Histórias de Torcedor #004 – Festa (?) de aniversário

Posted: 21/06/2014 in Uncategorized
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História de Torcedor de hoje não poderia deixar de ter a ver com o principal campeonato de futebol do planeta, a Copa do Mundo.

Afinal, estamos no meio da 20ª edição do torneio, que pra felicidade do Futebol em Terras Brasilis está sendo disputada em nosso solo.

Mas, muito mais do que uma mera história sobre o que eu vivi numa Copa do Mundo, o relato de hoje pode ser mais compreendido se for lido como uma homenagem.

Pequena, mas uma homenagem.

Homenagem a alguém que, se não tivesse vivido, eu também certamente não estaria aqui.

Homenagem à minha mãe, que se estivesse encarnada estaria completando, hoje, 69 anos de idade.

Dona Luiza Estela Silveira Lopes, Lú para os mais próximos e mãe para apenas três.

Parabéns mãe!

Que Deus possa continuar te abençoando em seu caminho e que possamos, eu, meus irmãos, meu pai e seus netos sentir as boas vibrações que sempre recebemos vindas de você.

E que a festa seja animada de verdade dessa vez!

Minha mãe, em foto com meu irmão Leonardo, que nem havia nascido ainda em 86. Saudades imensas de você, mãe.

Minha mãe, em foto com meu irmão Leonardo, que nem havia nascido ainda em 86. Saudades imensas de você, mãe.

Festa (?) de aniversário:

Tenho poucas lembranças da Copa do Mundo de 1982.

A principal delas, certamente, foi da tristeza que tomou conta da sala lá de casa na derrota da Seleção Canarinho para a Itália de Paolo Rossi.

E só.

A primeira Copa que acompanhei mais foi, sem dúvida alguma, a de 1986, quando eu já tinha 9 anos completos e já era um mini-apaixonado por futebol.

Nessa Copa vivemos uma espécie de ressaca de 1982, com a Seleção sendo ainda comandada por Telê Santana e com alguns craques vindos daquela Copa inesquecível (como Zico e Sócrates, por exemplo).

Em 86 o caminho da nossa Seleção foi sendo percorrido de maneira até bastante simples.

Na fase de grupos pegamos, e vencemos, a Espanha (1 a 0), a Argélia (de novo 1 a 0) e a Irlanda do Norte (3 a 0).

Nas oitavas atropelamos a Polônia por 4 a 0 e chegamos entre os oito melhores do Mundial com quatro jogos, quatro vitórias, 9 gols marcados e nenhum sofrido.

Já era motivo para todos declararem o Brasil como um dos favoritos ao título, mesmo tendo naquele ano a Argentina de Maradona.

Enquanto tudo isso acontecia, o aniversário da minha mãe se aproximava e ela, que sempre gostava de ver a casa cheia, se animava para fazer uma festinha.

Afinal, não é todo ano que seu aniversário cai num sábado, né?

E naquele 1986, quando completava seus 41 anos, o dia 21 de junho, que marca também o início do inverno no nosso hemisfério, cairia num sábado.

Coincidentemente, aquele dia 21 de junho marcava também o início da disputa das quartas de final da Copa do Mundo.

E o primeiro jogo era o do Brasil.

Lógico que muitos detalhes eu não vou me lembrar, mas me lembro perfeitamente que minha mãe marcou sua festa para aquela tarde, que seria uma comemoração com comidas típicas de festa junina, afinal era junho, e que o jogo seria apenas mais um motivo para comemorarmos.

A ideia pareceu excelente.

No dia 21 de junho de 1986 a casa estava arrumada para a festa. Naquela época ainda não tínhamos tantas bandeiras pra lá e pra cá, mas alguma coisa sempre se fazia para marcar a experiência de mais uma Copa.

Lembro que morávamos em um apartamento bem grande na Lins de Vasconcelos, aquelas construções antigas onde o apartamento era sim espaçoso, e por isso daria para fazer a festa lá mesmo, preparando para lá, também, a comemoração com a vitória da Seleção Brasileira.

Praticamente ninguém contava com mais uma eliminação brasileira.

Se não tínhamos o timaço de 1982, ao menos estávamos com uma Seleção competitiva e que iria pegar a tal da França, atual (para aquela época) campeã europeia, mas com pouquíssima tradição em Copas do Mundo.

A França de 86 era algo parecido com o Portugal desse ano.

Estava a baba do quiabo.

Doce inocência.

Certamente também não me lembro de todos os detalhes do jogo, afinal eu era apenas uma criança ainda.

Mas me lembro daquelas malditas cobranças de pênalti.

Lembro que naquela cobrança francesa que bateu na trave e nas costas do goleiro brasileiro, Carlos, meu pai gritava com a televisão pedindo que anulassem a cobrança, dizendo que não poderia valer aquele gol.

Meu pai não era o único que gritava.

Me lembro também da aflição, e depois do alívio, de todos quando viram que o Galinho pegara a bola para a cobrança de pênalti. Afinal, ele havia perdido um pênalti durante o jogo, mas acabou convertendo a sua cobrança na decisão.

Alegria.

Que foi maior quando o ídolo deles, Michel Platini, isolou sua cobrança, fazendo com que o Brasil empatasse a série na quarta cobrança.

Que rapidamente se transformou em tristeza, quando o zagueiro, sim um zagueiro cobrou o último pênalti do Brasil, mandou a bola na trave.

E que se tornou em depressão quando o último francês, um tal de Fernández, cobrou e converteu seu pênalti.

Pronto, o fantasma do Sarriá estava novamente sob nossas cabeças.

O Brasil estava eliminado.

E a festa acabada.

E não importava o que eu fizesse, e eu juro que lembro que tentei convencer a todos (do jeito que uma criança faz, claro) de que era a festa de aniversário da minha mãe, e que não devíamos ficar tristes na festa.

De nada adiantava.

Pra falar a verdade, acho que nem minha mãe queria mais continuar aquela festa.

O clima parecia mais com o de um velório.

A Copa havia acabado para o Brasil.

E havia acabado com a festa da minha mãe.

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