedor que não vai a estádio, mas gosta de acompanhar as notícias, vive o seu time de futebol, vê as cagadas que os dirigentes fazem, comemora os títulos, enfim, se envolve com aquela instituição.

Valores:

Na pesquisa de valores podemos ver a mais variada opção, mas para a planilha não ficar muito extensa, coloquei apenas o valor do plano básico e o valor do plano top por clube.

Três clube possuem apenas um plano, por isso o valor comparado é o do básico. São eles: Bahia, Sport e Fluminense.

E cabe aqui uma janela para falar especificamente sobre o Bahia: o Tricolor, como já escrito lá em cima, é o quarto colocado na proporção entre sócios e torcedores, mas tem um plano muito básico, com apenas uma faixa de valor e com poucos atrativos para seus torcedores. Acredito que o grande impulsionador do clube seja a possibilidade de voto nas eleições, o que corrobora com o que escrevi alguns parágrafos acima.

O clube que tem o pacote mais barato é o Palmeiras, onde o torcedor pode, com pouco menos de R$ 120,00 no ano, ter a prioridade na compra de ingressos do clube, além de ganhar um Kit Avanti (não verifiquei o que vem nesse kit) e participar do Movimento por um Futebol Melhor.

Já o plano básico mais caro é o do Coritiba, custando R$ 600,00 por ano e dando, além do direito a voto citado acima, 50% de desconto nos ingressos e o clube de benefícios também já citado.

Veja a tabela com os valores básico e top:

Sócio-Torcedor - Valores

Valores em Reais (R$) consultados na semana entre 09 e 13 de março de 2015.

Novamente é curioso ver que duas das maiores torcidas do país estão entre os quatro clubes com plano básico mais barato.

Corinthians e São Paulo, mesmo tendo planos com anuidades tão baixas, possuem uma pequena proporcionalidade de suas torcidas como sócios-torcedores.

Mais curioso ainda é ver que o chamado Trio de Ferro Paulistano domina os planos mais baratos, justo estando na capitado do estado mais rico da união.

Já no topo da tabela dos planos top estão o Internacional e o Atlético Paranaense, ambos com planos bem arrojados para aqueles torcedores que querem, e podem, se sentir VIPs.

O Palmeiras também soube se aproveitar desse quesito e é o terceiro na lista dos mais caros, tendo um plano que custa pouco mais de R$ 7 mil anuais.

Novamente vemos a situação curiosa em que o Corinthians se encontra.

Dono da maior torcida do estado mais rico do país, o clube ocupa a modesta 14ª colocação quando o assunto é o plano mais caro.

Como os dirigentes Corinthianos pretendem se utilizar de um poder aquisitivo teoricamente maior de sua torcida ainda é um mistério para quem vê esses números.

Concluindo:

Apesar do ótimo crescimento que os programas de sócios-torcedores tiveram nos últimos anos, conseguimos verificar que ainda há um caminho enorme para que nossos clubes possam depender cada vez menos das cotas de televisão e de patrocínios de camisa.

Há um mercado enorme a ser explorado por nossos clubes, onde vai ganhar quem for mais criativo, mais inventivo e conseguir atrair um número cada vez maior de torcedores aos seus quadros de sócios.

Apesar de conseguir muitas informações, não foi possível concluir a análise do faturamento dos clubes com os seus programas, o que é uma pena, pois essa informação nos daria uma ideia exata do quanto cada programa representa financeiramente para os clubes.

Mas é interessante imaginar que se nossos clubes conseguissem o número proporcional de sócios-torcedores que o Benfica tem atualmente, muita coisa iria melhorar para os nossos clubes.

Peguemos o exemplo do Fluminense, que tem apenas 0,65% dos seus torcedores inscritos no seu programa de sócios.

Caso o Tricolor das Laranjeiras conseguisse atingir os 4%, teria hoje 144 mil sócios, com um faturamento acima de R$ 60 milhões só com o programa de sócio-torcedor.

E eu estou falando apenas de 4% da torcida contribuindo com R$ 35 por mês ao clube.

Não é nenhuma utopia.

Comentários
  1. Parabéns pelo estudo!!!

    Vou tentar dar umas dicas que acho válidas para deixar o estudo mais aprofundado…

    Primeiro, as estimativas (divulgadas sempre por dirigentes) de sócios de Atlético e Coxa: 24mil para o Atlético e 22mil para o Coxa…

    Depois, um trabalho mais maçante, teria de ver se vale o esforço…
    Vi que vocês focaram nos planos mais em conta e nos tops. Acho válido, mas não acredito que reflita a realidade média de associação… Seria interessante se vocês conseguissem trazer quais são os planos de maior alcance dos clubes, e retirar da média os planos que tem adesão muito pequena e que não representa a média. Também já ajudando, no CAP:

    +- 11mil lugares totais a 250/mês com acesso liberado (125 para menores) no setor plus
    +- 3mil lugares totais a 100/mês com acesso liberado (50 para menores) no setor FAN
    +- 22mil lugares totais a 150/mês com acesso liberado (70 para menores) no setor FAN
    +- 1000 lugares totais a 800/mês com acesso liberado (400 para menores) no setor VIP
    +- 1000 lugares totais em camarotes a um valor acima, mas não sei qual.

    Os exemplos do CAP passados são do sócio mundi a 40 reais + meio-ingresso, para quem mora longe, onde não devemos ter mais de 200 sócios.
    Já o VIP a 800 por mês também não deve passar de 200.

    ps.: não sei precisar dos 24mil sócios atuais quantos são de cada setor.

    Sei que opinião muitas vezes é mais para atrapalhar, mas acho que se vocês conseguissem números parecidos com esses, onde possam trabalhar com médias de acessibilidade, seria algo que ninguém no Brasil teria…

  2. gi diz:

    palmeiras 9milhoes torcedores?

  3. Jair diz:

    Sobre o Internacional: Atualmente o Inter possui, além do sócio-torcedor no valor de R$35 (direito à 50% de desconto e preferência na compra de ingressos) o aluguel de cadeiras com lugar marcado com faixas de valores entre R$140 e R$280, (sem contara área vip, também com lugar fixo) e um quadro social que não permite mais associação (que foi o que iniciou esse novo patamar) no qual o torcedor tem acesso garantido, sem compra de ingresso, apenas através de check-in prioritário sobre todas as outras modalidade, no valor de R$85 mensais. Esta modalidade encerrou quanto atingiu aproximadamente 35mil sócios. Neste ponto o clube lançou a modalidade com desconto no ingresso pois não havia mais como garantir a presença em todos os jogos do quadro inicial. Atualmente as receitas dos quadros sociais ultrapassam o valor pago pela Televisão ao clube se tornando a principal receita do clube.

    • Agradeço o comentário Jair.

      Infelizmente não pude detalhar cada um dos planos dos 18 clubes, por questões de tempo e espaço para postagem, e por isso agradeço seus esclarecimentos sobre o programa do Inter.

      De qualquer forma, com relação à principal crítica aos programas, mesmo no do Colorado, vemos que a maior vantagem de se associar está focada no ingresso aos jogos de futebol, sem pensar naqueles torcedores que não podem, ou não vão, aos estádios.

      Abraços.

      • Jair diz:

        Bom, mas o foco do sócio de clube de futebol é o próprio futebol. Mesmo nas modalidade que não disponibiliza desconto possibilita a prioridade na compra. Tem que ser destacado que o plano atual de sócios do Inter é um dos que está à mais tempo em vigor e, mesmo durante o período de mais de um ano no qual o estádio esteve fechado para reforma para sediar os jogos da Copa do Mundo, manteve um altíssima taxa de adimplência. Sinal de que as vantagens atuais estão sendo aprovadas pelos sócios e ainda despertando interesse em novos associados.

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