O paradoxo de um Campeão!

Posted: 14/11/2012 in Uncategorized

Dono de uma campanha irrepreensível, o Fluminense conquistou o título do Campeonato Brasileiro de 2012 com três rodadas de antecedência.

Nos 35 jogos disputados o time dos craques Deco, Fred, Thiago Neves e Diego Cavalieri venceu “apenas” 22 vezes, tendo empatado outras 10 e, pasme, sendo derrotado apenas em três oportunidades.

O Tricolor Carioca conta com um elenco de fazer inveja, além de ter no seu banco de reservas um dos técnicos mais experientes e valorizados do atual cenário brasileiro: Abel Braga.

Além disso, devemos lembrar que nos dois Campeonatos Brasileiros anteriores o Flu foi campeão de um e terceiro colocado em outro. Sem contar os desempenhos recentes em outros torneios, como o título da Copa do Brasil de 2007 e os vices-campeonatos na Libertadores (2008) e Sul-Americana (2009).

O Tricolor tem, por exemplo, o segundo melhor desempenho em nosso Ranking se contarmos apenas de 2007 pra cá, ficando atrás somente do Santos. Isso mesmo. Se isolarmos apenas os anos de 2007, 2008, 2009, 2010, 2011 e o atual, o Flu sai da 10a. colocação para a vice liderança.

Pois é, realmente o Fluminense vive uma época áurea e seu torcedor deve-se orgulhar dela.

Porém, e como para tudo na vida há um porém, o Tricolor carioca não conseguiu tudo isso sozinho. Se olharmos atentamente a história do time das Laranjeiras, principalmente nos 15 últimos anos de vida do clube, veremos que essa situação não foi conquistada apenas por esforços próprios.

Se olharmos até sem atenção para as camisas do Flu nessa época, perceberemos que um nome também tem brilhado em todas essas conquistas: o da operadora de saúde Unimed.

Clube e empresa firmaram um contrato de patrocínio, que depois se transformou em parceria, no ano de 1998, quando o Tricolor amargava a queda para a Série C do Brasileirão (isso, a terceira divisão) e o presidente da empresa, Fluminense roxo de coração, propôs uma cota de R$ 50 mil por jogo para estampar o nome da Unimed na camisa Tricolor.

De lá pra cá muitas transformações ocorreram na forma de atuação da parceria e, desde a quase queda para a Série B em 2009, a Unimed passou a gerir o departamento de futebol do clube, arcando com as despesas desse departamento (como folha salarial) e provavelmente ficando também com as receitas (informações essas nunca divulgadas por ambas as partes).

Parceria… mais uma! Já não bastava o exemplo da parceira Palmeiras/Parmalat (a menos pior que os clubes brasileiros firmaram até hoje) ou o detestável caso Corinthians/MSI, temos ainda em voga no futebol brasileiro a parceria Fluminense/Unimed.

E, dessa última, podemos até dizer que a sua eficiência em campo é questionável. Considerando o tempo de contrato, vamos ser bem sinceros, 2 títulos brasileiros é muito pouco para essas parcerias, não é mesmo?

Mas o problema não mora aí. É muito mais embaixo.

E o paradoxo, nesse caso, é que o clube Campeão Brasileiro de 2012 está afundado em dívidas (top 3 de maiores dívidas do futebol nacional), com uma das piores estruturas no departamento de futebol (sem estádio próprio, centro de treinamento para profissional) e com crescimento de receitas abaixo da média dos 12 maiores clubes do Brasil.

A dívida do Flu alcançou no final do ano passado a marca de R$ 405 milhões, sendo que o período entre 2009 e 2011 acumulou um prejuízo de R$ 110 milhões.

Ao mesmo tempo, a empresa que é parceira do Flu passou de quinta colocada no mercado onde atua para a liderança desse mercado. Hoje a Unimed é a maior empresa no ramo de planos de saúde do Brasil.

Vemos aí, mais uma vez, um caso em que a empresa ganha mais que o clube nesse tipo de parceria.

Fosse eu um torcedor do Fluminense certamente estaria preocupado. A presença da empresa no futebol Tricolor é tão forte que no avião que trazia os jogadores do Flu após a conquista do título no domingo passado podia se ouvir em alto e bom som o canto “Puta que pariu, é o melhor patrocínio do Brasil. Unimed!”.

Com constante investimento em jogadores caros, já com fama e bagagem, e pouco investimento em estrutura, na base, na revelação de jogadores, o Flu corre um grande risco de depender a tal ponto do parceiro que acabará sucumbindo a qualquer exigência que a empresa faça no futuro. Essa situação está tão próxima de acontecer que, em entrevista ao programa do Jorge Kajuru, o atual presidente do clube disse que o clube poderia vir a falir caso a empresa findasse a parceria.

Além disso, essa situação pode, em paralelo, desenvolver uma dependência dos seus dirigentes ao dinheiro alheio tão grande que, quando acabar a parceria, vir a acontecer como aconteceu com Corinthians (que aceitou dinheiro sujo da máfia Russa) ou Palmeiras (que até hoje sofre pelo término da sua parceria e vai cair novamente para a Série B do Brasileirão).

E como vai ficar a situação do clube quando a empresa não puder mais arcar com o seu departamento de futebol?

Bem, acho que aí o caminho vai ser voltar ao ano de 1999 e disputar novamente a Série C do Brasileirão.

As informações constantes nesse post foram consultadas nas seguintes páginas: Jornal ExtraESPN Brasil e Kajuru Pergunta (Youtube).

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