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Um dos assuntos que mais chamou a atenção na mídia esportiva brasileira dessa semana foi a decisão do Superior Tribunal de Justiça no embate jurídico entre Sport Club do Recife e Clube de Regatas do Flamengo sobre quem é, ou não, o campeão brasileiro de 1987.

Na decisão, o STJ confirmou decisões judiciais anteriores e manteve o clube pernambucano como o Campeão Brasileiro de 1987. Para quem não sabe o STJ é a última instância jurídica no país. Acima dele temos apenas o Superior Tribunal Federal que, por definição, é a última instância para julgar matérias constitucionais, o que não é o caso em voga.

Então, concluímos que legalmente o campeão brasileiro de 1987 é o Sport Club Recife, certo?

Sim, legalmente sim.

E, se legalmente o Sport é o campeão brasileiro, por quê o Blog FTB considera o Flamengo como campeão daquele ano na composição de pontos do Ranking?

Porque aí, caros amigos leitores, temos que recorrer à história desse campeonato para entender como ele foi criado, disputado e finalizado. E, se você tiver um pouquinho de tempo e paciência, convido-o a ler esse breve resumo que o blogueiro aqui preparou para você.

Vamos lá?

Por que surgiu a Copa União?

Bem, para responder essa pergunta temos que voltar um pouco mais no tempo, mais precisamente no ano de 1986, quando o Campeonato Brasileiro daquele ano foi a maior síntese do que era a bagunça na organização e gestão do nosso campeonato. Entre todas as confusões, foram determinantes para esse caso um julgamento de dopping no jogo entre Joinville e Sergipe, que terminou empatado, mas que o time catarinense conseguiu os pontos no tribunal.

A partir daí, para a formação da primeira divisão do ano seguinte, que seria composta por 28 clubes divididos em dois módulos (verde e amarelo) começou a sofrer uma série de brigas judiciais porque o Botafogo-RJ não estaria classificado entre essas 28 equipes, e teria que jogar a segunda divisão em 1987 e o Vasco da Gama não se classificaria para a fase final de 1986 caso esses pontos fossem mantidos para o Joinville.

E, quando falamos de Vasco da Gama, principalmente naquela época, falamos de Eurico Miranda.

Além disso, é bom frisar o contexto histórico que nosso país vivia naquela época. Estávamos entrando no processo de redemocratização, com uma economia extremamente frágil, inflação nas alturas e uma assembléia constituinte que tomava grande parte das atenções nacionais.

No meio disso tudo a sempre bem administrada CBF anuncia, dois meses antes do início do Brasileirão de 1987, que não teria condições financeiras para realizar o campeonato daquele ano. A CBF estava quebrada!

Foi aí que Carlos Miguel Aidar, presidente do São Paulo, e Márcio Braga, presidente do Flamengo, se uniram aos demais 11 principais clubes do país (Palmeiras, Santos, Corinthians, Grêmio, Internacional, Atlético Mineiro, Cruzeiro, Vasco da Gama, Botafogo, Fluminense e Bahia) para organizar o Campeonato Brasileiro de 1987 e, consequentemente, fundaram o Clube dos 13.

Para que o campeonato acontecesse, o C13 convidou mais três clubes (Santa Cruz, Goiás e Coritiba) e correu atrás de patrocínios para a realização do certame. Com o apoio da Varig, da Rede Globo e da rede de hotéis Othon, a Copa União sairia do papel e seria realizada.

Pronto, estava dada a chance que a CBF queria para se apropriar daquilo que ela não teve competência para fazer.

Álbum de figurinhas da Copa União. Até nisso o C13 foi mais competente do que a CBF.

Álbum de figurinhas da Copa União. Até nisso o C13 foi mais competente do que a CBF.

E como foi a disputa?

Entre o anúncio da formação da Copa União e o início de sua disputa tivemos dias de muitas disputas judiciais, bate-bocas e uma centena de outras cenas impressionantes que só uma gestão eficiente, lucrativa e organizada pode fazer por você (ou pelo futebol). Fato é que, após o anúncio do Clube dos 13, a CBF quis voltar atrás na sua decisão de organizar o brasileirão, pois via que era sim possível fazê-lo, mas os presidentes dos clubes não aceitaram essa mudança de postura.

Enquanto o C13 organizava seu campeonato, a CBF tentava correr atrás juridicamente para tomá-lo para si. Fez que fez que conseguiu organizar aquilo que seria chamado de Módulo Amarelo, de forma idêntica ao formato de disputa da Copa União, contando porém com a desistência de participação do América-RJ.

A Copa União, ou o denominado Módulo Verde pela CBF, foi disputada em quatro fases, sendo as duas iniciais com os 16 times divididos em duas chaves e jogando contra os times da outra chave na primeira fase e contra os times da própria chave na segunda fase.

O vencedor de cada fase em cada grupo estaria classificado para as semifinais (terceira fase), que foram Atlético Mineiro (campeão do grupo A na primeira fase), Internacional (campeão do grupo B na primeira fase), Flamengo (2o colocado no grupo A na segunda fase – o Atlético Mineiro havia conquistado a primeira colocação novamente desse grupo) e Cruzeiro (campeão do grupo B na segunda fase).

Nas semifinais o Rubro-negro eliminou o Galo, enquanto que o Colorado tirava da disputa do Cruzeiro.

Acontece que, logo após o início da disputa da Copa União, a CBF divulgou o regulamento do Campeonato Brasileiro de 1987.

Isso mesmo que você leu, a CBF divulgou o regulamento APÓS o início da Copa União (após a segunda rodada). A essa altura, o tal Módulo Amarelo ainda nem havia sido iniciado, esperando obviamente que a CBF anunciasse seu regulamento.

No regulamento inicial, à pedido do Clube dos 13, haveria o cruzamento entre os dois primeiros colocados de cada Módulo (Verde e Amarelo) apenas para a definição dos representantes brasileiros na Libertadores 1988, e não para a definição de seu campeão. Porém, a CBF cagou para o que queriam os 13 maiores clubes do país e, em seu malfadado regulamento, colocou o cruzamento entre os dois primeiros colocados de cada Módulo como definição do título de campeão brasileiro.

E esse cruzamento só ocorreria em janeiro de 1988.

As finais:

Enquanto Flamengo e Internacional duelavam na final da Copa União, Sport e Guarani duelavam na final do Módulo Amarelo.

No primeiro jogo da decisão da Copa União, Internacional e Flamengo ficaram no empate em 1×1, no Beira-Rio. No outro Módulo, o Guarani vencia o Sport por 2×0 no Brinco de Ouro da Princesa.

Chegou, então, o dia 13 de dezembro de 1987.

Maracanã lotado, Ilha do Retiro idem.

Na cidade maravilhosa, o Flamengo vence por 1×0 e se torna o Campeão da Copa União, ou o Campeão Brasileiro como quase toda a imprensa esportiva assim o definiu (com exceção do SBT, que estava aliado à CBF e transmitia o Módulo Amarelo).

Enquanto que na capital pernambucana o Sport fazia 3×0 no Guarani e levava a disputa para a prorrogação e pênaltis (não tinha essa de saldo de gols). O 0x0 na prorrogação levou a final para a disputa por pênaltis.

E, aí meus amigos, mais um absurdo aconteceu.

Quando a disputa estava 11 a 11 os dois presidentes dos dois clubes resolveram, por si próprios, retirarem seus times de campo.

“Chega de bater pênaltis! Já que nós dois estamos classificados para o quadrangular final mesmo, pra que vamos perder tempo em cobranças de penalidades?” devem ter pensado os cartolas.

Talvez essa tenha sido a primeira, se não única, vez que uma disputa por pênaltis terminava empatada.

Aí, para terminar de cagar, a CBF declara o Sport como campeão daquele Módulo, inclusive com a concordância do Guarani, pois o time pernambucano tinha a melhor campanha entre os dois finalistas.

Ora, se a melhor campanha era fator de desempate, por quê não fora utilizada logo que terminou os noventa minutos e o Sport já havia vencido o Guarani por 3×0 (devolvendo com sobras o placar do primeiro jogo)?

Poster do Flamengo Campeão Brasileiro de 1987!

Poster do Flamengo Campeão Brasileiro de 1987! Era assim que a imprensa tratava o Rubro-Negro.

O quadrangular:

Em janeiro de 1988 a CBF divulga a tabela do quadrangular final, não reconhecendo o Flamengo como campeão brasileiro, e informando a todos que aqueles seis jogos seriam sim para decidir o título de 1987.

Desnecessário dizer que nem Flamengo, nem Inter e nem nenhum outro clube do C13 que estivesse nessa disputa entrariam em campo naquele janeiro, né?

Mas, vale dizer o seguinte: esse quadrangular foi tão bem aceito por todos que, incrivelmente, até a Federação Carioca marcou jogos do Flamengo no estadual daquele ano nas mesmas datas do tal quadrangular.

Uma das principais federações que formam a Confederação Brasileira de Futebol agiu em direção contrária ao que queria a entidade máxima no país.

Guarani e Sport venceram seus jogos contra Flamengo e Inter por WO e, nos jogos entre si, empataram no Brinco de Ouro por 1×1 e o Sport venceu na Ilha por 1×0.

Sport e Guarani foram os representantes brasileiros na Libertadores de .1988.

Posição do Blog:

Analisando todos os fatos históricos, e tenha certeza caro leitor, eu tentei me informar bastante sobre esse assunto, o Blog não pode deixar de condenar toda a atuação da CBF nesse caso, bem como das federações estaduais e dos tribunais esportivos, e vejo a CBF muito mais como uma entidade política do que de gestão do nosso futebol.

Dessa forma, entendo que toda a condução do caso foi meramente política, o que me faz ter certo nojo disso tudo o que ocorreu.

Nojo principalmente da passada de perna que a CBF deu nos clubes que tentavam se organizar de outra maneira, determinando o cumprimento de um regulamento que estes não estavam de acordo e que fora confeccionado após o início das disputas.

Por conta disso, continuaremos considerando a classificação final da Copa União para a composição do nosso Ranking, mantendo o Flamengo como o campeão nacional (se você não quiser utilizar-se do termo Brasileiro) daquele ano e o Internacional como vice-campeão.

Da mesma forma que o Blog não considera o Santos Futebol Clube oito vezes campeão brasileiro, o que não diminui a importância que damos aos seis títulos conquistados da Taça Brasil na década de 60.

Vale lembrar que a CBF fez esse reconhecimento dos títulos da Taça Brasil e do Torneio Roberto Gomes Pedrosa quando estava em negociação dos direitos de transmissão de seus campeonatos, tentando agradar aos presidentes de Bahia, Santos, Palmeiras, Botafogo e Cruzeiro para não perder votos importantes ao seu favor.

O que é igualmente condenável.

A única certeza que fica disso tudo é que, enquanto houver futebol na face da terra, o resultado do campeonato brasileiro de 1987 será debatido, discutido e esse ano nunca, nunca terá fim.

Os principais jornais, os principais portais e blogs e os principais programas esportivos da nossa mídia estão dando destaque hoje ao grande clássico que tivemos nesse final de semana.

E, dizem, foi um jogão!

Eu não vi, mas acredito que tenha sido mesmo, afinal o placar final do confronto foi 4×3. E um jogo com 7 gols deve mesmo ser considerado um jogão.

O único problema que eu vejo nisso é que o tal grande clássico não foi o Santos x Palmeiras pelo campeonato paulista, tão menos o Náutico x Santa Cruz pelo campeonato pernambucano e quanto menos o Paysandu x Remo, pela Copa Verde, todos ocorridos no Futebol em Terras Brasilis.

Não.

O grande clássico a que todos tem dado uma enorme atenção foi Real Madrid x Barcelona, pelo campeonato espanhol.

É lógico que é impossível passar desapercebido por um jogo que envolve Messi, Cristiano Ronaldo, Neymar, entre tantos outros craques do futebol mundial, principalmente no mundo da informação globalizada em que vivemos.

Ok.

Mas daí a este jogo tomar o espaço de destaque em todas as mídias nacionais, como por exemplo ser foto de capa dos jornais Estado de São Paulo e Folha de São Paulo, vai uma distância muito longa.

E a culpa, ou responsabilidade, disso não é dos veículos de imprensa, que fazem o seu papel em dar destaque àquilo que mais atrai a atenção de seu público consumidor. A culpa, ou responsabilidade, é sim daqueles que administram o nosso futebol que a cada dia que passa está mais enfraquecido diante de outras opções de lazer.

Concomitantemente a isso, é lógico, existe todo o trabalho feito pela UEFA em fortalecer o seu produto, e o de suas ligas, nos mercados emergentes do futebol (lê-se principalmente Ásia).

Porém, em um país em que o futebol já é bem estabelecido, com um público bem formado, com times fortes capazes de fazer frente, ao menos dentro do campo, aos principais clubes Europeus, o efeito desse trabalho da UEFA deveria ser minimizado por um trabalho também bem eficiente de gestão de seus produtos (campeonatos), o que certamente não acontece.

É até injusto tentar comparar a atenção que um Santos 2×1 Palmeiras, com ambos já classificados para o chato Campeonato Paulista, pode atrair à um jogo deste porte.

Mas o fato é que, enquanto nossos times jogam campeonatos com pouquíssimo apelo, enquanto tratamos os torcedores como gado dentro e fora dos estádios, enquanto os dirigentes dos clubes acham que o “inimigo” é o clube rival e enquanto a violência e impunidade caminharem de mãos dadas no dia a dia do futebol, essa situação só tende a piorar.

Porque serão cada vez menos pais que levarão seus filhos aos estádios (dificilmente eu levarei minha filha em um), cada vez teremos mais crianças que gostam de futebol mas não se identificam com os clubes nacionais e, no longo prazo, cada vez teremos mais consumidores consumindo (com o perdão do pleonasmo) o futebol estrangeiro em detrimento ao nacional, como eu já escrevi uma vez.

Um grande exemplo disso é o fato da Globo ter colocado em sua programação, depois de muito tempo, a transmissão das fases eliminatórias da Champions League nas tardes de quarta-feira. O produto veio a calhar para a Globo, que devia ter uma audiência baixíssima para aquele horário (com as Sessões da Tarde e Malhações da vida) e passou a atender uma demanda cada vez mais latente.

Quanto tempo falta para o futebol Europeu entrar também na grade do final de semana da principal rede de televisão do país?

É lógico que esse é um processo lento, não será do dia para a noite que os grandes clubes brasileiros sofrerão seus efeitos, e até por isso que eu acredito que nada será feito. Mas, ao mesmo tempo que é lento, é constante. Cada vez estamos mais “invadidos” pelo velho mundo quando o assunto é futebol e isso pode chegar ao ponto de ser um processo sem volta.

Do jeito que a coisa anda, quando tivermos um clássico entre Santos x Palmeiras, possivelmente ouviremos as crianças do futuro perguntando: “De qual clássico estamos falando mesmo?”.

A marca de uma instituição, seja ela de qual ramo for, é como o nome de uma pessoa: nada é mais importante.

Porém, uma marca, quando bem consolidada e divulgada, diz muito mais sobre aquela instituição do que apenas o seu nome.

Ela diz como a instituição quer ser reconhecida, qual posicionamento ela quer ocupar no mercado em que atua, quais são os seus clientes, enfim, ela diz praticamente tudo sobre a determinada instituição.

No mundo corporativo vemos constantemente essa preocupação das empresas com a sua marca. Nike, Coca-Cola, IBM, Microsoft são algumas das gigantes globais que mais prezam pela boa imagem da sua marca.

Algumas empresas, como o Mc Donald’s, por exemplo, enfrentam resistência de uma parte da sociedade e têm que fazer um trabalho constante para manter o nome de sua marca como algo positivo na mente do mercado consumidor.

É uma luta diária.

Como é, também, a luta de um clube de futebol por angariar cada vez mais torcedores e, principalmente, transformá-los em consumidores.

De nada adianta para o Grêmio, por exemplo, ter a maior torcida do Rio Grande do Sul se o seu rival é que tem o maior mercado consumidor (mais torcedores pagantes do programa de sócio-torcedor, mais vendas de camisas, de produtos licenciados, mais audiência nos jogos transmitidos e maior venda no pay-per-view).

Certamente, no exemplo acima, o Inter terá mais receita do que o Grêmio, mesmo que o último tenha mais torcedores.

Por isso a preocupação com a marca do clube deve ser uma constante na cabeça dos dirigentes dos nossos clubes.

O Cruzeiro já proibiu suas torcidas de usarem a marca do clube. Não está na hora de outros times seguirem esse exemplo?

O Cruzeiro já proibiu suas torcidas de usarem a marca do clube. Não está na hora de outros times seguirem esse exemplo?

E, talvez por terem essa preocupação, os dirigentes do Cruzeiro tenham tomado a decisão de proibir as torcidas organizadas do clube (Máfia Azul e Pavilhão Independente) de utilizarem a marca do Cruzeiro. Essa decisão, tomada no final do ano passado, teve como principal pano de fundo as confusões criadas por membros dessas torcidas em jogos do Brasileirão 2013 (um contra o rival Atlético Mineiro e outro no jogo da festa do título, em pleno Mineirão).

Imaginem o quanto deve ter sido difícil para esses dirigentes a tomada dessa decisão. No mundo do futebol, ao contrário do mundo corporativo, existe o quesito paixão, que pode ser transformado em violência na cabeça dos mais ignorantes, e que pode fazer com que uma medida tão impopular seja impedida de ser tomada.

Ontem, outro presidente de um grande clube foi questionado sobre essa possibilidade. Mário Gobbi, presidente do Corinthians, em sua entrevista coletiva disse não ter poder para decidir isso sozinho, que o Corinthians tem seu Conselho Deliberativo e que este deve ser consultado com relação a essa decisão.

Ok.

Mas ele se ele não tem poder para decidir isso sozinho, certamente tem poder para influenciar a decisão do Conselho do clube. Certamente, também, ele tem poder para ao menos colocar esse assunto em pauta, dado a sua importância e gravidade.

O Corinthians vem trabalhando nos últimos anos não só para conquistar títulos, mas também para construir uma imagem de time vencedor e de clube organizado (sei). Porém, para conseguir construir essa imagem uma decisão muito séria e drástica deve ser tomada pela diretoria do clube com relação às torcidas organizadas.

Vejam o exemplo do Vasco, que perdeu o seu contrato de patrocínio com a Nissan depois da guerra campal que a torcida do clube se envolveu na última rodada do Brasileirão 2013, no jogo contra o Atlético Paranaense.

A matriz da montadora que influenciou nessa decisão, uma vez que a briga campal vai totalmente contra os valores da empresa e arranha, sim, a sua imagem.

Prejuízo de R$ 7 milhões por ano, por 4 anos.

O Vasco pode até arranjar outro patrocinador no lugar da Nissan. Certamente arranjará. Mas a imagem do clube já foi arranhada perante aquela empresa, e perante a todos aqueles que podem ser influenciados pelos gestores da empresa.

E você pode dizer até que proibir o uso da marca pelas torcidas organizadas não vai desviculá-las totalmente dos clubes.

Pode ser.

Mas o que é certo é que é tudo questão de imagem.

E enquanto os clubes brasileiros continuarem suas relações promíscuas com essas torcidas organizadas, quem vai mais sofrendo é a imagem do Futebol em Terras Brasilis.

O presidente Mário Gobbi terá que apelar para todos os santos para tirar o Timão da crise. (Foto Danilo Verpa/Folhapress)

O presidente Mário Gobbi terá que apelar para todos os santos para tirar o Timão da crise. (Foto Danilo Verpa/Folhapress)

Se tem dois times no país que gostam de viver um crisezinha de vez em quando, esses times são, sem dúvida alguma, Corinthians e Palmeiras.

Ao menos no estado de São Paulo, onde eu vivo e acompanho 99% das notícias do futebol, esses são os times preferidos pela imprensa esportiva num momento de baixa.

Primeiro porque vende. Os dois times são, certamente, os que mais atraem olhares para o noticiário esportivo.

O segundo motivo, em que o primeiro é até uma conseqüência deste, é pela paixão de suas torcidas.

Corinthianos e Palmeirenses, em tese, são os mais apaixonados torcedores de São Paulo. São aqueles caras que deixam de comprar o pão no domingo de manhã para poder gastar esse dinheiro indo ao estádio, ver sua paixão.

Por serem mais passionais, são também mais desmedidos, o que acaba, vez por outra, em violência.

A crise instalada no Parque São Jorge, principalmente após à goleada sofrida em um clássico contra o Santos, é mais uma vez alimentada pela paixão e pela imprensa esportiva.

Sim, tem o péssimo futebol que o Timão vem jogando desde meados do ano passado, que obviamente conta e muito nessas horas.

Mas que, por si só, não seria capaz de eclodir numa invasão de CT em outros clubes, como o São Paulo por exemplo.

Afinal o Tricolor comeu o pão que o diabo amassou no ano passado, e em nenhum momento se viu situações quiçá parecidas com a do último sábado, no CT Joaquim Grava.

Invasão essa que, convenhamos, não serviu de porra nenhuma, hein? Um bando de torcedores profissionais (os famosos vândalos) foram lá para cobrar satisfação por uma derrota e como reflexo ganharam outra no domingo.

Pra mim essa crise tem como pano de fundo a contratação do multimilionário Alexandre Pato e a péssima gestão que o presidente Mário Gobbi vem fazendo, desde que assumiu o comando do Timão.

Mário Gobbi que, por sinal, tentou viver seu mandato à sombra de Andrés Sanchez (e de toda revolução que ele fez no futebol Corinthiano), mas que fez cada cagada que só poderia resultar no que está resultando.

A contratação do atacante foi, sem dúvida alguma, a pior cagada que o presidente poderia ter feito. Afinal, em um elenco que não haviam estrelas, reconhecido pela força do seu conjunto e que tinha acabado de conquistar os dois títulos mais importantes da história do Timão, nunca que iria cair bem um cara chegando com status de estrela, possivelmente com um salário beeeem maior do que dos demais atletas, e etc e tal.

A outra grande cagada foi demitir Tite.

E agora que a crise está instalada, que os jogadores estão inseguros, que toda merda foi jogada no ventilador, o melhor a se fazer é esperar a poeira baixar e continuar trabalhando.

Logo a vitória vem, ela sempre vem, e a crise vai passando até chegar a fase final do Paulistinha, da qual eu duvido que o Timão não vá participar, e o foco da torcida mudar novamente.

Isso se o Gobbi não fizer outra cagada monstro até lá.

O zagueiro Paulo André, durante entrevista coletiva no CT Corinthiano.

O zagueiro Paulo André, durante entrevista coletiva no CT Corinthiano.

Toda vez que o zagueiro Paulo André, do Corinthians, dá uma entrevista é assim: vira e mexe o assunto cai na gestão do Futebol em Terras Brasilis.

Também, pudera, o cara é sem dúvida um dos principais líderes do Bom Senso FC e, como tal, deve atrair diversas perguntas dos jornalistas que cobrem o dia a dia do Timão com relação à opinião dos jogadores, e do movimento, sobre os mais diversos assuntos da gestão desse esporte no país.

E na entrevista de ontem não foi diferente.

O jogador disse, entre outras coisas, que não pagaria para ver um jogo do Campeonato Paulista. Certamente essa opinião, se fosse questionada a ele, se estenderia para os demais campeonatos estaduais do país.

É muito bom ver, e ouvir, jogadores que pensam fora das quatro linhas. Paulo André, Rogério Ceni, Alex (meia do Coxa), são exemplos de caras que conseguem expressar sua opinião sem cair na mesmice que geralmente é a entrevista da maioria dos jogadores.

Nessa entrevista, ao menos em duas perguntas que eu vi, o zagueiro disse ainda que os estaduais são desinteressantes, chatos e que todo mundo já sabe quem vai se classificar para as fases decisivas. Além disso, o zagueiro disse algo que até hoje parece que nenhum dirigente do nosso futebol percebeu: que o público, que eu chamaria de consumidor, prefere ir à praia do que ao estádio.

E, é nesse ponto que temos que nos atentar.

Acessibilidade ruim, ingresso caro, alto risco de violência e espetáculo de baixo nível técnico são os motivos que o zagueiro citou para justificar que as médias de público dos nossos campeonatos são mais baixas do que, por exemplo, do Campeonato Australiano de futebol. Ou da MLS, a liga norte-americana.

Quem prefere ir à praia também corre o risco de violência, risco esse que corremos em qualquer lugar do nosso país, mas essa pessoa que opta pelo litoral, tem problemas de acessibilidade? Não vou falar de ingresso, afinal a praia é pública, mas os custos nela, são tão ou mais caros do que em um estádio?

Podemos pegar outro exemplo qualquer.

Que tal o cinema? Programinha básico de muitos brasileiros por aí, que adoram acompanhar os lançamentos da telona, levar seus filhos para ver alguma animação de Walt-Disney, ou assistir aquele cult iraniano que ninguém nunca tinha ouvido falar.

Certamente no cinema a acessibilidade é muito boa. O risco de violência até existe, mas é bem menor (afinal não terão vândalos dentro da sala de projeção torcendo para este ou aquele ator). O valor do ingresso é menor do que o de muitos estádios por aí, mas pode se equivaler a muitos outros (dependendo da região). E o espetáculo, ah esse certamente é de melhor nível técnico.

O que sobra para o futebol? A emoção, a paixão.

Mas que nem sempre é suficiente para levar um bom público a um Vasco x Friburguense, ou a um Cruzeiro x CRT ou a um Grêmio x Aimoré.

Eu sou um típico torcedor que trocou as arquibancadas, e todos os problemas para se chegar e estar nelas, pelo conforto da minha sala, com minha cervejinha gelada sempre à mão e alguns petiscos para acompanhar.

E enquanto os dirigentes não se atentarem que os maiores rivais dos clubes brasileiros estão fora das quatro linhas (como sempre bem disse o ótimo Erich Betting) essa situação vai continuar por longos e longos anos.

Santos, Atlético Mineiro, Corinthians e Fluminense entram em campo hoje à noite, com seus times juniores, para a disputa das semi-finais da Copa São Paulo de Futebol Júnior.

A tão aclamada competição, conhecida e tida por toda a imprensa esportiva do país como o principal campeonato de base do Brasil.

O caminho das quatro equipes até aqui foi cheio, completo, repleto de absurdos que só são aceitos em um país onde o absurdo é coisa normal, corriqueira.

Essa competição, que foi criada pela Secretaria de Turismo e Esportes de São Paulo, no ano de 1969, como parte das comemorações do aniversário da cidade e em sua primeira edição contou com apenas 4 equipes (Corinthians, Palmeiras, Juventus e Nacional), chegou à sua 45a edição com nada menos do que 104 times participantes, sendo este o primeiro, porém menos grave, dos absurdos.

Aqui eu faço um parêntese sobre os absurdos dessa edição, e escrevo um pouco sobre os absurdos da história dessa competição.

O amigo poderá ver no gráfico a seguir que, depois da promulgação da famosa Lei Pelé, que tirou dos clubes o direito do “passe” de cada jogador, a competição obteve um inchaço recorde. Se em 1998 apenas 32 equipes disputaram a Copinha, como é carinhosamente chamada pela imprensa e torcida paulista, podemos ver que esse número apenas cresceu de lá pra cá.

gráfico copa sp fut jrSe calcularmos o percentual como se estivéssemos falando de juros compostos, a taxa de crescimento anual de times que disputam a Copinha foi de 7,644%. No total, a Copinha teve um inchaço de 225% no número de participantes. Se continuar inchando dessa forma, em 2028 podemos ter algo em torno de 292 times disputando o torneio. Vai faltar letra no alfabeto para nomear tanto grupo.

E, aí, vale lembrar o seguinte: a Lei Pelé tirou dos clubes o direito do “passe”, que acabou na mão dos empresários. Seria apenas coincidência, ou será que o inchaço no número de participantes, que é sim um absurdo, se deve ao fato de cada vez mais empresários quererem colocar seus garotos, que são “craques”, naquela que é a maior vitrine da categoria de base?

Alguns dizem que a Copinha já revelou muitos jogadores importantes para o nosso futebol e blá, blá, blá. Mas eu proponho que você, caro leitor muito atento e esperto, verifique pra mim quantos jogadores já passaram pelo torneio e quantos realmente se tornaram esses jogadores importantes. Talvez você vai perceber que a proporção é muito pequena ainda.

Mas, voltando aos absurdos dessa edição, que talvez não revele nenhum grande jogador para o Futebol em Terras Brasilis, ao menos nenhum que eu tenha visto a imprensa aclamar.

Jogar dia sim, dia não, com menos de 48 horas de descanso entre os jogos, é outro absurdo a que foram expostos os garotos dos times que passaram pela 2a, 3a, 4a e, agora, 5a fases do torneio. Para você ter uma ideia, os finalistas do torneio completarão 8 jogos em 22 dias, o que representa jogar uma vez a cada 2,75 dias.

Sim, um jogo decisivo a cada, arredondando, 3 dias.

Pior que isso, só se esse garotos forem submetidos a jogar ao sol das 11 horas da manhã, em pleno verão paulista, em cidades pouco quentes como Ribeirão Preto, São José do Rio Preto, Araraquara, ou qualquer outra do nosso interior. Vai me dizer que isso não é mais um dos absurdos proporcionados pelo torneio?

Aí, se você considerar que muitos dos garotos, ainda muito jovens para lidar com uma pressão tão grande, sentem o peso de ser essa a competição “vitrine” que eles tanto esperavam, de ser essa talvez a única chance que esses garotos, você pode imaginar o tamanho do absurdo psicológico que é feito na cabeça de quem quer, somente, jogar bola.

É fato que a Copinha já se tornou um torneio tradicional em nosso futebol, tendo sim até certo valor financeiro para clubes, empresários, jogadores, patrocinadores e detentores dos direitos de imagem, no que aí cabe outro grande absurdo: no momento mais importante da competição, quando os melhores times passam pelas peneiras das primeiras fases, começam os principais campeonatos estaduais e roubam todo o foco.

Ou seja, importância mesmo só tem as primeiras, e fracas, fases.

Se o principal intuito da competição é a revelação de grandes jogadores para o nosso futebol, algo precisa ser repensado urgentemente na organização do torneio.

Do jeito que está a tendência é ter cada vez menos interesse do público.

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Nessa semana o novo presidente da Conmebol, Sr. Eugênio Figueredo, deu uma declaração sobre o formato e a quantidade de times que disputam atualmente a Taça Libertadores da América. Para o novo presidente, a Libertadores deveria voltar a ser disputada apenas por 20 clubes, sendo 2 de cada país afiliado da Confederação.

Essa fórmula de disputa perdurou até o ano de 1999. Em 2000 tivemos a ampliação no número de participantes para 34 equipes, sendo que duas eram eliminadas numa fase preliminar.

De acordo com o Sr. Eugênio, uma redução no número de clubes participantes melhoraria a qualidade dos jogos e, por conseqüência, da competição.

Discordo! Como também discordo do atual formato da Libertadores!

Atualmente temos 38 clubes classificados para a disputa do torneio, sendo que 12 equipes disputam a fase preliminar e, destes, 6 avançam e se juntam a outros 26 para a disputa da fase de grupos.

Esses 38 clubes são extraídos de 11 países, e é aí que eu vejo o problema.

Possibilitar, por exemplo, que o terceiro colocado do campeonato boliviano dispute a competição é abrir espaço para a perda de qualidade.

Além disso, o presidente da Conmebol se referiu também à falta de material humano para a arbitragem, pois, como se sabe, os árbitros dos jogos são amadores e possuem outras atividades que dificultam uma escala mais regular nas partidas continentais (e não estou me referindo aos árbitros mais conhecidos/famosos).

E aí existe o outro problema: o tempo de disputa! Realizar um campeonato com 38 equipes em apenas 6 meses é extremamente complicado, custoso e força os jogadores a atuarem no limite.

Então, qual seria a solução ideal?

Antes da confirmação do nome de Eugênio Figueredo para a presidência da Conmebol, e logo após a renúncia de seu antecessor, Nicolás Leóz, ouvi um boato na imprensa que o novo presidente da entidade Sul-Americana poderia incluir times dos Estados Unidos na disputa da competição.

Seria uma forma de atrair mais público para o mercado norte-americano de futebol, que vem se reforçando cada vez mais através da MLS (Major League Soccer).

E atrair o mercado norte-americano, ou estadunidense se você preferir, significa também atrair mais dinheiro, mais patrocínios, mais organização!

E seria nesse novo formato que eu apostaria!

A competição continuaria contando com 32 clubes na sua fase principal, porém reduzindo o número de participantes por país e incluindo, além dos times dos Estados Unidos, todos os outros membros da Concacaf.

Com isso, aumentaria e muito o número de países participantes, mas para não inchar demais o campeonato pode-se fazer como é atualmente na Champions européia, com os times de federações menores participando de uma fase preliminar. Lembremos, por exemplo, que na temporada 2011/2012 da Champions o APOEL, do Chipre, chegou às quartas-de-final. Para isso o time cipriota teve que passar por uma fase preliminar antes da fase de grupos.

Por exemplo, as vagas poderiam ser assim distribuídas:

  • Brasil, Argentina e Uruguai ficariam com três vagas diretas e uma na preliminar;
  • Chile, México, Estados Unidos, Paraguai e Colômbia com duas vagas diretas e uma preliminar;
  • Equador, Peru, Costa Rica, El Salvador e Venezuela ficariam com uma vaga direta e uma na preliminar;
  • Os demais países afiliados teriam uma vaga na fase preliminar apenas.

Dessa forma teríamos 50 times na fase preliminar, que poderia ser também sub-dividida, exatamente como também é na Europa, com países piores colocados no Ranking da FIFA se eliminando primeiro e os “menos piores” entrando depois, filtrando até sair oito equipes para compor a fase de grupos.

Aí o leitor desse blog, que muito observador que é, pode perguntar: e a questão da distância? Afinal, Nova York é muito mais distante de Buenos Aires do quê Londres é de Berlim, por exemplo.

Para isso a disputa deveria se estender pelo ano todo, iniciando em março e terminando em novembro, e a fase de grupos, que tem mais jogos, poderia ser mais regionalizada, evitando deslocamentos muito grandes no início da competição.

E a vaga da Concacaf no Mundial, como ficaria?

Bem, primeiro que o atual formato da Copa de Mundo de Clubes da FIFA permite uma redução dessa forma, uma vez que a FIFA dá ao país organizador do torneio uma vaga para um representante seu. Com isso, atualmente sete clubes disputam o torneio Mundial.

Reduz-se um e ficamos com 6.

Outra possibilidade é garantir a presença de dois clubes dessa nova Libertadores, ou seja pegaria o melhor colocado da Conmebol e da Concacaf para a disputa do Mundial. Obviamente um deles seria o campeão da Libertadores e o outro não.

Afinal, quando falamos do continente América não nos referimos apenas à do Norte ou à do Sul.

E aí, ao invés de Libertadores da América, poderíamos passar a ter uma America’s Liberators!!!

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Daqui a pouco, mais precisamente às 16 horas pelo horário de Brasília, passará ao vivo para todo o Brasil, através de dois canais de televisão, o confronto válido pelas semi-finais da Champions League entre as atuais potências Barcelona e Bayern de Munique, bases da Seleções Espanhola e Alemã, respectivamente, e times que polarizaram a atenção mundial pela qualidade do futebol mostrado nos últimos anos.

Qualidade essa inquestionável, diga-se de passagem.

A transmissão dessa fase da Champions aqui em Terras Brasilis já não é mais novidade. Se antes esse confronto ficava restrito apenas aos canais fechados especializados em esporte, de um tempo pra cá, não só essa fase do torneio, mas o campeonato em si tem sido transmitido na TV aberta do país, com as devidas reportagens antes e pós jogos, além da insistente promoção da transmissão.

Efeitos do mundo globalizado. Será?

Da mesma forma que se tornou comum ver esses jogos, do principal torneio de clubes da Europa, também se tornou comum ver camisas desses times circulando nos mais diversos locais e cidades do país. Camisas do Barça, do Real e do Milan são as mais comuns, mas também é possível acharmos camisas de times que nem sabíamos que existiam. 

Se você for a algum condomínio de classe C e B em São Paulo, por exemplo, talvez se assuste com uma constatação: as camisas de times Europeus já são mais comuns nos corpos de meninos com menos de 15 anos, do que a de times brasileiros.

Da mesma forma vem acontecendo com as Seleções. Uma vez, ao ver um colega com um casado da Espanha, questionei a ele por que ele usava aquele casaco ao invés de utilizar um da Seleção Brasileira. A resposta veio de bate-pronto: “Porque eles são a melhor Seleção do mundo!”.

Nem o argumento de quê a Seleção Brasileira detém 5 vezes mais títulos mundiais que a Espanhola não foi suficiente para fazê-lo perceber a besteira que tinha dito. A Seleção Espanhola pode ser a que joga o melhor futebol hoje, mas não é a melhor do mundo! Eles têm que comer muito arroz com feijão para alcançar esse feito! Muito…

Mas não alonguei o assunto, até porquê cada um veste aquilo que quer, e ele não tem culpa de pensar o que pensa.

A culpa é dos dirigentes do nosso futebol.

A internacionalização de nossa torcida vem acontecendo de forma gradual e paulatina nos últimos 15 a 20 anos. 

Ainda não chega ao estágio de roubar torcedores dos times nacionais, certamente que não. Mas é um fenômeno que deveria ser analisado com mais intensidade pelos dirigentes de clubes e federações do país. 

Hoje para um Corinthians, um Flamengo, um Grêmio ou um Sport Recife isso pode não fazer tanto efeito, até porque nossos dirigentes já estão acostumados com a “esmola” que seus clubes conseguem arrecadar. 

Mas, à partir do momento que um garoto de 12 anos prefere comprar uma camisa do Real Madrid, um jogo de vídeo-game que tenha a Liga Inglesa, ou assistir uma semi-final de Champions ao invés de comprar uma camisa do São Paulo, de exigir um jogo de vídeo-game com times do seu país, ou de assistir uma semi-final da Libertadores, podemos começar a perceber que os hábitos de consumo relacionado ao futebol desse garoto, quando homem, poderão ser mantidos ou ampliados, como acontece com qualquer torcedor e consumidor do mundo.

Perceber que essa garotada de hoje está tendo muito mais afinidade com o que vem de fora e, além disso, agir contra essa situação, deveria ser prioridade zero para os dirigentes de nosso futebol. 

A perda de receita que já está acontecendo, quando um garoto pede ao pai uma camisa do Manchester no lugar de uma do Flamengo, deveria preocupar e muito aqueles que querem um futebol brasileiro cada vez mais fortalecido.

Sem falar na nossa Seleção que, como já disse aqui em outras oportunidades, está completamente sem identificação com nosso torcedor. Esperem e verão, já na Copa das Confederações, uma torcida com pouca afinidade com seus atletas, com sua Seleção.

Não quero nem ver como vai ser na Copa do Mundo.

Deter e diminuir os efeitos desse processo é possível. Para isso, o primeiro passo seria os dirigentes do nosso futebol entenderem que o maior rival de seu clube não é o adversário em campo, mas todas as outras opções de lazer que podem roubar a atenção dos torcedores, e consequentemente seu dinheiro.

Como diz o Erich Beting, o maior rival do Corinthians não é o Palmeiras. É o cinema!

Eu incluiria, se o Beting me permitisse, a constante internacionalização da torcida brasileira nesse rol de rivais.

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Dentre as muitas críticas que a organização da Copa do Mundo de 2014, em terras brasilis, tem recebido, uma delas chama  a atenção não só pelo gasto de dinheiro público mas, principalmente, por não se saber o que fazer depois da Copa.

São os chamados elefantes brancos!

Estádios grandiosos em locais em que o futebol tem pouco, ou nenhum, apelo. Das 12 cidades-sede 4, ou para quem é bom em matemática 1/3, se encaixam nesse perfil.

Não que as demais terão seus estádios utilizados em sua plenitude, não é isso.

Mas Cuiabá, Brasília, Natal e Manaus vão possuir, após julho de 2014, verdadeiros monumentos à nossa incompetência administrativa e política. Estádios modernos, bonitos, confortáveis e gigantes, muito gigantes.

Se você pegar, por exemplo, a média de público dos times dessas cidades em seus campeonatos estaduais, na Copa do Brasil e nas quatro divisões do Campeonato Brasileiro (para aqueles que chegam a disputar essas duas últimas competições) verá que os estádios são realmente desproporcionais para o público que é atraído pelos times que irão utilizá-los.

Sei que, por outro lado, o Maracanã não vive cheio todo jogo. Tão menos o Mineirão, a Fonte Nova e possivelmente nem o Itaquerão viverá. O que também é para se pensar.

Mas esses quatro estádios viverão vazios. Completamente vazios.

E qual seria a solução branca, já que o elefante tem essa cor?

Bem, poderíamos pensar em demolir os estádios, como será feito no Catar, que tem uma média de público em seu campeonato nacional tão boa quanto a média de público do Campeonato Amazonense. 

Porém lá é lá e aqui isso iria repercutir muito mal para os nossos políticos, principalmente em ano de eleição presidencial. Ou alguém aí imagina a Dilma apertando o botão do detonador do estádio Mané Garrincha em plena campanha pela reeleição?

Impossível.

Fazer com que os times dessas cidades atraiam mais público também parece ser bem impossível. Não é só o estádio que atrai público, embora eu ache que, nos grandes centros, vai haver um aumento na média de público dos campeonatos por conta desses estádios novos. Mas nessas cidades isso certamente não irá fazer muito efeito.

Uma ideia seria alterar o regulamento da Copa do Brasil, fazendo com que a final seja disputada em um jogo apenas, numa sede pré-definida, assim como é a Champions League, por exemplo. E utilizar esses estádios para essas finais.

Mas só isso não bastaria.

Pode-se fazer, então, com que cada um dos doze principais times do país, aqueles que realmente atraem a atenção e interesse do público por onde passam, mandassem ao menos uma partida sua no Campeonato Brasileiro (seja a divisão que fosse) de cada ano em um desses estádios.

Para os times isso pode ser interessante, uma vez que tal ação pode ajudar na captação de torcedores nessas cidades, e conseqüente aumento de renda indireta. A CBF poderia também incentivar os times a fazerem isso, bancando passagem e hospedagem nas cidades donas dos elefantes brancos, tentando dar alguma movimentação e razão para mantê-los de pé.

Sei que isso também seria muito pouco. Cada uma das quatro cidades iria receber, no máximo, três jogos de maior importância. 

Mas já é algo melhor do quê aquilo que se prevê.

A dona CBF poderia também começar a marcar amistosos para a Seleção em nossos estádios, agora muito mais modernos. Foi a política de jogar por dinheiro, sempre fora de casa, que acabou afastando ainda mais o brasileiro de sua Seleção.

Mas eu sei que nem assim o problema todo estaria resolvido.

Vejo muita gente por aí criticando a construção desses estádios. Eu também fui contra essa construção. Na minha opinião a Copa deveria ser disputada nos grandes centros do futebol no país, e mais nada. 

Mas já que os elefantes já estão aí, nos resta agora sugerir solução para a vida deles daqui pra frente.

E que seja uma solução branca, da cor dos nossos elefantes!

Quem acordou hoje de manhã e ligou a sua televisão na rede Globo pôde ver a um belo, belíssimo jogo de vôlei feminino. Tratava-se da final da hiper-competente Liga Feminina de Vôlei, que assim como a Liga Masculina, é extremamente  bem organizada.

Organização essa que já traz muitos frutos ao vôlei brasileiro, campeoníssimo mundo afora, e sinônimo de qualidade.

Muito disso se deve a um fator em especial: a grande maioria dos times, se não todos, é gerido por alguma empresa. O Rio, por um exemplo, campeão na manhã de hoje e que conta com ninguém menos  que o Bernardinho como seu técnico, é gerido pela Unilever, uma puuuuta empresa. O Osasco, que foi vice, antes era gerido pelo Bradesco e atualmente é gerido pela Nestlé. Alguma dúvida na competência dessas três empresas? Não, né?

Já no futebol, principalmente na década de 90 por causa da parceria Palmeiras-Parmalat, que em nada se parecia com essas parcerias do vôlei, muito se falava de transformar os clubes brasileiros em empresas, e até alguns craques do passado chegaram a abrir seus próprios times, que acabaram não dando em nada.

Mas agora, em 2013, isso aparentemente começa a mudar.

No estadual do Rio, por exemplo, temos o Audax-RJ, time do Grupo Pão de Açúcar, que está disputando pela primeira vez a principal divisão do  Campeonato Carioca. Ainda tem chances matemáticas de se classificar para a fase semi-final da Taça Rio, mas creio que não conseguirá esse feito. Ao menos não nesse ano.

E em São Paulo, que ainda não conta com nenhum clube com essa característica na principal divisão do estadual, temos na Série A2 (segunda divisão) dois clubes com eminentes chances de conseguir o acesso para a primeira divisão de 2014.

São eles: o Audax-SP (que não é uma simples coincidência no nome) e o Red Bull Brasil, time mantido pela marca de bebidas que mais tem investido em esportes no mundo inteiro.

Ao serem geridos profissionalmente esses três times possuem uma grande chance de, ao menos, fazer frente à maioria dos times pequenos e médios do nosso país. Times com apelo mais regional do que nacional podem e possivelmente serão deixados para trás por esses três times.

Quanto tempo isso pode levar? Não sei, não sou adivinho. Mas uma vantagem muito grande esses times já tem: dinheiro. E quando eles começarem a dar lucro, mas lucro de verdade mesmo, aí meus amigos, podem ter certeza que as empresas vão investir mais ainda neles.

Ok, mas será que o futebol é só isso? Será que basta ter um “pai” rico que o time crescerá e vencerá no futebol?

Quantos e quantos times que por algum tempo foram mantidos por suas prefeituras, ou por políticos, e que depois sumiram do mapa? Vejam os casos de São Caetano e Brasiliense, por exemplo, que por um tempo ganharam espaço na mídia, notoriedade, até alguns títulos e depois sumiram.

Mas, se dá certo no vôlei, por quê não dar certo no futebol?

Arrisco a dizer que o sucesso é mais garantido no esporte das quadras porque o brasileiro se acostumou com essa característica nesse esporte. Ou no basquete. Mas será que nos acostumaríamos com isso no futebol?

Campinas, por exemplo, que tem dois clubes de tradição dentro do estado, tendo o Guarani até conquistado co título do Brasileirão de 1978. Há espaço para o RB Brasil lá?

Vamos ter que ver se esses clubes vão mesmo se firmar e começar a conquistar espaço e títulos no futebol brasileiro, sinalizando que esse será o futuro do nosso futebol, ou se será apenas mais uma onda que irá passar.

Dinheiro e organização para se firmarem eles aparentemente têm. Resta saber se terão torcida…