De qual clássico estamos falando mesmo?

Posted: 24/03/2014 in Uncategorized
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Os principais jornais, os principais portais e blogs e os principais programas esportivos da nossa mídia estão dando destaque hoje ao grande clássico que tivemos nesse final de semana.

E, dizem, foi um jogão!

Eu não vi, mas acredito que tenha sido mesmo, afinal o placar final do confronto foi 4×3. E um jogo com 7 gols deve mesmo ser considerado um jogão.

O único problema que eu vejo nisso é que o tal grande clássico não foi o Santos x Palmeiras pelo campeonato paulista, tão menos o Náutico x Santa Cruz pelo campeonato pernambucano e quanto menos o Paysandu x Remo, pela Copa Verde, todos ocorridos no Futebol em Terras Brasilis.

Não.

O grande clássico a que todos tem dado uma enorme atenção foi Real Madrid x Barcelona, pelo campeonato espanhol.

É lógico que é impossível passar desapercebido por um jogo que envolve Messi, Cristiano Ronaldo, Neymar, entre tantos outros craques do futebol mundial, principalmente no mundo da informação globalizada em que vivemos.

Ok.

Mas daí a este jogo tomar o espaço de destaque em todas as mídias nacionais, como por exemplo ser foto de capa dos jornais Estado de São Paulo e Folha de São Paulo, vai uma distância muito longa.

E a culpa, ou responsabilidade, disso não é dos veículos de imprensa, que fazem o seu papel em dar destaque àquilo que mais atrai a atenção de seu público consumidor. A culpa, ou responsabilidade, é sim daqueles que administram o nosso futebol que a cada dia que passa está mais enfraquecido diante de outras opções de lazer.

Concomitantemente a isso, é lógico, existe todo o trabalho feito pela UEFA em fortalecer o seu produto, e o de suas ligas, nos mercados emergentes do futebol (lê-se principalmente Ásia).

Porém, em um país em que o futebol já é bem estabelecido, com um público bem formado, com times fortes capazes de fazer frente, ao menos dentro do campo, aos principais clubes Europeus, o efeito desse trabalho da UEFA deveria ser minimizado por um trabalho também bem eficiente de gestão de seus produtos (campeonatos), o que certamente não acontece.

É até injusto tentar comparar a atenção que um Santos 2×1 Palmeiras, com ambos já classificados para o chato Campeonato Paulista, pode atrair à um jogo deste porte.

Mas o fato é que, enquanto nossos times jogam campeonatos com pouquíssimo apelo, enquanto tratamos os torcedores como gado dentro e fora dos estádios, enquanto os dirigentes dos clubes acham que o “inimigo” é o clube rival e enquanto a violência e impunidade caminharem de mãos dadas no dia a dia do futebol, essa situação só tende a piorar.

Porque serão cada vez menos pais que levarão seus filhos aos estádios (dificilmente eu levarei minha filha em um), cada vez teremos mais crianças que gostam de futebol mas não se identificam com os clubes nacionais e, no longo prazo, cada vez teremos mais consumidores consumindo (com o perdão do pleonasmo) o futebol estrangeiro em detrimento ao nacional, como eu já escrevi uma vez.

Um grande exemplo disso é o fato da Globo ter colocado em sua programação, depois de muito tempo, a transmissão das fases eliminatórias da Champions League nas tardes de quarta-feira. O produto veio a calhar para a Globo, que devia ter uma audiência baixíssima para aquele horário (com as Sessões da Tarde e Malhações da vida) e passou a atender uma demanda cada vez mais latente.

Quanto tempo falta para o futebol Europeu entrar também na grade do final de semana da principal rede de televisão do país?

É lógico que esse é um processo lento, não será do dia para a noite que os grandes clubes brasileiros sofrerão seus efeitos, e até por isso que eu acredito que nada será feito. Mas, ao mesmo tempo que é lento, é constante. Cada vez estamos mais “invadidos” pelo velho mundo quando o assunto é futebol e isso pode chegar ao ponto de ser um processo sem volta.

Do jeito que a coisa anda, quando tivermos um clássico entre Santos x Palmeiras, possivelmente ouviremos as crianças do futuro perguntando: “De qual clássico estamos falando mesmo?”.

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