Posts Tagged ‘Copinha’

Santos, Atlético Mineiro, Corinthians e Fluminense entram em campo hoje à noite, com seus times juniores, para a disputa das semi-finais da Copa São Paulo de Futebol Júnior.

A tão aclamada competição, conhecida e tida por toda a imprensa esportiva do país como o principal campeonato de base do Brasil.

O caminho das quatro equipes até aqui foi cheio, completo, repleto de absurdos que só são aceitos em um país onde o absurdo é coisa normal, corriqueira.

Essa competição, que foi criada pela Secretaria de Turismo e Esportes de São Paulo, no ano de 1969, como parte das comemorações do aniversário da cidade e em sua primeira edição contou com apenas 4 equipes (Corinthians, Palmeiras, Juventus e Nacional), chegou à sua 45a edição com nada menos do que 104 times participantes, sendo este o primeiro, porém menos grave, dos absurdos.

Aqui eu faço um parêntese sobre os absurdos dessa edição, e escrevo um pouco sobre os absurdos da história dessa competição.

O amigo poderá ver no gráfico a seguir que, depois da promulgação da famosa Lei Pelé, que tirou dos clubes o direito do “passe” de cada jogador, a competição obteve um inchaço recorde. Se em 1998 apenas 32 equipes disputaram a Copinha, como é carinhosamente chamada pela imprensa e torcida paulista, podemos ver que esse número apenas cresceu de lá pra cá.

gráfico copa sp fut jrSe calcularmos o percentual como se estivéssemos falando de juros compostos, a taxa de crescimento anual de times que disputam a Copinha foi de 7,644%. No total, a Copinha teve um inchaço de 225% no número de participantes. Se continuar inchando dessa forma, em 2028 podemos ter algo em torno de 292 times disputando o torneio. Vai faltar letra no alfabeto para nomear tanto grupo.

E, aí, vale lembrar o seguinte: a Lei Pelé tirou dos clubes o direito do “passe”, que acabou na mão dos empresários. Seria apenas coincidência, ou será que o inchaço no número de participantes, que é sim um absurdo, se deve ao fato de cada vez mais empresários quererem colocar seus garotos, que são “craques”, naquela que é a maior vitrine da categoria de base?

Alguns dizem que a Copinha já revelou muitos jogadores importantes para o nosso futebol e blá, blá, blá. Mas eu proponho que você, caro leitor muito atento e esperto, verifique pra mim quantos jogadores já passaram pelo torneio e quantos realmente se tornaram esses jogadores importantes. Talvez você vai perceber que a proporção é muito pequena ainda.

Mas, voltando aos absurdos dessa edição, que talvez não revele nenhum grande jogador para o Futebol em Terras Brasilis, ao menos nenhum que eu tenha visto a imprensa aclamar.

Jogar dia sim, dia não, com menos de 48 horas de descanso entre os jogos, é outro absurdo a que foram expostos os garotos dos times que passaram pela 2a, 3a, 4a e, agora, 5a fases do torneio. Para você ter uma ideia, os finalistas do torneio completarão 8 jogos em 22 dias, o que representa jogar uma vez a cada 2,75 dias.

Sim, um jogo decisivo a cada, arredondando, 3 dias.

Pior que isso, só se esse garotos forem submetidos a jogar ao sol das 11 horas da manhã, em pleno verão paulista, em cidades pouco quentes como Ribeirão Preto, São José do Rio Preto, Araraquara, ou qualquer outra do nosso interior. Vai me dizer que isso não é mais um dos absurdos proporcionados pelo torneio?

Aí, se você considerar que muitos dos garotos, ainda muito jovens para lidar com uma pressão tão grande, sentem o peso de ser essa a competição “vitrine” que eles tanto esperavam, de ser essa talvez a única chance que esses garotos, você pode imaginar o tamanho do absurdo psicológico que é feito na cabeça de quem quer, somente, jogar bola.

É fato que a Copinha já se tornou um torneio tradicional em nosso futebol, tendo sim até certo valor financeiro para clubes, empresários, jogadores, patrocinadores e detentores dos direitos de imagem, no que aí cabe outro grande absurdo: no momento mais importante da competição, quando os melhores times passam pelas peneiras das primeiras fases, começam os principais campeonatos estaduais e roubam todo o foco.

Ou seja, importância mesmo só tem as primeiras, e fracas, fases.

Se o principal intuito da competição é a revelação de grandes jogadores para o nosso futebol, algo precisa ser repensado urgentemente na organização do torneio.

Do jeito que está a tendência é ter cada vez menos interesse do público.