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Um dos assuntos que mais chamou a atenção na mídia esportiva brasileira dessa semana foi a decisão do Superior Tribunal de Justiça no embate jurídico entre Sport Club do Recife e Clube de Regatas do Flamengo sobre quem é, ou não, o campeão brasileiro de 1987.

Na decisão, o STJ confirmou decisões judiciais anteriores e manteve o clube pernambucano como o Campeão Brasileiro de 1987. Para quem não sabe o STJ é a última instância jurídica no país. Acima dele temos apenas o Superior Tribunal Federal que, por definição, é a última instância para julgar matérias constitucionais, o que não é o caso em voga.

Então, concluímos que legalmente o campeão brasileiro de 1987 é o Sport Club Recife, certo?

Sim, legalmente sim.

E, se legalmente o Sport é o campeão brasileiro, por quê o Blog FTB considera o Flamengo como campeão daquele ano na composição de pontos do Ranking?

Porque aí, caros amigos leitores, temos que recorrer à história desse campeonato para entender como ele foi criado, disputado e finalizado. E, se você tiver um pouquinho de tempo e paciência, convido-o a ler esse breve resumo que o blogueiro aqui preparou para você.

Vamos lá?

Por que surgiu a Copa União?

Bem, para responder essa pergunta temos que voltar um pouco mais no tempo, mais precisamente no ano de 1986, quando o Campeonato Brasileiro daquele ano foi a maior síntese do que era a bagunça na organização e gestão do nosso campeonato. Entre todas as confusões, foram determinantes para esse caso um julgamento de dopping no jogo entre Joinville e Sergipe, que terminou empatado, mas que o time catarinense conseguiu os pontos no tribunal.

A partir daí, para a formação da primeira divisão do ano seguinte, que seria composta por 28 clubes divididos em dois módulos (verde e amarelo) começou a sofrer uma série de brigas judiciais porque o Botafogo-RJ não estaria classificado entre essas 28 equipes, e teria que jogar a segunda divisão em 1987 e o Vasco da Gama não se classificaria para a fase final de 1986 caso esses pontos fossem mantidos para o Joinville.

E, quando falamos de Vasco da Gama, principalmente naquela época, falamos de Eurico Miranda.

Além disso, é bom frisar o contexto histórico que nosso país vivia naquela época. Estávamos entrando no processo de redemocratização, com uma economia extremamente frágil, inflação nas alturas e uma assembléia constituinte que tomava grande parte das atenções nacionais.

No meio disso tudo a sempre bem administrada CBF anuncia, dois meses antes do início do Brasileirão de 1987, que não teria condições financeiras para realizar o campeonato daquele ano. A CBF estava quebrada!

Foi aí que Carlos Miguel Aidar, presidente do São Paulo, e Márcio Braga, presidente do Flamengo, se uniram aos demais 11 principais clubes do país (Palmeiras, Santos, Corinthians, Grêmio, Internacional, Atlético Mineiro, Cruzeiro, Vasco da Gama, Botafogo, Fluminense e Bahia) para organizar o Campeonato Brasileiro de 1987 e, consequentemente, fundaram o Clube dos 13.

Para que o campeonato acontecesse, o C13 convidou mais três clubes (Santa Cruz, Goiás e Coritiba) e correu atrás de patrocínios para a realização do certame. Com o apoio da Varig, da Rede Globo e da rede de hotéis Othon, a Copa União sairia do papel e seria realizada.

Pronto, estava dada a chance que a CBF queria para se apropriar daquilo que ela não teve competência para fazer.

Álbum de figurinhas da Copa União. Até nisso o C13 foi mais competente do que a CBF.

Álbum de figurinhas da Copa União. Até nisso o C13 foi mais competente do que a CBF.

E como foi a disputa?

Entre o anúncio da formação da Copa União e o início de sua disputa tivemos dias de muitas disputas judiciais, bate-bocas e uma centena de outras cenas impressionantes que só uma gestão eficiente, lucrativa e organizada pode fazer por você (ou pelo futebol). Fato é que, após o anúncio do Clube dos 13, a CBF quis voltar atrás na sua decisão de organizar o brasileirão, pois via que era sim possível fazê-lo, mas os presidentes dos clubes não aceitaram essa mudança de postura.

Enquanto o C13 organizava seu campeonato, a CBF tentava correr atrás juridicamente para tomá-lo para si. Fez que fez que conseguiu organizar aquilo que seria chamado de Módulo Amarelo, de forma idêntica ao formato de disputa da Copa União, contando porém com a desistência de participação do América-RJ.

A Copa União, ou o denominado Módulo Verde pela CBF, foi disputada em quatro fases, sendo as duas iniciais com os 16 times divididos em duas chaves e jogando contra os times da outra chave na primeira fase e contra os times da própria chave na segunda fase.

O vencedor de cada fase em cada grupo estaria classificado para as semifinais (terceira fase), que foram Atlético Mineiro (campeão do grupo A na primeira fase), Internacional (campeão do grupo B na primeira fase), Flamengo (2o colocado no grupo A na segunda fase – o Atlético Mineiro havia conquistado a primeira colocação novamente desse grupo) e Cruzeiro (campeão do grupo B na segunda fase).

Nas semifinais o Rubro-negro eliminou o Galo, enquanto que o Colorado tirava da disputa do Cruzeiro.

Acontece que, logo após o início da disputa da Copa União, a CBF divulgou o regulamento do Campeonato Brasileiro de 1987.

Isso mesmo que você leu, a CBF divulgou o regulamento APÓS o início da Copa União (após a segunda rodada). A essa altura, o tal Módulo Amarelo ainda nem havia sido iniciado, esperando obviamente que a CBF anunciasse seu regulamento.

No regulamento inicial, à pedido do Clube dos 13, haveria o cruzamento entre os dois primeiros colocados de cada Módulo (Verde e Amarelo) apenas para a definição dos representantes brasileiros na Libertadores 1988, e não para a definição de seu campeão. Porém, a CBF cagou para o que queriam os 13 maiores clubes do país e, em seu malfadado regulamento, colocou o cruzamento entre os dois primeiros colocados de cada Módulo como definição do título de campeão brasileiro.

E esse cruzamento só ocorreria em janeiro de 1988.

As finais:

Enquanto Flamengo e Internacional duelavam na final da Copa União, Sport e Guarani duelavam na final do Módulo Amarelo.

No primeiro jogo da decisão da Copa União, Internacional e Flamengo ficaram no empate em 1×1, no Beira-Rio. No outro Módulo, o Guarani vencia o Sport por 2×0 no Brinco de Ouro da Princesa.

Chegou, então, o dia 13 de dezembro de 1987.

Maracanã lotado, Ilha do Retiro idem.

Na cidade maravilhosa, o Flamengo vence por 1×0 e se torna o Campeão da Copa União, ou o Campeão Brasileiro como quase toda a imprensa esportiva assim o definiu (com exceção do SBT, que estava aliado à CBF e transmitia o Módulo Amarelo).

Enquanto que na capital pernambucana o Sport fazia 3×0 no Guarani e levava a disputa para a prorrogação e pênaltis (não tinha essa de saldo de gols). O 0x0 na prorrogação levou a final para a disputa por pênaltis.

E, aí meus amigos, mais um absurdo aconteceu.

Quando a disputa estava 11 a 11 os dois presidentes dos dois clubes resolveram, por si próprios, retirarem seus times de campo.

“Chega de bater pênaltis! Já que nós dois estamos classificados para o quadrangular final mesmo, pra que vamos perder tempo em cobranças de penalidades?” devem ter pensado os cartolas.

Talvez essa tenha sido a primeira, se não única, vez que uma disputa por pênaltis terminava empatada.

Aí, para terminar de cagar, a CBF declara o Sport como campeão daquele Módulo, inclusive com a concordância do Guarani, pois o time pernambucano tinha a melhor campanha entre os dois finalistas.

Ora, se a melhor campanha era fator de desempate, por quê não fora utilizada logo que terminou os noventa minutos e o Sport já havia vencido o Guarani por 3×0 (devolvendo com sobras o placar do primeiro jogo)?

Poster do Flamengo Campeão Brasileiro de 1987!

Poster do Flamengo Campeão Brasileiro de 1987! Era assim que a imprensa tratava o Rubro-Negro.

O quadrangular:

Em janeiro de 1988 a CBF divulga a tabela do quadrangular final, não reconhecendo o Flamengo como campeão brasileiro, e informando a todos que aqueles seis jogos seriam sim para decidir o título de 1987.

Desnecessário dizer que nem Flamengo, nem Inter e nem nenhum outro clube do C13 que estivesse nessa disputa entrariam em campo naquele janeiro, né?

Mas, vale dizer o seguinte: esse quadrangular foi tão bem aceito por todos que, incrivelmente, até a Federação Carioca marcou jogos do Flamengo no estadual daquele ano nas mesmas datas do tal quadrangular.

Uma das principais federações que formam a Confederação Brasileira de Futebol agiu em direção contrária ao que queria a entidade máxima no país.

Guarani e Sport venceram seus jogos contra Flamengo e Inter por WO e, nos jogos entre si, empataram no Brinco de Ouro por 1×1 e o Sport venceu na Ilha por 1×0.

Sport e Guarani foram os representantes brasileiros na Libertadores de .1988.

Posição do Blog:

Analisando todos os fatos históricos, e tenha certeza caro leitor, eu tentei me informar bastante sobre esse assunto, o Blog não pode deixar de condenar toda a atuação da CBF nesse caso, bem como das federações estaduais e dos tribunais esportivos, e vejo a CBF muito mais como uma entidade política do que de gestão do nosso futebol.

Dessa forma, entendo que toda a condução do caso foi meramente política, o que me faz ter certo nojo disso tudo o que ocorreu.

Nojo principalmente da passada de perna que a CBF deu nos clubes que tentavam se organizar de outra maneira, determinando o cumprimento de um regulamento que estes não estavam de acordo e que fora confeccionado após o início das disputas.

Por conta disso, continuaremos considerando a classificação final da Copa União para a composição do nosso Ranking, mantendo o Flamengo como o campeão nacional (se você não quiser utilizar-se do termo Brasileiro) daquele ano e o Internacional como vice-campeão.

Da mesma forma que o Blog não considera o Santos Futebol Clube oito vezes campeão brasileiro, o que não diminui a importância que damos aos seis títulos conquistados da Taça Brasil na década de 60.

Vale lembrar que a CBF fez esse reconhecimento dos títulos da Taça Brasil e do Torneio Roberto Gomes Pedrosa quando estava em negociação dos direitos de transmissão de seus campeonatos, tentando agradar aos presidentes de Bahia, Santos, Palmeiras, Botafogo e Cruzeiro para não perder votos importantes ao seu favor.

O que é igualmente condenável.

A única certeza que fica disso tudo é que, enquanto houver futebol na face da terra, o resultado do campeonato brasileiro de 1987 será debatido, discutido e esse ano nunca, nunca terá fim.