Inicio essa pequena carta explicando que o “Caro” acima escrito não é o sinônimo de estimado, de prezado, mas sim uma clara referência ao seu custo benefício para o clube do meu coração, e para a tranqüilidade da torcida que suporta esse clube.
Deixei passar mais de 24 horas para lhe escrever essa carta, pois entendo que no calor da emoção o teor dela poderia ser muito ofensivo ao senhor, e prejudicial à minha humilde pessoa, um simples torcedor que, por conta da enorme paixão pelo futebol, às vezes escreve algumas linhas com pouco valor sobre esse tema.
É certo, caro Alexandre, que essa carta está sendo escrita por conta da forma irresponsável, infantil e até amadora com a qual o senhor desperdiçou o último pênalti no confronto do nosso, quero dizer, do meu Corinthians contra o Grêmio na última quarta-feira, culminando com a eliminação do Timão nas quartas de final da Copa do Brasil.
Pode ficar tranqüilo, ou melhor, mais tranqüilo, pois não vou responsabilizá-lo totalmente pela desclassificação do Corinthians. Não, eu não seria irresponsável a este ponto, afinal o senhor não tem culpa do time ter jogado de maneira covarde durante os noventa minutos (de novo), não tem culpa do técnico Tite ter escalado três volantes e do time só ter melhorado de fato quando ele tirou um desses volantes para a entrada do atacante Émerson, o qual o senhor também não tem culpa de ter sido expulso infantilmente, por ter caído na provocação de um jogador Gremista, como também não tem culpa o senhor de quê os meias Danilo e Edenílson terem perdido as suas penalidades, com o grande Dida defendendo-as de maneira exemplar.
Não caro Alexandre, você não tem culpa disso tudo.
E tudo isso também fez com que o Timão fosse eliminado, eu sei.
Mas o que eu não me conformo, caro Alexandre, é como um atacante que é tido por grande parte da mídia um dos melhores do país, por vezes convocado para defender a Seleção Brasileira, pôde ser tão inocente ao achar que bater aquele pênalti daquela forma fosse realmente dar resultado.
O mais impressionante dessa história é saber que o senhor jogou por anos a fio com o goleiro Dida, lá no Milan, onde obviamente vocês treinavam juntos e, certamente, já se conheciam o suficiente para saber o estilo de cada um, você saber o dele e ele saber o seu. O que te deu na cabeça então, caro Alexandre?
Achar que um goleiro com a envergadura, experiência e especialidade do Dida em pegar pênaltis iria sofrer aquele gol foi, no mínimo, falta de bom senso. Mas podemos também elencar falta de profissionalismo, de maturidade, de auto-crítica e de uma série de outras características que nem valem a pena escrever.
Pior, caro Alexandre, foi ter saído de campo falando que havia treinado daquela forma e não iria mudar no momento da batida. Ora, estou eu na sua pele, certamente mudaria minha cobrança, não importando a forma como eu havia treinado. Vejamos: você foi a mais cara (e para muitos burra) contratação do futebol brasileiro, seu time está com um fraco desempenho se comparado ao ano anterior, em que o senhor não estava, a torcida pressionando por resultados, era apenas o último pênalti, ninguém mais bateria, e o seu time precisava daquele gol para seguir na disputa.
Sua atitude, de “bater do jeito que treinou” foi de um extremo egoísmo, não tendo considerado, por exemplo, que talvez aquela fosse a noite do novato goleiro Valter, que não deve ter em sua conta bancária nem 1% do que o senhor tem na sua, e que precisava sim de uma noite tão consagradora que quase conseguiu.
Mas, confesso caro Alexandre, que isso não me surpreendeu. Ao vê-lo indo bater aquele pênalti eu senti que você o perderia, só não poderia supor que seria de maneira tão bisonha.
Nunca fui à favor da sua contratação, e não apenas pela questão financeira. Confesso que nunca fui fã do seu futebol. Sempre me admirei como podia um garoto que tinha jogado apenas dois ou três jogos bons, sendo talvez o melhor deles aquele contra o Palmeiras, no Parque Antártica, lá no início da sua carreira, ter sido negociado com o poderoso Milan.
Sei que lá na terra dos Berlusconi, onde você se deu muito bem como galã, sua vida como jogador não foi das melhores, e juro que não esperava que você voltasse para o Brasil, quanto menos para o meu Corinthians, tão cedo.
Na minha concepção de futebol, o caminho mais viável para você seria o leste Europeu, ou a Ásia e seus petrodólares, ou até mesmo o Brasil, mas lá para o Inter, time que o revelou, como voltam muitos ex-jogadores em atividade para o Futebol em Terras Brasilis.
Nunca, confesso que nunca, achei que seria diferente disso.
Mas, agora que foi, e que o senhor acabou por jogar aos ares toda a esperança que eu tinha, gostaria de lhe fazer apenas um pedido.
Vá embora do meu Corinthians! Por favor.
Vá desfilar, ser ator de novela global, ser investidor na bolsa, sei lá, você é bonitinho, é querido pelas marcas famosas, pelas mulheres, faça o que quiser da sua vida, mas saia do Corinthians.
Você nunca teve, nem nunca terá, a característica que jogadores com muito menos badalação, como Biro-Biro, Wilson Mano, Célio Silva, Tobias, Christian, Zé Elias, sempre tiveram: raça!
Quanto menos terá a característica que Sócrates, Luizinho, Marcelinho Carioca, Neto, Casão, Ronaldo Giovanelli, Basílio, tiveram: a de ter como segunda pele o manto Corinthiano.
E, mesmo que você não tenha essas características, caro Alexandre, também nunca chegará aos pés de um Ronaldo Nazário, que chegou ao Parque São Jorge como o maior artilheiro das Copas do Mundo (sabe o que isso significa?) e teve a humildade de nos receber de braços abertos em seu coração.
Portanto, finalizo essa pequena carta reforçando o meu pedido: vá embora do meu Corinthians, nós não lhe queremos mais!
At.,
Um Corinthiano