A marca de uma instituição, seja ela de qual ramo for, é como o nome de uma pessoa: nada é mais importante.

Porém, uma marca, quando bem consolidada e divulgada, diz muito mais sobre aquela instituição do que apenas o seu nome.

Ela diz como a instituição quer ser reconhecida, qual posicionamento ela quer ocupar no mercado em que atua, quais são os seus clientes, enfim, ela diz praticamente tudo sobre a determinada instituição.

No mundo corporativo vemos constantemente essa preocupação das empresas com a sua marca. Nike, Coca-Cola, IBM, Microsoft são algumas das gigantes globais que mais prezam pela boa imagem da sua marca.

Algumas empresas, como o Mc Donald’s, por exemplo, enfrentam resistência de uma parte da sociedade e têm que fazer um trabalho constante para manter o nome de sua marca como algo positivo na mente do mercado consumidor.

É uma luta diária.

Como é, também, a luta de um clube de futebol por angariar cada vez mais torcedores e, principalmente, transformá-los em consumidores.

De nada adianta para o Grêmio, por exemplo, ter a maior torcida do Rio Grande do Sul se o seu rival é que tem o maior mercado consumidor (mais torcedores pagantes do programa de sócio-torcedor, mais vendas de camisas, de produtos licenciados, mais audiência nos jogos transmitidos e maior venda no pay-per-view).

Certamente, no exemplo acima, o Inter terá mais receita do que o Grêmio, mesmo que o último tenha mais torcedores.

Por isso a preocupação com a marca do clube deve ser uma constante na cabeça dos dirigentes dos nossos clubes.

O Cruzeiro já proibiu suas torcidas de usarem a marca do clube. Não está na hora de outros times seguirem esse exemplo?

O Cruzeiro já proibiu suas torcidas de usarem a marca do clube. Não está na hora de outros times seguirem esse exemplo?

E, talvez por terem essa preocupação, os dirigentes do Cruzeiro tenham tomado a decisão de proibir as torcidas organizadas do clube (Máfia Azul e Pavilhão Independente) de utilizarem a marca do Cruzeiro. Essa decisão, tomada no final do ano passado, teve como principal pano de fundo as confusões criadas por membros dessas torcidas em jogos do Brasileirão 2013 (um contra o rival Atlético Mineiro e outro no jogo da festa do título, em pleno Mineirão).

Imaginem o quanto deve ter sido difícil para esses dirigentes a tomada dessa decisão. No mundo do futebol, ao contrário do mundo corporativo, existe o quesito paixão, que pode ser transformado em violência na cabeça dos mais ignorantes, e que pode fazer com que uma medida tão impopular seja impedida de ser tomada.

Ontem, outro presidente de um grande clube foi questionado sobre essa possibilidade. Mário Gobbi, presidente do Corinthians, em sua entrevista coletiva disse não ter poder para decidir isso sozinho, que o Corinthians tem seu Conselho Deliberativo e que este deve ser consultado com relação a essa decisão.

Ok.

Mas ele se ele não tem poder para decidir isso sozinho, certamente tem poder para influenciar a decisão do Conselho do clube. Certamente, também, ele tem poder para ao menos colocar esse assunto em pauta, dado a sua importância e gravidade.

O Corinthians vem trabalhando nos últimos anos não só para conquistar títulos, mas também para construir uma imagem de time vencedor e de clube organizado (sei). Porém, para conseguir construir essa imagem uma decisão muito séria e drástica deve ser tomada pela diretoria do clube com relação às torcidas organizadas.

Vejam o exemplo do Vasco, que perdeu o seu contrato de patrocínio com a Nissan depois da guerra campal que a torcida do clube se envolveu na última rodada do Brasileirão 2013, no jogo contra o Atlético Paranaense.

A matriz da montadora que influenciou nessa decisão, uma vez que a briga campal vai totalmente contra os valores da empresa e arranha, sim, a sua imagem.

Prejuízo de R$ 7 milhões por ano, por 4 anos.

O Vasco pode até arranjar outro patrocinador no lugar da Nissan. Certamente arranjará. Mas a imagem do clube já foi arranhada perante aquela empresa, e perante a todos aqueles que podem ser influenciados pelos gestores da empresa.

E você pode dizer até que proibir o uso da marca pelas torcidas organizadas não vai desviculá-las totalmente dos clubes.

Pode ser.

Mas o que é certo é que é tudo questão de imagem.

E enquanto os clubes brasileiros continuarem suas relações promíscuas com essas torcidas organizadas, quem vai mais sofrendo é a imagem do Futebol em Terras Brasilis.

Comentários
  1. Bebeto diz:

    Texto muito bom…. gostaria de levantar três temas aqui em meu comentário…

    Tenho uma visão um pouco diferente com relação as torcidas organizadas..
    A meu ver, a questão e muito maior q td oq e discutido… As torcidas são de extrema importância para os times e principalmente o espetáculo… Dão apoio, cobram da diretoria, são elas que criam as musicas cantadas na arquibancada, q embalam o time e valorizam o espetáculo… O grande problema e a ignorância (citada no texto), impunidade (alguns torcedores corinthianos presos na Bolívia já se envolveram em pelo menos 2 eventos de violência após o ocorrido), falta de educação e impunidade (falando de imediatismo, o principal)… Na Inglaterra, uma legislação e fiscalização eficiente controlou os hooligans… Concordo com o ponto em q e necessário desvincular as marcas dos times das torcidas e acabar com a promiscuidade em suas relações, pois quem colabora com uma instituição q comete atos criminosos nada mais e q cúmplice, porém sou contra o fim das torcidas, vejo o caminho como outro, como cobrar das autoridades em todos os aspectos e fazer sua parte… (Ps. Uma torcida q gosto de citar como e exemplo e a URUBUZADA do meu mengao, q nao tem a “tropa de guerra”)

    Com relação a valorização das marcas, texto impecável…. Do meu pont de vista, nada a acrescentar nem ponderar….

    Outro pont interessante que poderia ser aborado, derrepente em outro tópico, e a valorização da marca da liga… (Nao temos uma liga, mas temos um campeonato fortíssimo.. Queria dizer liga nesse sentido)
    Já disse q acho esse formato injusto e inadequado a nossa realidade, mas há de convir, q independente de qq coisa, no ranking da IFSHH (acho e isso, rs) somos o quinto campeonato do mundo, porém em termos de lucro, apenas o 9º… E dou minha a cara a tapa q os times recebem apenas uma pequena parcela disto, mas tb e tema pra outro tópico…

    Enfim, mais um bom texto… Ótimo blog…

    • Bebeto diz:

      Apenas a título de curiosidade, com relação ao meu terceiro ponto, a NFL, uma das principais ligas do mundo, tem TODOS os seus times entre as maiores marcas esportivas do mundo e a segunda liga inglesa a 10ª mais rentável do mundo (isso msm, uma liga de segunda divisão ente as top 10… )

      Isso mostra a importância da valorização do coletivo forte, sem politicagem e sem um passar a perna no outro…

      • Bebeto,

        Muito obrigado pelos seus comentários e, principalmente, pelos elogios.

        Sinceramente não vejo as torcidas organizadas com olhos tão bons quanto os seus, salvo raros casos, quem veste uma camisa de torcida organizada se sente no direito a tudo dentro de um estádio. Mas respeito a sua opinião, até porque não conheço nem 1% das torcidas existentes no país.

        Com relação à marca da competição, apesar de não ter abordado no meu texto, entendo que as análises aqui feitas cabem perfeitamente a elas também. Não basta termos o 5o campeonato mais disputado do mundo (no que eu discordo completamente, pra mim o Brasileirão é o mais difícil campeonato do planeta) se a nossa receita com patrocínios dos campeonatos perde para a da segunda divisão inglesa, como você disse.

        Mas, para conseguirmos esse patamar, o trabalho tem que começar pelos clubes, de baixo para cima, e não ao contrário.

        Enquanto não tivermos os dirigentes dos nossos clubes com essa mentalidade, dificilmente eles elegerão dirigentes de federações e da CBF que pensem assim.

        Aproveito para te convidar a curtir a nossa página no FB, que aí você não dependerá da minha disponibilidade de tempo para compartilhar os conteúdos nos grupos de discussão, coisa que nem sempre faço.

        Um abraço.

        Marcelo

Comente esse post: