Histórias de Torcedor #001 – Silêncio Absoluto

Posted: 03/02/2014 in Uncategorized
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Como prometido no primeiro post de 2014, vou inaugurar hoje a seção Histórias de Torcedor, onde eu vou relatar algumas das histórias mais interessantes vividas não só por mim, mas por quem também quiser participar enviando as suas histórias e experiências.

Se você quiser mandar também a sua história de torcedor, veja no perfil do autor do blog o e-mail para contato. Não serão publicadas histórias com qualquer tipo de conteúdo agressivo ou que, obviamente, não tenham nada a ver com futebol.

Então vamos lá, vamos à primeira História de Torcedor do Blog FTB:

2008 começou como um ano muito estranho pra nós, torcedores Corinthianos.

Não era pra menos, o nosso Timão havia sido rebaixado no Brasileirão de 2007, naquela que fora a pior derrota que nós sofremos dentro de campo.

Acredito que nem a perda do título do Paulista de 1974 para o nosso arquirrival Palmeiras, quando o Timão estava há 20 anos sem conquistas, não fora tão dolorida para o Alvinegro. Não sei.

Mesmo assim, nosso orgulho de sermos Fiéis foi novamente demonstrado, quando o marketing do Timão lançou a camiseta “Eu Nunca vou te Abandonar” e a torcida Corinthiana fez dela um manto no apoio ao time naquele ano de 2008.

Nesse sentimento eu e meu primo combinamos de irmos ao estádio acompanhar o Timão na maioria dos jogos que pudéssemos ir.

E fomos.

Estivemos, por exemplo, no primeiro jogo do Timão daquele ano, contra o Guarani pelo Paulista, quando ganhamos por 3×0.

Mas essa História de Torcedor não se refere a este jogo.

Naquele ano, o primeiro da reconstrução do Timão, o campeonato mais importante que o Corinthians disputaria seria a Copa do Brasil. Passamos por Barras-PI, Fortaleza, Goiás (no memorável jogo da uva-verde) e São Caetano, até chegarmos nas semifinais.

O primeiro jogo, contra o Botafogo no Rio de Janeiro, uma derrota. 2×1 para os cariocas deixou o jogo de volta com um quê de drama Corinthiano.

Lógico que eu e o Daniel quisemos estar nesse jogo. Fomos, mas não só nos dois. Meu irmão Leonardo e um ex-colega de empresa foram também conosco.

Eu, o primo e o irmão, na entrada do Morumbi para o confronto contra o Botafogo.

Eu, o primo e o irmão, na entrada do Morumbi para o confronto contra o Botafogo.

Morumbi lotado, estávamos lá mais de 60 mil vozes empurrando o Timão para cima do Fogão. Jogo de Alvinegros, pra não dizer jogo de desesperados.

Depois de um 0x0 no primeiro tempo que nos deixava mais tensos, saímos na frente com um gol de Acosta (lula-molusco) antes dos 10 primeiros minutos do segundo tempo.

Festa no Morumbi.

Esse era o gol da classificação, que daria a redenção para qualquer Corinthiano.

Precisávamos ver nosso Timão dando uma resposta desse tipo ao cruel deus dos estádios, responsável máximo por nossa queda para a Série B.

Mas não foi tão fácil.

Dois minutos depois o bom time Botafoguense empatou, com um gol do zagueiro Renato Silva. Foi o primeiro momento que ouvimos a torcida do Botafogo, obviamente em menor número, cantar mais alto do que a nossa.

Mais sofrimento a vista.

Até que, aos 20 minutos do segundo tempo, o zagueiro Chicão, recém-chegado ao Parque São Jorge, bateu uma falta com perfeição levando a disputa para os pênaltis.

Dali em diante o sofrimento foi mútuo, até o apito final do árbitro.

Pronto. Tudo seria decidido nas malditas cobranças de pênalti.

E decisão por pênalti você sabe como é, né? Tudo quanto é mandinga, amuleto, reza brava, vale nessa hora.

O Timão começou a disputa e bateu suas cinco cobranças com precisão, não tendo errado nenhuma penalidade.

O Glorioso também não deixava por menos, e convertia cada uma das cobranças que tinha por fazer.

Até que chegou a última cobrança do Fogão.

Se o meia Zé Carlos convertesse, teríamos a continuidade da disputa com cobranças alternadas de uma em uma.

Se perdesse, o Timão estaria na quarta final de Copa do Brasil de sua vida.

No momento em que o meia tomou distância para cobrar eu não aguentei e me ajoelhei na arquibancada, dando as costas para o gramado, e colocando as mãos na frente da minha face, numa típica posição de oração.

Mas não, eu não estava orando.

Principalmente porque eu acho que Deus tem coisa muito melhor para cuidar, do que uma simples penalidade.

Eu estava torcendo e, principalmente, sofrendo.

A torcida Corinthiana fazia um barulho ensurdecedor, assoviando e gritando com o intuito de atrapalhar a cobrança do meia carioca.

O famoso “Sai Zica!” era ouvido em todas as vozes, todos os tons, todos os sotaques.

Mas, eis que de repente um silêncio sepulcral se fez no Morumbi.

Certamente quem estava com os olhos voltados para o gramado, para a cobrança, não deve ter percebido.

Mas eu percebi.

Do momento que o meia Botafoguense bateu o seu pé na bola, até ela resvalar na mão do goleiro Felipe (que havia falhado no gol que deu o empate aos cariocas) e depois se espatifar na trave, acredito que não se passaram nada além de 2 segundos.

E foi nesse tempo que eu, ali ajoelhado, ouvi os assovios e gritos se calarem.

Por um mísero instante eu percebi o Morumbi em Silêncio Absoluto, mesmo tendo mais que 60 mil pessoas lá dentro.

Até a explosão de alegria.

Que veio acompanhada de vários abraços, gritos e, por que não, lágrimas de emoção.

Não amigos, eu não vi o goleiro Corinthiano defendendo o pênalti.

Mas eu ouvi o que mais ninguém naquele estádio ouviu.

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