Posts Tagged ‘marketing esportivo’

Blog analisa os programas de sócios-torcedores dos 18 maiores clubes do país e diz: ainda há muito o que se fazer!

Moda entre os principais clubes do Futebol em Terras Brasilis, os programas de sócios-torcedores têm sido visto, nos últimos anos, como uma das principais fontes de renda dos maiores clubes do país.

Atraindo cada vez mais torcedores com o mote de ajudar seu clube do coração, além de acentuar algumas rivalidades locais, temos visto e ouvido falar cada vez mais sobre esses programas, principalmente no que tange à quantidade de associados em cada clube.

De olho em um mercado com potencial enorme de crescimento, algumas das maiores empresas do país (lideradas pela gigante de bebidas Ambev) se uniram há uns dois anos, sob a tutela do ex-jogador Ronaldo (fenômeno), para criar o Movimento por um Futebol Melhor, em que descontos em seus produtos e serviços passariam a fazer parte do rol de benefícios dados aos sócios-torcedores de muitos dos clubes que têm esse programa.

Ou seja, o negócio é realmente atraente.

A história desses programas é mais longa do que imaginamos.

Lembro-me de já na década de 90 ver o São Paulo, vanguardista que era naquela época, lançar o seu programa de sócio-torcedor.

Mesmo estando na vanguarda, não foi o Tricolor do Morumbi quem melhor lidou com esse programa.

Na década passada assistimos ao surgimento daquele que é, hoje, o programa que mais conta com sócios no país: o do Internacional.

Com pouco mais de 130 mil torcedores adimplentes (em dia) com o clube, o Sport Club Internacional é, há algum tempo, o clube brasileiro com maior número de sócios.

Não contente em só ver esse número, esse blogueiro que vos escreve foi pesquisar cada um dos programas dos 18 maiores clubes do país, de acordo com o nosso Ranking, para verificar o que pode ser melhorado e quanto que esses programas estão realmente beneficiando nosso futebol.

A primeira pesquisa, e mais óbvia, foi sobre o tamanho de cada programa. Mas não me contentei apenas em verificar o número de torcedores adimplentes. Fui um pouco mais afundo nessa questão e verifiquei a proporcionalidade de sócios-torcedores no número de torcedores que cada clube tem.

E chegamos ao seguinte quadro:

Sócio-Torcedor - Total

Aqui os clubes aparecem ordenados pela proporção de sócios em relação ao número de torcedores. Ao lado de cada coluna temos a colocação do clube na coluna que se refere.

Antes de analisá-lo, vale informar as fontes: o número de sócios torcedores eu peguei no site do Movimento por um Futebol Melhor. Esses são números de 11/03/2015.

Já o tamanho da torcida eu peguei da pesquisa da agência Pluri Pesquisas Esportivas, de 2013, pesquisa essa com a menor margem de erro já divulgada.

O primeiro fato que chama a atenção, logo de cara, é que nenhum clube brasileiro ainda conseguiu atingir o percentual que o Benfica, de Portugal, tem de sócios. O time lusitano tem 4% de seus torcedores inscritos no seu programa de sócios e é, atualmente, o clube recordista de sócios no mundo.

O segundo ponto que chama a atenção, e esse muito interessante de se ver, é que nenhuma das 4 maiores torcidas do país está entre as primeiras colocadas no número proporcional de sócios. Muito pelo contrário.

Flamengo, Corinthians, São Paulo e Vasco da Gama aparecem, respectivamente, na 14ª, 13ª, 12ª e 15ª colocações quando analisamos proporcionalmente seus programas de sócios-torcedores.

Muito pouco para esses gigantes.

Se analisarmos em números absolutos o Corinthians aparece em 3º lugar no número de sócios, o que alivia um pouco a barra do clube do Parque São Jorge.

Mas Flamengo, 7º no total de sócios, São Paulo, 8º no total, e Vasco, 13º no total estão muito aquém do que se esperava, em se tratando de tamanho de suas torcidas.

Na ponta da tabela vemos os dois grandes do Rio Grande do Sul, com uma diferença bem grande no número total de sócios. Enquanto que o Colorado tem 2,59% de sua torcida cadastrada, o Tricolor Imortal, dono da maior torcida do estado, tem pouco mais de 1,30% de seus torcedores no plano de sócios.

Vale lembrar que os gaúchos aparecem em 8º e 10º colocados na pesquisa de tamanho das torcidas, o que nos leva a crer que a rivalidade local é uma grande incentivadora na disputa pra ver quem tem mais sócios.

Um número que me surpreendeu, positivamente, mas que por si só não fala muita coisa, foi o número de sócios-torcedores do Bahia. O Tricolor da Boa Terra aparece em 4º lugar entre os que mais possuem sócios proporcionalmente à sua torcida.

Outra curiosidade foi não conseguir encontrar o número de sócios-torcedores dos dois times paranaenses. Como ambos não fazem parte do Movimento por um Futebol Melhor, não conseguimos verificar quantos sócios tem cada clube.

Pra finalizar a análise dos números, vale um grande destaque para a torcida do Palmeiras, que até bem pouco tempo atrás nem tinha programa de sócio torcedor, mas que nos últimos meses fez explodir o número de associados em seu programa, sendo o segundo clube do país a ultrapassar a marca dos 100 mil torcedores adimplentes.

Quanto tempo não se perdeu no Palmeiras até começarem a entender que é, e sempre será, a sua torcida que levará o clube para o topo sempre?

Esmiuçando os programas:

Como eu disse, nessa pesquisa eu não me contentei em apenas verificar o número de sócios-torcedores de cada clube.

Não.

Eu acessei cada um dos sites, vi cada um dos planos, comparei seus valores e seus benefícios e me sinto pronto para afirmar: ainda há um longo caminho a percorrer se os clubes querem realmente ganhar dinheiro com seus programas de sócio-torcedor!

A começar por um ponto em comum entre todos os programas: todos, sem exceção, tem como ponto central na captação de sócios o ingresso aos jogos dos times.

Erro primário dos gestores desses programas ao acreditar que todos os torcedores querem ir ao estádio para acompanhar seus times.

Há algumas exceções, como é o caso do programa do Internacional, que prevê um valor menor de mensalidade de acordo com a distância que o torcedor residir do clube (o que indiretamente significa que esse torcedor vá menos ao estádio).

Mas, mesmo nessas exceções, o ponto central da captação é a compra do ingresso (seja preferência na compra, seja compra com desconto).

E aí eu sugiro ao amigo leitor que faça a seguinte conta: imagine se todos os torcedores do Corinthians quisessem ir ao estádio ao menos uma vez e, utopicamente, imagine que o Corinthians queira dar a possibilidade de que todos o façam ao menos uma vez.

São 29.350.776 torcedores para 48.234 lugares na Arena Corinthians, o que significa dizer que teríamos 596 jogos para fazer com que todos os torcedores fossem aos jogos do Timão em sua casa.

Com uma média de 80 jogos por ano, sendo metade em sua casa (40 jogos), levaríamos quase 15 anos para completar a primeira rodada com todos os torcedores assistindo jogos do Timão em seu novo (até quando?) estádio.

Por essa contas vimos que é inviável que todos os torcedores vão ao estádio. Muitos passam a vida sem acompanhar seu time em um estádio de futebol, quanto mais na “casa” do time.

E essa é a principal crítica que o blog tem ao formato dos programas de sócios-torcedores.

Poucas são as vantagens para aqueles torcedores que não querem, ou não podem, ir ao estádio.

Como eu, por exemplo, que não vou a um jogo do meu Timão (por isso do exemplo ter sido exatamente com o Corinthians) desde 2009.

E não faço questão de ir.

E confesso que já entrei no site do programa de sócio-torcedor do Corinthians, o Fiel Torcedor, e fiquei muito a fim de me cadastrar.

Mas não vi muitas vantagens pra mim, mero torcedor de sofá.

E igual a mim, amigo, existem milhões de torcedores que simplesmente não vêem vantagem em se tornar sócio-torcedor de seu clube apenas pelo fato de “ajudar” seu time de coração.

Até porque, sabemos que não se tem garantia de que esse dinheiro vá realmente ajudar o nosso clube, não é?

Talvez ampliar as redes de desconto que muitos clubes fazem, como o Coritiba que tem uma ampla rede de empresas conveniadas que dão descontos aos seus sócios.

Talvez, e aí sim eu acho que seria uma boa vantagem, dar um belo desconto no pay-per-view do time do coração (em ação conjunta com a Globo, lógico).

Talvez dar um belo desconto em produtos nas lojas oficiais dos clubes, distribuir camisetas, criar ações de marketing em localidades distantes das sedes, enfim, pôr essa galera do marketing do clubes para pensar no que se pode criar para o torcedor que não sente interesse, ou até segurança, de ir a um estádio de futebol.

Outra vantagem que eu vi apenas em cinco clubes (Internacional, Grêmio, Bahia, Fluminense e Coritiba) é o direito a voto em todos os planos de sócio-torcedor.

Pô, é uma sacada genial!

Se o clube tem como principal atividade o futebol, sendo ela que mais arrecada, nada mais justo com os torcedores que eles possam escolher o presidente do seu clube.

E não me venha com essa de clube social, que isso é papo! Estamos falando dos 18 maiores times de futebol do país, clube social é coisa de bairro.

Isso atrai o torcedor que não vai a estádio, mas gosta de acompanhar as notícias, vive o seu time de futebol, vê as cagadas que os dirigentes fazem, comemora os títulos, enfim, se envolve com aquela instituição.

Valores:

Na pesquisa de valores podemos ver a mais variada opção, mas para a planilha não ficar muito extensa, coloquei apenas o valor do plano básico e o valor do plano top por clube.

Três clube possuem apenas um plano, por isso o valor comparado é o do básico. São eles: Bahia, Sport e Fluminense.

E cabe aqui uma janela para falar especificamente sobre o Bahia: o Tricolor, como já escrito lá em cima, é o quarto colocado na proporção entre sócios e torcedores, mas tem um plano muito básico, com apenas uma faixa de valor e com poucos atrativos para seus torcedores. Acredito que o grande impulsionador do clube seja a possibilidade de voto nas eleições, o que corrobora com o que escrevi alguns parágrafos acima.

O clube que tem o pacote mais barato é o Palmeiras, onde o torcedor pode, com pouco menos de R$ 120,00 no ano, ter a prioridade na compra de ingressos do clube, além de ganhar um Kit Avanti (não verifiquei o que vem nesse kit) e participar do Movimento por um Futebol Melhor.

Já o plano básico mais caro é o do Coritiba, custando R$ 600,00 por ano e dando, além do direito a voto citado acima, 50% de desconto nos ingressos e o clube de benefícios também já citado.

Veja a tabela com os valores básico e top:

Sócio-Torcedor - Valores

Valores em Reais (R$) consultados na semana entre 09 e 13 de março de 2015.

Novamente é curioso ver que duas das maiores torcidas do país estão entre os quatro clubes com plano básico mais barato.

Corinthians e São Paulo, mesmo tendo planos com anuidades tão baixas, possuem uma pequena proporcionalidade de suas torcidas como sócios-torcedores.

Mais curioso ainda é ver que o chamado Trio de Ferro Paulistano domina os planos mais baratos, justo estando na capitado do estado mais rico da união.

Já no topo da tabela dos planos top estão o Internacional e o Atlético Paranaense, ambos com planos bem arrojados para aqueles torcedores que querem, e podem, se sentir VIPs.

O Palmeiras também soube se aproveitar desse quesito e é o terceiro na lista dos mais caros, tendo um plano que custa pouco mais de R$ 7 mil anuais.

Novamente vemos a situação curiosa em que o Corinthians se encontra.

Dono da maior torcida do estado mais rico do país, o clube ocupa a modesta 14ª colocação quando o assunto é o plano mais caro.

Como os dirigentes Corinthianos pretendem se utilizar de um poder aquisitivo teoricamente maior de sua torcida ainda é um mistério para quem vê esses números.

Concluindo:

Apesar do ótimo crescimento que os programas de sócios-torcedores tiveram nos últimos anos, conseguimos verificar que ainda há um caminho enorme para que nossos clubes possam depender cada vez menos das cotas de televisão e de patrocínios de camisa.

Há um mercado enorme a ser explorado por nossos clubes, onde vai ganhar quem for mais criativo, mais inventivo e conseguir atrair um número cada vez maior de torcedores aos seus quadros de sócios.

Apesar de conseguir muitas informações, não foi possível concluir a análise do faturamento dos clubes com os seus programas, o que é uma pena, pois essa informação nos daria uma ideia exata do quanto cada programa representa financeiramente para os clubes.

Mas é interessante imaginar que se nossos clubes conseguissem o número proporcional de sócios-torcedores que o Benfica tem atualmente, muita coisa iria melhorar para os nossos clubes.

Peguemos o exemplo do Fluminense, que tem apenas 0,65% dos seus torcedores inscritos no seu programa de sócios.

Caso o Tricolor das Laranjeiras conseguisse atingir os 4%, teria hoje 144 mil sócios, com um faturamento acima de R$ 60 milhões só com o programa de sócio-torcedor.

E eu estou falando apenas de 4% da torcida contribuindo com R$ 35 por mês ao clube.

Não é nenhuma utopia.

Em toda cadeia produtiva, se é que podemos chamar assim, do nosso futebol há uma instituição em específico que tem um grande interesse que esse produto, o futebol, tenha cada vez mais qualidade.

Ela é, na minha modesta opinião, aquela que mais investe e que mais retorno precisa ter, até porque se trata de uma instituição privada, com fins lucrativos, mas, principalmente, com interesses comerciais e empresariais no negócio.

Diferente do que é, como sabemos, as instituições que organizam (federações e confederação) e que participam dos campeonatos (clubes), que podem até ser privados e com fins lucrativos, mas que não têm a quem se reportar caso um negócio dê prejuízo (ou vocês acham que a CBF se importa se o Brasileirão é ou não lucrativo?).

E, dessa cadeia toda, que envolve desde atletas, profissionais, clubes, federações, patrocinadores, entre outros, essa instituição é sim a mais preocupada com o atual momento do nosso futebol.

Tanto que convocou uma série de reuniões com os dirigentes dos 12 principais clubes do país para rediscutir nosso futebol.

Trata-se, obviamente, da detentora dos direitos de transmissão dos clubes e campeonatos, a Rede Globo de Televisão.

Não tenho os números, e também não os vi serem divulgados em canto algum, mas segundo o que temos lido, a audiência dos jogos do Campeonato Brasileiro, a principal competição do país, estão despencando nesse ano e esse é o grande motivo que fez a Globo convocar essas reuniões.

A preocupação da Globo é tamanha que a está fazendo pensar até em propor a volta do Brasileirão com fase eliminatória, modelo esse abolido em 2003, quando nosso campeonato passou a ter o sistema de pontos corridos em todas as suas edições.

E a preocupação é justa.

Justíssima, para falar a verdade.

Já a proposta nem tanto.

Se a Globo basear essa importante discussão apenas na fórmula de disputa do campeonato, teremos mais perda de tempo do que outra coisa.

Basta lembrar que a Copa do Brasil é disputada apenas com fases eliminatórias, o que não impede que tenhamos jogos bisonhos como o Bahia 1×0 Corinthians, de ontem, onde aposto que a audiência também não fora nenhuma maravilha.

A Globo paga caro aos clubes participantes da Série A, principalmente aos 5 times com as maiores torcidas do país (Flamengo, Corinthians, São Paulo, Palmeiras e Vasco) e, por se tratar de uma instituição com fins lucrativos, tenta recuperar esse montante investido com as quotas de patrocínio.

Analisando a cadeia produtiva do futebol, se os telespectadores verem jogos feios repetidamente é certo que muitos deixarão de ligar seus aparelhos de TV para assistir a estes “espetáculos”. Com isso a audiência cai.

A audiência caindo, cada vez menos patrocinadores estarão dispostos a pagar o que a Globo pede, pois não haverá a exposição da marca que se previa inicialmente.

Com os patrocinadores negociando cada vez mais para baixo as quotas, e os clubes cada vez mais para cima os direitos de transmissão, a Globo se verá numa encruzilhada financeira de difícil solução.

E é nesse ponto que a emissora não quer chegar.

Sendo ela a maior interessada em transmitir jogos de qualidade, com apelo público e com mais envolvimento dos telespectadores, acho justíssima a convocação dessa reunião por parte da Globo e acho sim, que por se tratar da maior interessada financeiramente falando, tem que pensar em mudar o nosso futebol brasileiro para melhor.

Já que nem CBF e nem os dirigentes de clubes parecem querer sair de sua zona de conforto, cabe à emissora carioca liderar esse processo.

Só espero que a discussão não fique baseada apenas no formato do principal campeonato do país, mas que seja elevada para o longo prazo e com vistas a ajudar os clubes a se organizarem para produzirem cada vez mais jogadores talentosos e, principalmente, retê-los em nossos campos.

Dando a oportunidade de vermos, quando ligarmos nosso aparelho de televisão, espetáculos sem aspas, como é hoje na tão badalada Alemanha.

E se forem falar no formato do nosso campeonato, saiam do lugar-comum e pensem em fazer algo como eu propus há algum tempo (Clique aqui e aqui para ler).

Apesar de rivais os dois clubes não devem se tratar como inimigos.

Apesar de rivais os dois clubes não devem se tratar como inimigos.

Talvez o que eu escreva aqui nesse post possa parecer, para muitos, algo utópico e sem a menor chance de acontecer.

Confesso que até para mim, que acredito piamente nisso, esse post parece bastante utópico.

Principalmente ao ler e ver as notícias da recente briga entre São Paulo e Palmeiras pela contratação do medíocre atacante Alan Kardec, que não é para o futebol nem 1% do que foi o original para o Espiritismo, onde os presidentes dos clubes se prestaram ao papel de irem à imprensa trocar acusações e, pior, ofensas.

Nesse ponto, os dois presidentes dos dois clubes não agem apenas como rivais, mas também como inimigos.

“Vou tirar um profissional excelente do meu inimigo para enfraquecê-lo”.

“Vou acusar meu inimigo para que todos conheçam seu modus operandi“.

Esse é tipo de coisa que eu imagino que os presidentes pensam, ou pensaram, durante todo esse episódio. Mal sabem eles que a única coisa que estão enfraquecendo é o nosso futebol, o único modus operandi que estão expondo é o seu próprio.

Não quero aqui defender A ou B, nem cair no “lugar comum” de dizer que esse tipo de ação incita a violência, porque não é bem esse o intuito do post (e até porque a violência só é incitada em quem está inclinado a ela).

Mas o intuito é de mostrar que esse tipo de situação realmente não contribui em nada para o fortalecimento do nosso futebol.

Achar que o inimigo é o seu clube rival é de uma tolice tão grande que, ao longo dos anos, só tem afastado mais o público consumidor dos estádios, dos times.

Apesar de pouco conhecer, nesse caso sou fã do modelo norte-americano de gestão esportiva. Veja se existe esse tipo de situação na NBA, ou na MLS, por exemplo.

Não.

Lá, os clubes não definem suas contratações e acredito que isso ocorra exatamente para evitar esse tipo de situação, além, é claro, de evitar o fortalecimento de uns em detrimento aos outros.

Tudo bem que lá o modelo já nasceu assim, diferente daqui, que teríamos que tentar construir algo parecido partindo de um modelo pre-existente.

Pensando o futebol como um negócio, como uma indústria, coisa que o é, é tolice achar que quem torce, acompanha e consome o São Paulo, por exemplo, pode, de um dia para o outro, torcer, acompanhar ou consumir o Palmeiras.

Mas não é tolice pensar que esse mesmo cara que consome o São Paulo pode um dia desviar seus olhos, e seu dinheiro, para o teatro, o cinema, ou seja, qualquer outra forma de lazer.

Porque, para o torcedor comum, aquele que não vive do futebol, o esporte nada mais é do que isso: uma opção de lazer.

E se você acha que esse tido torcedor comum é minoria, sinto lhe informar que você está redondamente enganado.

Mesmo que eu nunca tenha visto uma pesquisa sobre o comportamento das torcidas, como postei certa vez (clique aqui), tenho certeza de que o número de potenciais consumidores do nosso futebol (caras que torcem para um time, mas não o acompanham de perto) ainda é bem maior do que o número de torcedores que realmente consumam algo dos times.

E enquanto os presidentes dos clubes, de todos e não apenas dos envolvidos nesse caso, ficarem brigando por migalhas (não que o tal Alan Kardec seja uma migalha, mas também não é um pão inteiro) é bem difícil que ações sejam desenvolvidas para atrair esse tipo de consumidor.

O tempo que estão dispensando nessa mesquinharia sem fim poderia ser aproveitado para pensarem o Futebol em Terras Brasilis no longo prazo, em ações que fortaleçam não só seus clubes, mas o nosso futebol hoje e também para daqui 10, 15, 30 anos.

Pensarem em como tornar o modelo arcaico que temos hoje em algo comercialmente atrativo e, principalmente, lucrativo.

Não pensarem em como tirar um “Alan Kardec” do rival, mas sim em como segurarem os futuros Neymar, Ronaldo, Kaka, e tantos outros que saem do país a cada janela de transferências, esses sim jogadores que justificam brigas, mas não entre os nossos clubes e sim com os clubes Europeus.

Porque enquanto nos dignificarmos a brigar apenas por Alan Kardec, vamos ter que nos contentar por brigar apenas por Alan Kardec, e nada mais.

Os principais jornais, os principais portais e blogs e os principais programas esportivos da nossa mídia estão dando destaque hoje ao grande clássico que tivemos nesse final de semana.

E, dizem, foi um jogão!

Eu não vi, mas acredito que tenha sido mesmo, afinal o placar final do confronto foi 4×3. E um jogo com 7 gols deve mesmo ser considerado um jogão.

O único problema que eu vejo nisso é que o tal grande clássico não foi o Santos x Palmeiras pelo campeonato paulista, tão menos o Náutico x Santa Cruz pelo campeonato pernambucano e quanto menos o Paysandu x Remo, pela Copa Verde, todos ocorridos no Futebol em Terras Brasilis.

Não.

O grande clássico a que todos tem dado uma enorme atenção foi Real Madrid x Barcelona, pelo campeonato espanhol.

É lógico que é impossível passar desapercebido por um jogo que envolve Messi, Cristiano Ronaldo, Neymar, entre tantos outros craques do futebol mundial, principalmente no mundo da informação globalizada em que vivemos.

Ok.

Mas daí a este jogo tomar o espaço de destaque em todas as mídias nacionais, como por exemplo ser foto de capa dos jornais Estado de São Paulo e Folha de São Paulo, vai uma distância muito longa.

E a culpa, ou responsabilidade, disso não é dos veículos de imprensa, que fazem o seu papel em dar destaque àquilo que mais atrai a atenção de seu público consumidor. A culpa, ou responsabilidade, é sim daqueles que administram o nosso futebol que a cada dia que passa está mais enfraquecido diante de outras opções de lazer.

Concomitantemente a isso, é lógico, existe todo o trabalho feito pela UEFA em fortalecer o seu produto, e o de suas ligas, nos mercados emergentes do futebol (lê-se principalmente Ásia).

Porém, em um país em que o futebol já é bem estabelecido, com um público bem formado, com times fortes capazes de fazer frente, ao menos dentro do campo, aos principais clubes Europeus, o efeito desse trabalho da UEFA deveria ser minimizado por um trabalho também bem eficiente de gestão de seus produtos (campeonatos), o que certamente não acontece.

É até injusto tentar comparar a atenção que um Santos 2×1 Palmeiras, com ambos já classificados para o chato Campeonato Paulista, pode atrair à um jogo deste porte.

Mas o fato é que, enquanto nossos times jogam campeonatos com pouquíssimo apelo, enquanto tratamos os torcedores como gado dentro e fora dos estádios, enquanto os dirigentes dos clubes acham que o “inimigo” é o clube rival e enquanto a violência e impunidade caminharem de mãos dadas no dia a dia do futebol, essa situação só tende a piorar.

Porque serão cada vez menos pais que levarão seus filhos aos estádios (dificilmente eu levarei minha filha em um), cada vez teremos mais crianças que gostam de futebol mas não se identificam com os clubes nacionais e, no longo prazo, cada vez teremos mais consumidores consumindo (com o perdão do pleonasmo) o futebol estrangeiro em detrimento ao nacional, como eu já escrevi uma vez.

Um grande exemplo disso é o fato da Globo ter colocado em sua programação, depois de muito tempo, a transmissão das fases eliminatórias da Champions League nas tardes de quarta-feira. O produto veio a calhar para a Globo, que devia ter uma audiência baixíssima para aquele horário (com as Sessões da Tarde e Malhações da vida) e passou a atender uma demanda cada vez mais latente.

Quanto tempo falta para o futebol Europeu entrar também na grade do final de semana da principal rede de televisão do país?

É lógico que esse é um processo lento, não será do dia para a noite que os grandes clubes brasileiros sofrerão seus efeitos, e até por isso que eu acredito que nada será feito. Mas, ao mesmo tempo que é lento, é constante. Cada vez estamos mais “invadidos” pelo velho mundo quando o assunto é futebol e isso pode chegar ao ponto de ser um processo sem volta.

Do jeito que a coisa anda, quando tivermos um clássico entre Santos x Palmeiras, possivelmente ouviremos as crianças do futuro perguntando: “De qual clássico estamos falando mesmo?”.

A marca de uma instituição, seja ela de qual ramo for, é como o nome de uma pessoa: nada é mais importante.

Porém, uma marca, quando bem consolidada e divulgada, diz muito mais sobre aquela instituição do que apenas o seu nome.

Ela diz como a instituição quer ser reconhecida, qual posicionamento ela quer ocupar no mercado em que atua, quais são os seus clientes, enfim, ela diz praticamente tudo sobre a determinada instituição.

No mundo corporativo vemos constantemente essa preocupação das empresas com a sua marca. Nike, Coca-Cola, IBM, Microsoft são algumas das gigantes globais que mais prezam pela boa imagem da sua marca.

Algumas empresas, como o Mc Donald’s, por exemplo, enfrentam resistência de uma parte da sociedade e têm que fazer um trabalho constante para manter o nome de sua marca como algo positivo na mente do mercado consumidor.

É uma luta diária.

Como é, também, a luta de um clube de futebol por angariar cada vez mais torcedores e, principalmente, transformá-los em consumidores.

De nada adianta para o Grêmio, por exemplo, ter a maior torcida do Rio Grande do Sul se o seu rival é que tem o maior mercado consumidor (mais torcedores pagantes do programa de sócio-torcedor, mais vendas de camisas, de produtos licenciados, mais audiência nos jogos transmitidos e maior venda no pay-per-view).

Certamente, no exemplo acima, o Inter terá mais receita do que o Grêmio, mesmo que o último tenha mais torcedores.

Por isso a preocupação com a marca do clube deve ser uma constante na cabeça dos dirigentes dos nossos clubes.

O Cruzeiro já proibiu suas torcidas de usarem a marca do clube. Não está na hora de outros times seguirem esse exemplo?

O Cruzeiro já proibiu suas torcidas de usarem a marca do clube. Não está na hora de outros times seguirem esse exemplo?

E, talvez por terem essa preocupação, os dirigentes do Cruzeiro tenham tomado a decisão de proibir as torcidas organizadas do clube (Máfia Azul e Pavilhão Independente) de utilizarem a marca do Cruzeiro. Essa decisão, tomada no final do ano passado, teve como principal pano de fundo as confusões criadas por membros dessas torcidas em jogos do Brasileirão 2013 (um contra o rival Atlético Mineiro e outro no jogo da festa do título, em pleno Mineirão).

Imaginem o quanto deve ter sido difícil para esses dirigentes a tomada dessa decisão. No mundo do futebol, ao contrário do mundo corporativo, existe o quesito paixão, que pode ser transformado em violência na cabeça dos mais ignorantes, e que pode fazer com que uma medida tão impopular seja impedida de ser tomada.

Ontem, outro presidente de um grande clube foi questionado sobre essa possibilidade. Mário Gobbi, presidente do Corinthians, em sua entrevista coletiva disse não ter poder para decidir isso sozinho, que o Corinthians tem seu Conselho Deliberativo e que este deve ser consultado com relação a essa decisão.

Ok.

Mas ele se ele não tem poder para decidir isso sozinho, certamente tem poder para influenciar a decisão do Conselho do clube. Certamente, também, ele tem poder para ao menos colocar esse assunto em pauta, dado a sua importância e gravidade.

O Corinthians vem trabalhando nos últimos anos não só para conquistar títulos, mas também para construir uma imagem de time vencedor e de clube organizado (sei). Porém, para conseguir construir essa imagem uma decisão muito séria e drástica deve ser tomada pela diretoria do clube com relação às torcidas organizadas.

Vejam o exemplo do Vasco, que perdeu o seu contrato de patrocínio com a Nissan depois da guerra campal que a torcida do clube se envolveu na última rodada do Brasileirão 2013, no jogo contra o Atlético Paranaense.

A matriz da montadora que influenciou nessa decisão, uma vez que a briga campal vai totalmente contra os valores da empresa e arranha, sim, a sua imagem.

Prejuízo de R$ 7 milhões por ano, por 4 anos.

O Vasco pode até arranjar outro patrocinador no lugar da Nissan. Certamente arranjará. Mas a imagem do clube já foi arranhada perante aquela empresa, e perante a todos aqueles que podem ser influenciados pelos gestores da empresa.

E você pode dizer até que proibir o uso da marca pelas torcidas organizadas não vai desviculá-las totalmente dos clubes.

Pode ser.

Mas o que é certo é que é tudo questão de imagem.

E enquanto os clubes brasileiros continuarem suas relações promíscuas com essas torcidas organizadas, quem vai mais sofrendo é a imagem do Futebol em Terras Brasilis.

Imagem

Nessa semana o novo presidente da Conmebol, Sr. Eugênio Figueredo, deu uma declaração sobre o formato e a quantidade de times que disputam atualmente a Taça Libertadores da América. Para o novo presidente, a Libertadores deveria voltar a ser disputada apenas por 20 clubes, sendo 2 de cada país afiliado da Confederação.

Essa fórmula de disputa perdurou até o ano de 1999. Em 2000 tivemos a ampliação no número de participantes para 34 equipes, sendo que duas eram eliminadas numa fase preliminar.

De acordo com o Sr. Eugênio, uma redução no número de clubes participantes melhoraria a qualidade dos jogos e, por conseqüência, da competição.

Discordo! Como também discordo do atual formato da Libertadores!

Atualmente temos 38 clubes classificados para a disputa do torneio, sendo que 12 equipes disputam a fase preliminar e, destes, 6 avançam e se juntam a outros 26 para a disputa da fase de grupos.

Esses 38 clubes são extraídos de 11 países, e é aí que eu vejo o problema.

Possibilitar, por exemplo, que o terceiro colocado do campeonato boliviano dispute a competição é abrir espaço para a perda de qualidade.

Além disso, o presidente da Conmebol se referiu também à falta de material humano para a arbitragem, pois, como se sabe, os árbitros dos jogos são amadores e possuem outras atividades que dificultam uma escala mais regular nas partidas continentais (e não estou me referindo aos árbitros mais conhecidos/famosos).

E aí existe o outro problema: o tempo de disputa! Realizar um campeonato com 38 equipes em apenas 6 meses é extremamente complicado, custoso e força os jogadores a atuarem no limite.

Então, qual seria a solução ideal?

Antes da confirmação do nome de Eugênio Figueredo para a presidência da Conmebol, e logo após a renúncia de seu antecessor, Nicolás Leóz, ouvi um boato na imprensa que o novo presidente da entidade Sul-Americana poderia incluir times dos Estados Unidos na disputa da competição.

Seria uma forma de atrair mais público para o mercado norte-americano de futebol, que vem se reforçando cada vez mais através da MLS (Major League Soccer).

E atrair o mercado norte-americano, ou estadunidense se você preferir, significa também atrair mais dinheiro, mais patrocínios, mais organização!

E seria nesse novo formato que eu apostaria!

A competição continuaria contando com 32 clubes na sua fase principal, porém reduzindo o número de participantes por país e incluindo, além dos times dos Estados Unidos, todos os outros membros da Concacaf.

Com isso, aumentaria e muito o número de países participantes, mas para não inchar demais o campeonato pode-se fazer como é atualmente na Champions européia, com os times de federações menores participando de uma fase preliminar. Lembremos, por exemplo, que na temporada 2011/2012 da Champions o APOEL, do Chipre, chegou às quartas-de-final. Para isso o time cipriota teve que passar por uma fase preliminar antes da fase de grupos.

Por exemplo, as vagas poderiam ser assim distribuídas:

  • Brasil, Argentina e Uruguai ficariam com três vagas diretas e uma na preliminar;
  • Chile, México, Estados Unidos, Paraguai e Colômbia com duas vagas diretas e uma preliminar;
  • Equador, Peru, Costa Rica, El Salvador e Venezuela ficariam com uma vaga direta e uma na preliminar;
  • Os demais países afiliados teriam uma vaga na fase preliminar apenas.

Dessa forma teríamos 50 times na fase preliminar, que poderia ser também sub-dividida, exatamente como também é na Europa, com países piores colocados no Ranking da FIFA se eliminando primeiro e os “menos piores” entrando depois, filtrando até sair oito equipes para compor a fase de grupos.

Aí o leitor desse blog, que muito observador que é, pode perguntar: e a questão da distância? Afinal, Nova York é muito mais distante de Buenos Aires do quê Londres é de Berlim, por exemplo.

Para isso a disputa deveria se estender pelo ano todo, iniciando em março e terminando em novembro, e a fase de grupos, que tem mais jogos, poderia ser mais regionalizada, evitando deslocamentos muito grandes no início da competição.

E a vaga da Concacaf no Mundial, como ficaria?

Bem, primeiro que o atual formato da Copa de Mundo de Clubes da FIFA permite uma redução dessa forma, uma vez que a FIFA dá ao país organizador do torneio uma vaga para um representante seu. Com isso, atualmente sete clubes disputam o torneio Mundial.

Reduz-se um e ficamos com 6.

Outra possibilidade é garantir a presença de dois clubes dessa nova Libertadores, ou seja pegaria o melhor colocado da Conmebol e da Concacaf para a disputa do Mundial. Obviamente um deles seria o campeão da Libertadores e o outro não.

Afinal, quando falamos do continente América não nos referimos apenas à do Norte ou à do Sul.

E aí, ao invés de Libertadores da América, poderíamos passar a ter uma America’s Liberators!!!

Imagem

Daqui a pouco, mais precisamente às 16 horas pelo horário de Brasília, passará ao vivo para todo o Brasil, através de dois canais de televisão, o confronto válido pelas semi-finais da Champions League entre as atuais potências Barcelona e Bayern de Munique, bases da Seleções Espanhola e Alemã, respectivamente, e times que polarizaram a atenção mundial pela qualidade do futebol mostrado nos últimos anos.

Qualidade essa inquestionável, diga-se de passagem.

A transmissão dessa fase da Champions aqui em Terras Brasilis já não é mais novidade. Se antes esse confronto ficava restrito apenas aos canais fechados especializados em esporte, de um tempo pra cá, não só essa fase do torneio, mas o campeonato em si tem sido transmitido na TV aberta do país, com as devidas reportagens antes e pós jogos, além da insistente promoção da transmissão.

Efeitos do mundo globalizado. Será?

Da mesma forma que se tornou comum ver esses jogos, do principal torneio de clubes da Europa, também se tornou comum ver camisas desses times circulando nos mais diversos locais e cidades do país. Camisas do Barça, do Real e do Milan são as mais comuns, mas também é possível acharmos camisas de times que nem sabíamos que existiam. 

Se você for a algum condomínio de classe C e B em São Paulo, por exemplo, talvez se assuste com uma constatação: as camisas de times Europeus já são mais comuns nos corpos de meninos com menos de 15 anos, do que a de times brasileiros.

Da mesma forma vem acontecendo com as Seleções. Uma vez, ao ver um colega com um casado da Espanha, questionei a ele por que ele usava aquele casaco ao invés de utilizar um da Seleção Brasileira. A resposta veio de bate-pronto: “Porque eles são a melhor Seleção do mundo!”.

Nem o argumento de quê a Seleção Brasileira detém 5 vezes mais títulos mundiais que a Espanhola não foi suficiente para fazê-lo perceber a besteira que tinha dito. A Seleção Espanhola pode ser a que joga o melhor futebol hoje, mas não é a melhor do mundo! Eles têm que comer muito arroz com feijão para alcançar esse feito! Muito…

Mas não alonguei o assunto, até porquê cada um veste aquilo que quer, e ele não tem culpa de pensar o que pensa.

A culpa é dos dirigentes do nosso futebol.

A internacionalização de nossa torcida vem acontecendo de forma gradual e paulatina nos últimos 15 a 20 anos. 

Ainda não chega ao estágio de roubar torcedores dos times nacionais, certamente que não. Mas é um fenômeno que deveria ser analisado com mais intensidade pelos dirigentes de clubes e federações do país. 

Hoje para um Corinthians, um Flamengo, um Grêmio ou um Sport Recife isso pode não fazer tanto efeito, até porque nossos dirigentes já estão acostumados com a “esmola” que seus clubes conseguem arrecadar. 

Mas, à partir do momento que um garoto de 12 anos prefere comprar uma camisa do Real Madrid, um jogo de vídeo-game que tenha a Liga Inglesa, ou assistir uma semi-final de Champions ao invés de comprar uma camisa do São Paulo, de exigir um jogo de vídeo-game com times do seu país, ou de assistir uma semi-final da Libertadores, podemos começar a perceber que os hábitos de consumo relacionado ao futebol desse garoto, quando homem, poderão ser mantidos ou ampliados, como acontece com qualquer torcedor e consumidor do mundo.

Perceber que essa garotada de hoje está tendo muito mais afinidade com o que vem de fora e, além disso, agir contra essa situação, deveria ser prioridade zero para os dirigentes de nosso futebol. 

A perda de receita que já está acontecendo, quando um garoto pede ao pai uma camisa do Manchester no lugar de uma do Flamengo, deveria preocupar e muito aqueles que querem um futebol brasileiro cada vez mais fortalecido.

Sem falar na nossa Seleção que, como já disse aqui em outras oportunidades, está completamente sem identificação com nosso torcedor. Esperem e verão, já na Copa das Confederações, uma torcida com pouca afinidade com seus atletas, com sua Seleção.

Não quero nem ver como vai ser na Copa do Mundo.

Deter e diminuir os efeitos desse processo é possível. Para isso, o primeiro passo seria os dirigentes do nosso futebol entenderem que o maior rival de seu clube não é o adversário em campo, mas todas as outras opções de lazer que podem roubar a atenção dos torcedores, e consequentemente seu dinheiro.

Como diz o Erich Beting, o maior rival do Corinthians não é o Palmeiras. É o cinema!

Eu incluiria, se o Beting me permitisse, a constante internacionalização da torcida brasileira nesse rol de rivais.

Imagem

Dentre as muitas críticas que a organização da Copa do Mundo de 2014, em terras brasilis, tem recebido, uma delas chama  a atenção não só pelo gasto de dinheiro público mas, principalmente, por não se saber o que fazer depois da Copa.

São os chamados elefantes brancos!

Estádios grandiosos em locais em que o futebol tem pouco, ou nenhum, apelo. Das 12 cidades-sede 4, ou para quem é bom em matemática 1/3, se encaixam nesse perfil.

Não que as demais terão seus estádios utilizados em sua plenitude, não é isso.

Mas Cuiabá, Brasília, Natal e Manaus vão possuir, após julho de 2014, verdadeiros monumentos à nossa incompetência administrativa e política. Estádios modernos, bonitos, confortáveis e gigantes, muito gigantes.

Se você pegar, por exemplo, a média de público dos times dessas cidades em seus campeonatos estaduais, na Copa do Brasil e nas quatro divisões do Campeonato Brasileiro (para aqueles que chegam a disputar essas duas últimas competições) verá que os estádios são realmente desproporcionais para o público que é atraído pelos times que irão utilizá-los.

Sei que, por outro lado, o Maracanã não vive cheio todo jogo. Tão menos o Mineirão, a Fonte Nova e possivelmente nem o Itaquerão viverá. O que também é para se pensar.

Mas esses quatro estádios viverão vazios. Completamente vazios.

E qual seria a solução branca, já que o elefante tem essa cor?

Bem, poderíamos pensar em demolir os estádios, como será feito no Catar, que tem uma média de público em seu campeonato nacional tão boa quanto a média de público do Campeonato Amazonense. 

Porém lá é lá e aqui isso iria repercutir muito mal para os nossos políticos, principalmente em ano de eleição presidencial. Ou alguém aí imagina a Dilma apertando o botão do detonador do estádio Mané Garrincha em plena campanha pela reeleição?

Impossível.

Fazer com que os times dessas cidades atraiam mais público também parece ser bem impossível. Não é só o estádio que atrai público, embora eu ache que, nos grandes centros, vai haver um aumento na média de público dos campeonatos por conta desses estádios novos. Mas nessas cidades isso certamente não irá fazer muito efeito.

Uma ideia seria alterar o regulamento da Copa do Brasil, fazendo com que a final seja disputada em um jogo apenas, numa sede pré-definida, assim como é a Champions League, por exemplo. E utilizar esses estádios para essas finais.

Mas só isso não bastaria.

Pode-se fazer, então, com que cada um dos doze principais times do país, aqueles que realmente atraem a atenção e interesse do público por onde passam, mandassem ao menos uma partida sua no Campeonato Brasileiro (seja a divisão que fosse) de cada ano em um desses estádios.

Para os times isso pode ser interessante, uma vez que tal ação pode ajudar na captação de torcedores nessas cidades, e conseqüente aumento de renda indireta. A CBF poderia também incentivar os times a fazerem isso, bancando passagem e hospedagem nas cidades donas dos elefantes brancos, tentando dar alguma movimentação e razão para mantê-los de pé.

Sei que isso também seria muito pouco. Cada uma das quatro cidades iria receber, no máximo, três jogos de maior importância. 

Mas já é algo melhor do quê aquilo que se prevê.

A dona CBF poderia também começar a marcar amistosos para a Seleção em nossos estádios, agora muito mais modernos. Foi a política de jogar por dinheiro, sempre fora de casa, que acabou afastando ainda mais o brasileiro de sua Seleção.

Mas eu sei que nem assim o problema todo estaria resolvido.

Vejo muita gente por aí criticando a construção desses estádios. Eu também fui contra essa construção. Na minha opinião a Copa deveria ser disputada nos grandes centros do futebol no país, e mais nada. 

Mas já que os elefantes já estão aí, nos resta agora sugerir solução para a vida deles daqui pra frente.

E que seja uma solução branca, da cor dos nossos elefantes!

Quem acordou hoje de manhã e ligou a sua televisão na rede Globo pôde ver a um belo, belíssimo jogo de vôlei feminino. Tratava-se da final da hiper-competente Liga Feminina de Vôlei, que assim como a Liga Masculina, é extremamente  bem organizada.

Organização essa que já traz muitos frutos ao vôlei brasileiro, campeoníssimo mundo afora, e sinônimo de qualidade.

Muito disso se deve a um fator em especial: a grande maioria dos times, se não todos, é gerido por alguma empresa. O Rio, por um exemplo, campeão na manhã de hoje e que conta com ninguém menos  que o Bernardinho como seu técnico, é gerido pela Unilever, uma puuuuta empresa. O Osasco, que foi vice, antes era gerido pelo Bradesco e atualmente é gerido pela Nestlé. Alguma dúvida na competência dessas três empresas? Não, né?

Já no futebol, principalmente na década de 90 por causa da parceria Palmeiras-Parmalat, que em nada se parecia com essas parcerias do vôlei, muito se falava de transformar os clubes brasileiros em empresas, e até alguns craques do passado chegaram a abrir seus próprios times, que acabaram não dando em nada.

Mas agora, em 2013, isso aparentemente começa a mudar.

No estadual do Rio, por exemplo, temos o Audax-RJ, time do Grupo Pão de Açúcar, que está disputando pela primeira vez a principal divisão do  Campeonato Carioca. Ainda tem chances matemáticas de se classificar para a fase semi-final da Taça Rio, mas creio que não conseguirá esse feito. Ao menos não nesse ano.

E em São Paulo, que ainda não conta com nenhum clube com essa característica na principal divisão do estadual, temos na Série A2 (segunda divisão) dois clubes com eminentes chances de conseguir o acesso para a primeira divisão de 2014.

São eles: o Audax-SP (que não é uma simples coincidência no nome) e o Red Bull Brasil, time mantido pela marca de bebidas que mais tem investido em esportes no mundo inteiro.

Ao serem geridos profissionalmente esses três times possuem uma grande chance de, ao menos, fazer frente à maioria dos times pequenos e médios do nosso país. Times com apelo mais regional do que nacional podem e possivelmente serão deixados para trás por esses três times.

Quanto tempo isso pode levar? Não sei, não sou adivinho. Mas uma vantagem muito grande esses times já tem: dinheiro. E quando eles começarem a dar lucro, mas lucro de verdade mesmo, aí meus amigos, podem ter certeza que as empresas vão investir mais ainda neles.

Ok, mas será que o futebol é só isso? Será que basta ter um “pai” rico que o time crescerá e vencerá no futebol?

Quantos e quantos times que por algum tempo foram mantidos por suas prefeituras, ou por políticos, e que depois sumiram do mapa? Vejam os casos de São Caetano e Brasiliense, por exemplo, que por um tempo ganharam espaço na mídia, notoriedade, até alguns títulos e depois sumiram.

Mas, se dá certo no vôlei, por quê não dar certo no futebol?

Arrisco a dizer que o sucesso é mais garantido no esporte das quadras porque o brasileiro se acostumou com essa característica nesse esporte. Ou no basquete. Mas será que nos acostumaríamos com isso no futebol?

Campinas, por exemplo, que tem dois clubes de tradição dentro do estado, tendo o Guarani até conquistado co título do Brasileirão de 1978. Há espaço para o RB Brasil lá?

Vamos ter que ver se esses clubes vão mesmo se firmar e começar a conquistar espaço e títulos no futebol brasileiro, sinalizando que esse será o futuro do nosso futebol, ou se será apenas mais uma onda que irá passar.

Dinheiro e organização para se firmarem eles aparentemente têm. Resta saber se terão torcida…

ciclo_projeto_pesquisa

Periodicamente vemos na imprensa esportiva brasileira algumas pesquisas sobre o tamanho das torcidas dos principais clubes de futebol.

Para os torcedores esse é sempre um tema polêmico, pois nunca queremos ver o nosso time atrás daquele rival, seja na tabela de classificação do campeonato, seja num Ranking, seja numa pesquisa sobre torcidas.

E, nesse último aspecto em especial, a conversa de bar esquenta quando um torcedor tira sarro de outro por estar na frente em tal pesquisa.

Mas, para o futebol em si, qual é a importância dessas pesquisas?

Bem, da forma que elas são realizadas eu acredito que os seus resultados não possuem quase que importância nenhuma.

Na última pesquisa, por exemplo, realizada por uma empresa de consultoria esportiva, o fator que mais chamou a atenção da mídia e das redes sociais foi o fato do Palmeiras ter sido ultrapassado pelo Vasco da Gama no posto de quarta maior torcida.

E?

Exatamente qual é o impacto disso para um clube? Qual o impacto para o Palmeiras ou para o Vasco?

Nessa pesquisa, em que novamente é mostrado que o percentual de pessoas que não torcem para nenhum time é maior do que o percentual da maior torcida (a do Flamengo), a abrangência foi boa, tendo alcançado 146 municípios brasileiros e pouco mais de 21 mil torcedores acima dos 16 anos.

Mas ainda é muito pouco se compararmos ao tamanho do país e, principalmente, aos interesses dos clubes.

Para tirar informações importantes de uma pesquisa como essa, e todos que já estudaram ou trabalham com marketing sabem que é muito importante saber e conhecer cada vez mais sobre o seu público atual e alvo, essas pesquisas deveriam ser mais completas e abrangentes, buscando a fundo as informações que mais importam nesse caso.

Os maiores clubes brasileiros poderiam, por exemplo, contratarem juntos um instituto de pesquisa para mapear não só o tamanho das torcidas, mas qual a sua relação com os clubes.

Por exemplo: de nada adianta ao Flamengo ter 30 milhões de torcedores se apenas 5 milhões consomem produtos e serviços relacionados ao clube. Essa vantagem no número não se reflete na qualidade dos seus torcedores.

Juntando os maiores clubes seria possível financiar uma pesquisa que abrangesse, pelo menos, 0,1% da população brasileira, algo em torno de 200 mil entrevistados, perguntando  não só o time de coração bem como qual o tipo de relação que se mantém com esse time.

Distribua essa pesquisa proporcionalmente, de acordo com o percentual de população das, sei lá, 200 maiores cidades do país, tentando identificar essa massa de consumidores não só nas capitais, mas também no interior do Brasil.

Perguntas do tipo: qual o seu nível de relacionamento com seu time? Qual o seu gasto mensal com produtos e serviços relacionados ao seu time? Que tipo de produtos você gostaria de ter acesso e não tem? Caso você não torça para nenhum time, qual o motivo dessa opção?

As pesquisas da forma que são feitas atualmente pouco atendem às necessidades de gestão de marketing dos clubes. Trazem números e mais nada.

Da forma que estão elas só servem para ver quem tem a maior… torcida, caros leitores, maior torcida!