Arquivo de Março, 2014

A segunda história da série Histórias de Torcedor, diferente da primeira e de muitas que ainda certamente virão, não tem o autor do blog como seu principal personagem.

Na verdade, não sei se me coloco como um coadjuvante nessa história, ou apenas como uma testemunha dela.

O fato é que a história que irei relatar hoje trata de uma questão muito discutível quando o assunto é a escolha pelo seu time de preferência. Afinal, é possível trocar de time? É possível, depois de vestir o manto sagrado de uma cor passar a vestir a de um de seus maiores rivais?

Essa história prova que sim, é possível. Não só possível, como ela aconteceu.

O título não comemorado:

Lembro-me bem da noite de 16 de junho de 1999, mais precisamente da tensão vivida naquele fim de noite, começo de madrugada.

Estávamos no quarto do apartamento localizado no bairro da Aclimação, praticamente ajoelhados na frente da televisão, torcendo como se fosse nosso time que estava em campo.

Mas não era.

Era o principal rival de três dos quatro fanáticos torcedores que estavam ali. Principal rival que decidia pela terceira vez o maior título do continente, a tão sonhada Taça Libertadores da América.

Em campo, Palmeiras e Deportivo Cali disputavam para ver quem conquistava o título pela primeira vez.

Fora dele, mais precisamente ajoelhados na frente daquela televisão, no quarto do apartamento na Aclimação, três Corinthianos e um São Paulino secavam o time Alviverde, desejosos de ver o Parque Antárctica ficar silencioso após aquela disputa de pênaltis.

Mas não foi possível.

Ao chutar aquela última penalidade para fora, bem rente à trave direita do goleiro Marcos, o argentino Martín Zapata fez explodir de alegria a imensa torcida Alviverde, e fez calar a pequena secação (se é que essa palavra existe) mista de Alvinegros e Tricolores daquele quarto na Aclimação.

Lembro-me de ser abraçado pelo meu primo Luiz Filipe, o único São Paulino do quarto, que na maturidade dos seus quase 11 anos de vida me disse “Faz parte, Má”.

Luiz Filipe, ou Fi para esse “tio véio”, sempre foi um garoto acima da média. Muito inteligente, sensível, um pouco nojentinho naquela época, o Fi já era, desde a sua infância, alguém muito querido e admirado por mim.

O mais curioso é que, pouco tempo depois (não sei bem precisar quando) o Fi percebeu que torcer para o São Paulo era algo que ele fazia mais para agradar o seu pai, São Paulino de coração, do que para agradar a si mesmo.

Também percebeu que mudar de time para virar mais um Corinthiano na família (sua mãe e seus dois irmãos já o eram) seria lugar comum demais para ele, que sempre se destacou onde quer que estivesse por sua inteligência, esperteza e sagacidade.

Foi quando ele decidiu, para contrariar a todos, se tornar Palmeirense.

E enquanto a maioria de nós achava que era apenas uma forma de se rebelar, de chamar a atenção, sua mãe sempre falava: “Apesar da decepção, tenho certeza que ele não fez isso para chamar a atenção dos outros. Fez porque quis. Porque se sentiu melhor assim”.

E que baita torcedor o Palmeiras ganhou, hein?!?

Fi passou a acompanhar o Palmeiras, a sofrer pelo Palmeiras, a ser um Palmeirense nato, como se fosse descendente de italianos nascido no Bexiga.

É verdade que até hoje, desde que se converteu à Sociedade Esportiva Palmeiras, o meu primo mais sofreu do que sorriu. Fato esse que prova que não é apenas títulos e boas campanhas que nos faz torcer pelo time que for.

Se ele sofreu na conquista do título acima descrito, exatamente por torcer contra o Palmeiras, sofreu mais ainda quando o Palmeiras caiu para a Série B do Brasileirão já em 2002, pouco tempo depois da sua conversão. Sofreu também uma série de anos sem conquistas, até vibrar com o Paulistão de 2008, seu primeiro título como Palmeirense (quase dez anos após ele ter secado o Alviverde).

Ele também vibrou com a conquista da Copa do Brasil de 2012, mas continuou seu calvário alguns meses depois, quando viu, para alegria discreta de seus irmãos e mãe, o seu Palmeiras ser rebaixado mais uma vez.

Hoje morador de Campinas e bem distante dos seus dois irmãos (um em Bauru e outro em São Paulo), sempre que tinha um Corinthians x Palmeiras quando todos moravam sob o mesmo teto era a mesma rotina: os Corinthianos no andar de baixo e ele no andar de cima (ou vice-versa), sempre com a recomendação da mãe: “Não provoquem o Fi, ele fica nervoso pelo Palmeiras”.

É, o cara passou a ser mesmo fanático pelo Alviverde.

Não sei bem como isso deve funcionar na cabeça dele, mas acho que, mesmo tendo torcido contra o Palmeiras naquela final da Libertadores, ele se considera sim campeão do torneio continental. Afinal, quem já sofreu tanto por um time, como eu sei que ele sofre a cada jogo do Alviverde, merece ser perdoado por ter sido tão “mal” influenciado por esse fanático Corinthiano que vos escreve.

E eu espero que ele me perdoe, um dia, por tê-lo influenciado exatamente no momento que não poderia.

Embora, conhecendo o Fi como eu conheço, certamente ele nunca colocará essa “culpa” em mim!

Eu e o primo Fi. Ninguém nunca diria que ele já torceu contra o Palmeiras.

Eu e o primo Fi. Ninguém nunca diria que ele já torceu contra o Palmeiras.

Ps.: ninguém mandou me fazer aquela surpresa no carnaval!

É ele mais ele!

É ele mais ele!

2014 não está sendo muito diferente, para a Seleção Brasileira, do que foram as Copas de 1994 e 2002.

Diferente mesmo, até pela obvia distância do tempo, é o nome do “cara” da Seleção.

Se em 1994 nós falávamos “É Romário e mais dez” e se em 2002 foi a vez do “É Ronaldo e mais dez”, 2014 certamente já tem o nome certo da Seleção: Neymar.

Ele que disputará sua primeira Copa do Mundo, por culpa do Dunga (óbvio), virou, de agosto de 2010 para os dias atuais, o cara que mais depositamos nossas esperanças pelo 6o título mundial da Seleção Canarinho.

E ontem, mais uma vez, ele demonstrou porquê que nossas esperanças estão em suas costas. Ok, eu sei, a seleção da África do Sul é realmente uma baba, e nem vou utilizar o argumento de que eles ganharam recentemente da Espanha, pois cada jogo é um jogo.

Mas, exatamente por ser uma baba, temos que lembrar que o cara matou a pau no jogo de ontem, assim como dele era esperado.

E o fato de Felipão ter o time praticamente definido pouco, ou nada, muda nesse fato.

Neymar é sim o cara para a Seleção nessa próxima Copa do Mundo.

E os outros 10?

Como nunca antes eu vi na história da Seleção em épocas “pré-Copa” (e olha que eu acompanho esse tipo de noticiário desde, pelo menos, 1990), a Seleção chega há pouco mais de três meses de sua estréia na competição com o time praticamente definido e, o que é mais raro ainda, com pouca contestação sobre os possíveis convocados.

O time titular, que dificilmente vai mudar daquele que conquistou a Copa das Confederações no ano passado, já é conhecido por todos: Júlio César; Dani Alves, Thiago Silva, David Luiz e Marcelo; Luiz Gustavo, Paulinho, Oscar e Hulk; Neymar e Fred.

Desses apenas dois ainda são vistos com uma ligeira desconfiança pela torcida, muito mais devido aos seus atuais momentos do que aos seus históricos: Júlio César e Fred.

Mesmo assim, ambos contam com uma puta confiança do técnico Felipão, o que ajuda e muito nessa hora.

Além dos 11, como o próprio técnico já adiantou, 95% dos escolhidos já estão praticamente definidos por Felipão, restando uma ou outra dúvida que ainda devem ser confirmadas pelo técnico (como os dois estreantes de ontem Fernandinho e Rafinha).

Com uma Seleção praticamente definida, com padrão de jogo e jogadores pouco questionados, a tarefa de Neymar em ser o cara do Brasil na Copa acaba ficando um pouco mais facilitada.

Condições para isso ele tem. E a Seleção também.

Jejum para a Copa

Posted: 04/03/2014 in Uncategorized
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A fachada do estádio do Corinthians, onde, daqui 100 dias, a Copa do Mundo começará.

A fachada do estádio do Corinthians, onde, daqui 100 dias, a Copa do Mundo começará.

A terça-feira de carnaval marca, originalmente nas religiões Cristãs, o início da quarentena de jejum que termina na Páscoa. É o jejum da carne, que deveria durar por todo esse período até a Sexta-Feira Santa, e não ser realizado apenas nela.

Tal como todo o Cristianismo moderno, essas datas foram determinadas após o Concílio de Nicéia, lá pelo Século IV depois de Cristo, onde muitas culturas foram incorporadas ao judaísmo para se dar início à principal igreja do mundo.

Coincidentemente, nesse ano o Carnaval não inicia apenas a contagem de 40 dias até a Páscoa, mas inicia também a contagem de 100 dias até o início da Copa do Mundo de 2014.

E, se geralmente nas últimas edições do evento essa foi uma data para comemorar, aqui no Brasil a coisa não está lá tão boa assim.

Temos muita, mas muita coisa que ainda não foi terminada, ou que nem saiu do papel, e que preocupam e muito aos donos do evento: a FIFA.

5 dos 12 estádios ainda não estão prontos. Muitas, mas muitas das obras de mobilidade urbana e infraestrutura nem sequer ficarão prontas até o início do Mundial.

Para se ter uma ideia, na semana passada tive que ir, a trabalho, de São Paulo à João Pessoa, na Paraíba. Uma viagem com escalas que me fez visitar 4 dos principais aeroportos do país: Cumbica, Galeão, JK e Congonhas.

Uma vergonha!

O que eu tive a pior experiência foi, sem dúvida alguma, o Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro (Galeão). Meu Deus, o que foi aquilo? Uma sala de embarque em reforma (que duvido que vá ficar pronta até a Copa), quente, sem ar-condicionado, sem sistema de som e tendo que ver os funcionários das companhias aéreas gritando o número dos vôos e os nomes daqueles passageiros que, porventura, não tinham ouvido o “chamado” do seu vôo.

Parecia uma feira.

Em Cumbica a situação só não foi pior porquê, ao menos, tínhamos ar-condicionado e sistema de som. Mas a bagunça e os transtornos causados pela reforma, que não ficará pronta em 100 dias, certamente atingirão os nossos tão esperados turistas.

E os estádios?

Bem, aquele em pior situação é, surpreendentemente o que menos se esperava que daria problema.

Mas, segundo a própria FIFA, a Arena da Baixada não ficará de fora da festa, apesar de todo o atraso e todos os problemas vividos em Curitiba. Dificilmente a FIFA tiraria uma sede, seja ela qual for.

Além de Curitiba, Cuiabá, Porto Alegre, Manaus e São Paulo, onde teremos a abertura da Copa, ainda não entregaram suas arenas para o Mundial. Esse é o maior atraso que a FIFA já vivenciou na organização de seu principal evento.

Faço um parentese aqui com relação ao estádio da abertura da Copa, o famoso Itaquerão, ou Arena Corinthians. Ok, agora já não há mais nada a se fazer, a abertura vai ser lá mesmo e tá decidido. Mas, vamos ser sinceros, que estádiozinho medíocre para uma abertura de Copa do Mundo, hein?

Feio, bem feiinho o tal do Itaquerão, se comparado com os últimos estádios que tiveram a honra de receber os jogos inaugurais dos mundiais de 1998 pra 2010.

Culpa exclusivamente da nossa incompetência.

Tivemos mais de 7 anos para organizar a parafernália toda, e não conseguimos. Esbarramos em nossa eterna burocracia, falta de vontade, corrupção (alguém aí duvida?) e tudo isso refletiu no agora.

Sem contar, é claro, todas as promessas de legados que a Copa deixaria para nossas 12 cidades-sede que nunca serão entregues.

Soma-se a tudo isso uma enorme insatisfação da população com a realização do evento, meio que tardia, e teremos a contagem regressiva mais xoxa para uma Copa do Mundo.

Mas, como diria minha esposa, é o que temos para hoje.

Tirante o esforço dos patrocinadores e da detentora dos direitos de transmissão, vejo pouca empolgação com a realização da Copa do Mundo em nosso solo.

Pode ser que tudo isso mude. Temos 100 dias para isso.

O que não vai mudar nesses 100 dias, certamente, é o maldito “jeitinho brasileiro” para tudo.