Arquivo de Agosto, 2014

calendario-bolaSe tem um assunto que é recorrente no Futebol em Terras Brasilis, esse assunto é o calendário.

Vira e mexe alguém se pronuncia com relação ao nosso calendário, à quantidade de jogos, ao formato do campeonatos e etc.

Talvez porque ainda não tenhamos encontrado o ponto certo entre o que os clubes e federações podem oferecer e aquilo que torcedores, críticos e imprensa realmente desejam.

Isso sem falar nos patrocinadores e detentores dos direitos de transmissão, no caso a Rede Globo, como escrevi recentemente.

O tema caiu muito mais no debate daqueles que acompanham o esporte bretão após o surgimento do Bom Senso FC e, principalmente, após a acachapante derrota de nossa Seleção na Copa do Mundo.

Que precisamos nos organizar melhor, isso é fato.

Mas, qual seria, na opinião desse blog, a melhor forma para fazermos isso? Qual o formato que entendemos ser o ideal, que permita aos nossos clubes maiores um número não tão excessivo de jogos e, contrariamente a isso, aos clubes menores um número tão pequeno de jogos?

Como fazer com que times importantes do país, que hoje são considerados apenas coadjuvantes (casos de Portuguesa, Guarani, Bahia, Atlético Paranaense, Paysandu, Ceará, Vitória, Coritiba, Remo, entre outros), possam voltar a ter chances de serem protagonistas?

Primeiramente esse blog acredita que devemos quebrar esse maldito paradigma que campeonato bom é nos moldes dos Europeus, com 18 ou 20 clubes na primeira divisão e o restante se fudendo lá embaixo.

Nosso país, sozinho, tem quase a mesma extensão territorial da Europa inteira. Nenhum país europeu tem 10 ou 12 clubes considerados grandes, com chances de ser campeões nacionais no início da temporada, como temos aqui. E nenhum país Europeu tem, ou deve ter (porque eu realmente não sei o número com exatidão) tantos clubes profissionais de futebol como temos por aqui.

Portanto, pra mim, essa história de Série A, B e C com 20 clubes cada uma só trará um efeito certo: a elitização do nosso futebol, restringindo a disputa aos grandes centros e, com o tempo, as conquistas a meia dúzia de clubes que tiverem a capacidade de se organizar melhor, ou que receberem mais investimentos de patrocinadores e detentores dos direitos de transmissão.

Quebrando-se esse paradigma, deveríamos partir para uma customização do modelo norte-americano, que eu vejo como melhor opção para o nosso país.

E como seria essa customização?

Eu já postei essa ideia aqui, há um bom tempo, mas vou reescrever de maneira resumida, para não tomar muito o tempo do leitor.

A primeira divisão do campeonato brasileiro seria dividida em 5 regiões, a saber: Sul-Minas; Rio-São Paulo; Central (com times da região Centro-oeste mais do Espírito Santo); Nordeste; e Norte.

As Regiões Sul-Minas, Rio-São Paulo e Nordeste contariam com 16 clubes, enquanto que as regiões Centro e Norte com 14 clubes.

As Regiões com 16 clubes teriam a disputa em pontos corridos, perfazendo um total de 30 rodadas (turno e returno), enquanto que as Regiões com 14 clubes poderiam, após uma primeira fase de turno e returno (26 jogos), fazer uma disputa de semi-final e final para completar os 30 jogos.

Após a fase Regional, os 16 melhores clubes disputariam a fase nacional, em fases eliminatórias com dois jogos (oitavas, quartas e semifinais) e com final em jogo único. Poderiam se classificar para essa fase nacional os 4 melhores das regiões com 16 equipes e os dois primeiros das regiões com 2 equipes.

As vagas para Libertadores e Sul-Americanas poderia ser definidas de acordo com o título da Região (Sul-Americana) e a classificação final da fase Nacional (4 primeiros, como é hoje). Caso uma mesma equipe seja campeã de sua Região e fique entre os quatro primeiros colocados da fase Nacional, essa equipe ficaria com a vaga para a Libertadores e passaria a vaga da Sul-Americana para o seguinte na classificação de sua Região.

Os dois últimos de cada Região seriam rebaixados para a segunda divisão, com caráter estadual.

Essa segunda divisão das Regiões seria disputada de maneira semelhante à primeira, porém com os clubes disputando a primeira fase dentro dos estados, em formato a definir por cada federação, e indo para uma seletiva final dentro da região. Por exemplo, na região Sul-Minas, os times disputariam primeiro a fase estadual (Gaúcho, Catarinense, Paranaense e Mineiro) e os melhores de cada estado iriam para a fase Regional, com disputas eliminatórias até se definir os dois finalistas e, consequentemente, que subiriam para a primeira divisão.

Essa segunda divisão teria que seguir o mesmo número de jogos para os clubes dentro da primeira fase (30 jogos, por exemplo), sendo que a segunda fase teria, obrigatoriamente, 7 jogos nas quatro fases eliminatórias (oitavas, quartas e semi com dois jogos e um jogo final).

Para os estados que tenham um número maior de clubes, como São Paulo, por exemplo, haveria a segunda, a terceira e até a quarta divisões estaduais, exatamente como há hoje.

Em paralelo à disputa desse campeonato a Copa do Brasil poderia continuar ocorrendo, até contemplando um número maior de equipes, mas podendo utilizar a classificação do ano anterior desse modelo do Brasileirão para determinar em que fase cada equipe entra, mais ou menos como ocorre hoje com as equipes que jogam a Libertadores que entram na Copa do Brasil apenas nas oitavas de final.

Necessariamente eu não vejo a necessidade de equipararmos nosso calendário ao europeu (com início em agosto e término em maio), apesar de saber que esse modelo privilegia as disputas de Seleções, que geralmente ocorrem entre os meses de junho e julho.

Mas também entendo que o nosso verão é demasiadamente desgastante para a prática de competições esportivas, principalmente nas regiões mais quentes do país, o que pode acabar por prejudicar o espetáculo.

Embora saibamos, também, que nossa realidade não é tão diferente atualmente, com os estaduais começando cada vez mais próximos da virada de ano, independente do calor que faça.

De qualquer forma, acredito que independente da data de início e fim, independente do regulamento que se faça, se quisermos um campeonato nacional que tenha o poder de fortalecer nossos clubes, em todas as regiões do país, temos que abandonar esse modelo exclusivista europeu para, a partir das nossas características como país, encontrar o modelo que melhor se adequará à nossa realidade.

Em toda cadeia produtiva, se é que podemos chamar assim, do nosso futebol há uma instituição em específico que tem um grande interesse que esse produto, o futebol, tenha cada vez mais qualidade.

Ela é, na minha modesta opinião, aquela que mais investe e que mais retorno precisa ter, até porque se trata de uma instituição privada, com fins lucrativos, mas, principalmente, com interesses comerciais e empresariais no negócio.

Diferente do que é, como sabemos, as instituições que organizam (federações e confederação) e que participam dos campeonatos (clubes), que podem até ser privados e com fins lucrativos, mas que não têm a quem se reportar caso um negócio dê prejuízo (ou vocês acham que a CBF se importa se o Brasileirão é ou não lucrativo?).

E, dessa cadeia toda, que envolve desde atletas, profissionais, clubes, federações, patrocinadores, entre outros, essa instituição é sim a mais preocupada com o atual momento do nosso futebol.

Tanto que convocou uma série de reuniões com os dirigentes dos 12 principais clubes do país para rediscutir nosso futebol.

Trata-se, obviamente, da detentora dos direitos de transmissão dos clubes e campeonatos, a Rede Globo de Televisão.

Não tenho os números, e também não os vi serem divulgados em canto algum, mas segundo o que temos lido, a audiência dos jogos do Campeonato Brasileiro, a principal competição do país, estão despencando nesse ano e esse é o grande motivo que fez a Globo convocar essas reuniões.

A preocupação da Globo é tamanha que a está fazendo pensar até em propor a volta do Brasileirão com fase eliminatória, modelo esse abolido em 2003, quando nosso campeonato passou a ter o sistema de pontos corridos em todas as suas edições.

E a preocupação é justa.

Justíssima, para falar a verdade.

Já a proposta nem tanto.

Se a Globo basear essa importante discussão apenas na fórmula de disputa do campeonato, teremos mais perda de tempo do que outra coisa.

Basta lembrar que a Copa do Brasil é disputada apenas com fases eliminatórias, o que não impede que tenhamos jogos bisonhos como o Bahia 1×0 Corinthians, de ontem, onde aposto que a audiência também não fora nenhuma maravilha.

A Globo paga caro aos clubes participantes da Série A, principalmente aos 5 times com as maiores torcidas do país (Flamengo, Corinthians, São Paulo, Palmeiras e Vasco) e, por se tratar de uma instituição com fins lucrativos, tenta recuperar esse montante investido com as quotas de patrocínio.

Analisando a cadeia produtiva do futebol, se os telespectadores verem jogos feios repetidamente é certo que muitos deixarão de ligar seus aparelhos de TV para assistir a estes “espetáculos”. Com isso a audiência cai.

A audiência caindo, cada vez menos patrocinadores estarão dispostos a pagar o que a Globo pede, pois não haverá a exposição da marca que se previa inicialmente.

Com os patrocinadores negociando cada vez mais para baixo as quotas, e os clubes cada vez mais para cima os direitos de transmissão, a Globo se verá numa encruzilhada financeira de difícil solução.

E é nesse ponto que a emissora não quer chegar.

Sendo ela a maior interessada em transmitir jogos de qualidade, com apelo público e com mais envolvimento dos telespectadores, acho justíssima a convocação dessa reunião por parte da Globo e acho sim, que por se tratar da maior interessada financeiramente falando, tem que pensar em mudar o nosso futebol brasileiro para melhor.

Já que nem CBF e nem os dirigentes de clubes parecem querer sair de sua zona de conforto, cabe à emissora carioca liderar esse processo.

Só espero que a discussão não fique baseada apenas no formato do principal campeonato do país, mas que seja elevada para o longo prazo e com vistas a ajudar os clubes a se organizarem para produzirem cada vez mais jogadores talentosos e, principalmente, retê-los em nossos campos.

Dando a oportunidade de vermos, quando ligarmos nosso aparelho de televisão, espetáculos sem aspas, como é hoje na tão badalada Alemanha.

E se forem falar no formato do nosso campeonato, saiam do lugar-comum e pensem em fazer algo como eu propus há algum tempo (Clique aqui e aqui para ler).