A internacionalização da torcida

Posted: 23/04/2013 in Uncategorized
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Daqui a pouco, mais precisamente às 16 horas pelo horário de Brasília, passará ao vivo para todo o Brasil, através de dois canais de televisão, o confronto válido pelas semi-finais da Champions League entre as atuais potências Barcelona e Bayern de Munique, bases da Seleções Espanhola e Alemã, respectivamente, e times que polarizaram a atenção mundial pela qualidade do futebol mostrado nos últimos anos.

Qualidade essa inquestionável, diga-se de passagem.

A transmissão dessa fase da Champions aqui em Terras Brasilis já não é mais novidade. Se antes esse confronto ficava restrito apenas aos canais fechados especializados em esporte, de um tempo pra cá, não só essa fase do torneio, mas o campeonato em si tem sido transmitido na TV aberta do país, com as devidas reportagens antes e pós jogos, além da insistente promoção da transmissão.

Efeitos do mundo globalizado. Será?

Da mesma forma que se tornou comum ver esses jogos, do principal torneio de clubes da Europa, também se tornou comum ver camisas desses times circulando nos mais diversos locais e cidades do país. Camisas do Barça, do Real e do Milan são as mais comuns, mas também é possível acharmos camisas de times que nem sabíamos que existiam. 

Se você for a algum condomínio de classe C e B em São Paulo, por exemplo, talvez se assuste com uma constatação: as camisas de times Europeus já são mais comuns nos corpos de meninos com menos de 15 anos, do que a de times brasileiros.

Da mesma forma vem acontecendo com as Seleções. Uma vez, ao ver um colega com um casado da Espanha, questionei a ele por que ele usava aquele casaco ao invés de utilizar um da Seleção Brasileira. A resposta veio de bate-pronto: “Porque eles são a melhor Seleção do mundo!”.

Nem o argumento de quê a Seleção Brasileira detém 5 vezes mais títulos mundiais que a Espanhola não foi suficiente para fazê-lo perceber a besteira que tinha dito. A Seleção Espanhola pode ser a que joga o melhor futebol hoje, mas não é a melhor do mundo! Eles têm que comer muito arroz com feijão para alcançar esse feito! Muito…

Mas não alonguei o assunto, até porquê cada um veste aquilo que quer, e ele não tem culpa de pensar o que pensa.

A culpa é dos dirigentes do nosso futebol.

A internacionalização de nossa torcida vem acontecendo de forma gradual e paulatina nos últimos 15 a 20 anos. 

Ainda não chega ao estágio de roubar torcedores dos times nacionais, certamente que não. Mas é um fenômeno que deveria ser analisado com mais intensidade pelos dirigentes de clubes e federações do país. 

Hoje para um Corinthians, um Flamengo, um Grêmio ou um Sport Recife isso pode não fazer tanto efeito, até porque nossos dirigentes já estão acostumados com a “esmola” que seus clubes conseguem arrecadar. 

Mas, à partir do momento que um garoto de 12 anos prefere comprar uma camisa do Real Madrid, um jogo de vídeo-game que tenha a Liga Inglesa, ou assistir uma semi-final de Champions ao invés de comprar uma camisa do São Paulo, de exigir um jogo de vídeo-game com times do seu país, ou de assistir uma semi-final da Libertadores, podemos começar a perceber que os hábitos de consumo relacionado ao futebol desse garoto, quando homem, poderão ser mantidos ou ampliados, como acontece com qualquer torcedor e consumidor do mundo.

Perceber que essa garotada de hoje está tendo muito mais afinidade com o que vem de fora e, além disso, agir contra essa situação, deveria ser prioridade zero para os dirigentes de nosso futebol. 

A perda de receita que já está acontecendo, quando um garoto pede ao pai uma camisa do Manchester no lugar de uma do Flamengo, deveria preocupar e muito aqueles que querem um futebol brasileiro cada vez mais fortalecido.

Sem falar na nossa Seleção que, como já disse aqui em outras oportunidades, está completamente sem identificação com nosso torcedor. Esperem e verão, já na Copa das Confederações, uma torcida com pouca afinidade com seus atletas, com sua Seleção.

Não quero nem ver como vai ser na Copa do Mundo.

Deter e diminuir os efeitos desse processo é possível. Para isso, o primeiro passo seria os dirigentes do nosso futebol entenderem que o maior rival de seu clube não é o adversário em campo, mas todas as outras opções de lazer que podem roubar a atenção dos torcedores, e consequentemente seu dinheiro.

Como diz o Erich Beting, o maior rival do Corinthians não é o Palmeiras. É o cinema!

Eu incluiria, se o Beting me permitisse, a constante internacionalização da torcida brasileira nesse rol de rivais.

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