Posts Tagged ‘Estádios brasileiros’

Na manhã dessa segunda-feira ouvi no rádio, a caminho do trabalho, um pequeno debate que há muito tempo eu não ouvia.

O debate, motivado pelo jogo entre Atlético Paranaense e Corinthians de ontem e pela reclamação dos jogadores e do técnico Tite com relação às condições do gramado, tratava das condições dos estádios brasileiros, mais precisamente daqueles em que são jogados os jogos da Série A do nacional. Durante esse debate, muito se falou sobre uma possível necessidade da CBF definir um padrão de estádios para que os times das Séries A e B do Brasileirão tivessem que mandar seus jogos.

Os apresentadores do programa, que não vou citar qual era, defendiam que deveria haver sim uma padronização definida pela CBF e, aqueles que não se enquadrassem, teriam que mandar seus jogos em outros estádios, possivelmente até fora de sua cidade ou estado.

Talvez mal acostumados que estamos com o tal padrão FIFA para os estádios que sediarão a Copa do Mundo de 2014, e pelas reais péssimas condições de jogo ontem em Curitiba, o debate possa voltar a surgir em outros programas esportivos e vire, de uma hora para outra, mais um daqueles temas que todos podem opinar.

maracana02_depoisCom a vinda da Copa do Mundo para o país vimos algumas arenas modernas serem erguidas, ou pela reforma de antigos estádios, ou pela simples construção de um novo espaço. Assim, os doze estádios da Copa passaram, e estão passando, de sonho para realidade de termos um local mais digno para assistirmos ao nosso bom e velho futebol.

Além das doze sedes mais quatro estádios, ainda que em cidades-sede, entraram (ou entrarão) no rol de arenas modernas e confortáveis que citei acima. São eles a Arena do Grêmio, em Porto Alegre, o Allianz Parque, do Palmeiras, o Independência em Belo Horizonte e o Engenhão, no Rio.

Mas, como sabe bem o leitor desse blog, esses 16 novos palcos para o nosso futebol não representam, talvez, nem 10% dos estádios brasileiros. Se formos contar apenas com os 20 participantes da Série A desse ano, os 16 estádios seriam, na verdade e quando prontos, apenas 45% dos estádios, visto a ausência do Palmeiras e de times de Brasília, Cuiabá, Manaus e Maceió na primeira divisão.

Ou seja, a representatividade dessas novas arenas, mesmo que no mais importante campeonato do país, ainda é muito pequena.

E, considerando que a representatividade dessas novas arenas ainda é baixa, qual deveria ser o tal padrão CBF para os estádios nacionais? O que deveria ser aceito como padrão de qualidade Série A, Série B ou Série C pela entidade que “organiza” o Futebol em Terras Brasilis? O que se pode aceitar, e o que não se pode, em padrão de qualidade nos nossos estádios?

Falar que todos deveriam seguir o padrão FIFA é bem bonitinho, mas extremamente utópico.  Só nós sabemos quanto tempo demorou para que um estádio com o mínimo de conforto fosse erguido em nosso país, e quanto de dinheiro público não está sendo necessário para levantar os doze estádios que sediarão a Copa.

Você pode dizer: “Ah, mas os estádios mais antigos que temos atualmente na Série A (Pacaembú, Morumbi, Vila Belmiro, Couto Pereira, São Januário, Barradão, Eriberto Hulse e Serra Dourada) podem servir de padrão para a Série A”.

Sim, podem.

Padrão, mas não de qualidade.

Estádios sem banheiro, sem assento marcado, sem estacionamento, sem camarotes, sem local para refeição, com dificuldade de acesso (para entrar ou sair) podem ser padrão, mas não de qualidade. Isso sem contar na infraestrutura para os profissionais envolvidos, como vestiários amplos e confortáveis, sala de imprensa, drenagem do gramado, a tal da zona mista para entrevista a jogadores sem ter que jornalista acessar o campo, entre outros.

Quando falamos em estabelecer um padrão, seja para estádios, seja para o que for, devemos pensar que todos os envolvidos no processo devem dispor de condições de, se não imediatamente, alcançar este padrão no curto ou médio prazo. Além disso, estabelecer um padrão significa dizer que algo terá uma qualidade que agrade, ou que pelo menos não desagrade, aos que utilizam do serviço/produto.

Seria muito bom se conseguíssemos estabelecer um padrão para os nossos estádios, ao menos para os 50 principais palcos do futebol no país. Mas isso, se um dia acontecer, não será do dia para a noite, de uma hora para outra. Será um trabalho que envolverá um investimento muito grande dos proprietários dos estádios (clubes ou prefeituras) para alcançar e manter esse padrão.

Até para colocar em prática a estapafúrdia ideia de fazer com que a CBF arque com esses investimentos soa como loucura, uma vez que a entidade teria que distribuir recursos para todos os clubes, o que já mostra a inviabilidade dessa ideia.

Apesar dos percalços no jogo de ontem, temos que ter em mente que para a realidade do futebol no país mudar é necessário  mudar a realidade do país, dos investimentos no esporte em geral e isso leva muito, mas muito mais tempo.

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Dentre as muitas críticas que a organização da Copa do Mundo de 2014, em terras brasilis, tem recebido, uma delas chama  a atenção não só pelo gasto de dinheiro público mas, principalmente, por não se saber o que fazer depois da Copa.

São os chamados elefantes brancos!

Estádios grandiosos em locais em que o futebol tem pouco, ou nenhum, apelo. Das 12 cidades-sede 4, ou para quem é bom em matemática 1/3, se encaixam nesse perfil.

Não que as demais terão seus estádios utilizados em sua plenitude, não é isso.

Mas Cuiabá, Brasília, Natal e Manaus vão possuir, após julho de 2014, verdadeiros monumentos à nossa incompetência administrativa e política. Estádios modernos, bonitos, confortáveis e gigantes, muito gigantes.

Se você pegar, por exemplo, a média de público dos times dessas cidades em seus campeonatos estaduais, na Copa do Brasil e nas quatro divisões do Campeonato Brasileiro (para aqueles que chegam a disputar essas duas últimas competições) verá que os estádios são realmente desproporcionais para o público que é atraído pelos times que irão utilizá-los.

Sei que, por outro lado, o Maracanã não vive cheio todo jogo. Tão menos o Mineirão, a Fonte Nova e possivelmente nem o Itaquerão viverá. O que também é para se pensar.

Mas esses quatro estádios viverão vazios. Completamente vazios.

E qual seria a solução branca, já que o elefante tem essa cor?

Bem, poderíamos pensar em demolir os estádios, como será feito no Catar, que tem uma média de público em seu campeonato nacional tão boa quanto a média de público do Campeonato Amazonense. 

Porém lá é lá e aqui isso iria repercutir muito mal para os nossos políticos, principalmente em ano de eleição presidencial. Ou alguém aí imagina a Dilma apertando o botão do detonador do estádio Mané Garrincha em plena campanha pela reeleição?

Impossível.

Fazer com que os times dessas cidades atraiam mais público também parece ser bem impossível. Não é só o estádio que atrai público, embora eu ache que, nos grandes centros, vai haver um aumento na média de público dos campeonatos por conta desses estádios novos. Mas nessas cidades isso certamente não irá fazer muito efeito.

Uma ideia seria alterar o regulamento da Copa do Brasil, fazendo com que a final seja disputada em um jogo apenas, numa sede pré-definida, assim como é a Champions League, por exemplo. E utilizar esses estádios para essas finais.

Mas só isso não bastaria.

Pode-se fazer, então, com que cada um dos doze principais times do país, aqueles que realmente atraem a atenção e interesse do público por onde passam, mandassem ao menos uma partida sua no Campeonato Brasileiro (seja a divisão que fosse) de cada ano em um desses estádios.

Para os times isso pode ser interessante, uma vez que tal ação pode ajudar na captação de torcedores nessas cidades, e conseqüente aumento de renda indireta. A CBF poderia também incentivar os times a fazerem isso, bancando passagem e hospedagem nas cidades donas dos elefantes brancos, tentando dar alguma movimentação e razão para mantê-los de pé.

Sei que isso também seria muito pouco. Cada uma das quatro cidades iria receber, no máximo, três jogos de maior importância. 

Mas já é algo melhor do quê aquilo que se prevê.

A dona CBF poderia também começar a marcar amistosos para a Seleção em nossos estádios, agora muito mais modernos. Foi a política de jogar por dinheiro, sempre fora de casa, que acabou afastando ainda mais o brasileiro de sua Seleção.

Mas eu sei que nem assim o problema todo estaria resolvido.

Vejo muita gente por aí criticando a construção desses estádios. Eu também fui contra essa construção. Na minha opinião a Copa deveria ser disputada nos grandes centros do futebol no país, e mais nada. 

Mas já que os elefantes já estão aí, nos resta agora sugerir solução para a vida deles daqui pra frente.

E que seja uma solução branca, da cor dos nossos elefantes!