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A quinta edição da seção História de Torcedor é a mais fresca de todas.

Essa história ocorreu ontem mesmo.

Mas, por algum motivo que eu ainda desconheço, tenho a estranha sensação de que ela ficará para sempre marcada na minha cabeça.

E no meu coração.

Porque hoje é meu aniversário e ontem… bem, ontem tivemos aquele que eu considero o maior clássico do país.

Você pode até discordar.

Tem todo o direito.

Principalmente se você torce para qualquer outro time que não seja um dos dois envolvidos. Tenho alguns leitores que acompanham o blog de outros estados, tenho muitos amigos que não torcem para esses times, e por isso tenho certeza de que muitos irão discordar.

Mas pra mim é, e ponto final.

Vamos lá então?

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Eu e meu velhinho, momentos antes do jogo.

Influência:

Hoje, dia 09 de fevereiro, é meu aniversário.

Nesse ano de 2015 estou completando 38 verões.

E ontem, o domingo que antecedeu essa data tão especial pra mim, pedi que minha esposa fizesse um almoço e convidei meu pai para vir almoçar comigo.

Como ele mora no litoral e, por conta da idade, já não dirige mais, combinei com um dos meus irmãos para buscá-lo em um ponto no meio do caminho entre a minha casa e a casa do meu pai.

Não era uma festa.

Era só um almoço, pois fazia tempo que o velhinho não vinha na minha casa.

E, como ontem mesmo haveria o primeiro Palmeiras x Corinthians do ano, combinei com meu irmão que o retorno seria após o apito final do juiz.

Nunca deixaria de ver ao jogo.

Almoçamos o delicioso estrogonofe da esposinha, batemos algum papo, que já não está fluindo tanto como fluiria antigamente, e após o almoço cada um foi se encostando nos cantos possíveis para aquela soneca da tarde.

A primeira a “embarcar” foi a filhota.

Junto dela o vovô também apagou. Ambos no sofá, um de cada lado meu.

Depois de colocar a filha na cama e lavar a louça foi a minha vez. E em seguida a patroa.

Acordei uns 40 minutos antes de começar o jogo e já sintonizei na Band, para ver o finzinho do “Gol, o Grande Momento do Futebol” e pegar o pré jogo desde o começo.

Ali, enquanto passavam gols históricos do clássico, foi que meu pai contou pela milésima vez a mesma história.

“Em 1955 eu estava no Pacaembu pra ver Corinthians 1×1 Palmeiras”.

“Fomos campeões do 4º Centenário”.

Engraçado como mesmo com a recente perda de memória, essa história ele não esquece nunca.

E aí eu perguntei, como se fosse a primeira vez que eu a estava ouvindo, como tinha sido estar lá.

“Ah, fomos campeões. Teve muita festa. O Pacaembu estava lotado. Ainda tinha a concha acústica”.

Sim, pai, eu sei.

Eu sempre soube.

Assistimos ao jogo juntos. A filha ainda dormia, a esposa tomava seu banho.

A certa altura do primeiro tempo o pessimismo de sempre: “Ah, o Corinthians vai perder esse jogo”.

Como assim pai???

“Ah, vai no máximo empatar”.

Ufa, que bom. Já é alguma coisa.

Ele lá, quietinho num canto do sofá, e eu nervoso no outro. Esfregando as mãos, levantando a cada lance perigoso.

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Um brinde ao gol!

Até que, gol!

Gol do Timão!

Eu não podia gritar, a filha ainda dormia. Mas levantei e bati no peito, como quase sempre faço.

Estávamos na frente no primeiro Derby na casa nova dos caras. Era lindo isso.

Porém, antes de me recompor, fui lá e abracei o velho. Gol pai, gol do Timão!

Ele que me ensinou a falar isso.

Catzo, meu pai que me influenciou a ser Corinthiano estava de novo lá comigo, “comemorando” um gol do Timão pra cima do nosso maior rival.

O segundo tempo veio e o meu nervosismo continuava lá.

E a cada lance perdido eu via que a minha reação era idêntica a dele: bater a mão na perna e soltar um belo “Aaaahh…”.

Quando o Cássio foi expulso vi a primeira reação mais efusiva dele: “Puta que pariu”…

Pronto, agora eu estava liberado a falar também os meus palavrões.

E eles foram falados aos montes quando o atacante Mendoza perdeu o gol cara a cara com o Fernando Prass, no lance que poderia acabar com o jogo.

Verdade seja dita, não foi o Mendoza que perdeu o gol. O Fernando Prass que fez uma puta defesa.

Como fez o goleiro reserva do Timão, no momento que mais palavrões vociferaram pela minha boca, quando o lateral Palmeirense teve tudo pra fazer o gol, e o Valter impediu com o pé.

Até que, fim de jogo.

E antes de ir postar algumas provocações para os meus amigos no Face, fui lá e dei um abraço no meu velho.

Foi um abraço de comemoração.

Mas também foi um abraço de gratidão.

Gratidão por ter me influenciado tão bem na escolha do time.

E nesse 9 de fevereiro, um dos presentes que eu mais queria ganhar de novo eu ganhei.

Comemorar a vitória do meu Timão frente ao nosso maior rival, com meu pai do meu lado!

Ps.: Apenas como dado estatístico, essa é a 5ª vez que Corinthians e Palmeiras se enfrentam próximo (ou no dia) do meu aniversário.

Isso, é claro, desde que eu me conheço por gente.

Até ontem tinham sido duas vitórias do Palmeiras (2×1 em 07/02/98 e 3×1 em 09/02/2000, ambos pelo Rio-São Paulo) e duas do Timão (2×1 em 11/02/2001 e 1×0 em 06/02/2011, ambos pelo Paulista).

A vitória de ontem me deixou mais feliz no meu aniversário, além de por o Timão na frente da minha estatística particular.

História de Torcedor de hoje não poderia deixar de ter a ver com o principal campeonato de futebol do planeta, a Copa do Mundo.

Afinal, estamos no meio da 20ª edição do torneio, que pra felicidade do Futebol em Terras Brasilis está sendo disputada em nosso solo.

Mas, muito mais do que uma mera história sobre o que eu vivi numa Copa do Mundo, o relato de hoje pode ser mais compreendido se for lido como uma homenagem.

Pequena, mas uma homenagem.

Homenagem a alguém que, se não tivesse vivido, eu também certamente não estaria aqui.

Homenagem à minha mãe, que se estivesse encarnada estaria completando, hoje, 69 anos de idade.

Dona Luiza Estela Silveira Lopes, Lú para os mais próximos e mãe para apenas três.

Parabéns mãe!

Que Deus possa continuar te abençoando em seu caminho e que possamos, eu, meus irmãos, meu pai e seus netos sentir as boas vibrações que sempre recebemos vindas de você.

E que a festa seja animada de verdade dessa vez!

Minha mãe, em foto com meu irmão Leonardo, que nem havia nascido ainda em 86. Saudades imensas de você, mãe.

Minha mãe, em foto com meu irmão Leonardo, que nem havia nascido ainda em 86. Saudades imensas de você, mãe.

Festa (?) de aniversário:

Tenho poucas lembranças da Copa do Mundo de 1982.

A principal delas, certamente, foi da tristeza que tomou conta da sala lá de casa na derrota da Seleção Canarinho para a Itália de Paolo Rossi.

E só.

A primeira Copa que acompanhei mais foi, sem dúvida alguma, a de 1986, quando eu já tinha 9 anos completos e já era um mini-apaixonado por futebol.

Nessa Copa vivemos uma espécie de ressaca de 1982, com a Seleção sendo ainda comandada por Telê Santana e com alguns craques vindos daquela Copa inesquecível (como Zico e Sócrates, por exemplo).

Em 86 o caminho da nossa Seleção foi sendo percorrido de maneira até bastante simples.

Na fase de grupos pegamos, e vencemos, a Espanha (1 a 0), a Argélia (de novo 1 a 0) e a Irlanda do Norte (3 a 0).

Nas oitavas atropelamos a Polônia por 4 a 0 e chegamos entre os oito melhores do Mundial com quatro jogos, quatro vitórias, 9 gols marcados e nenhum sofrido.

Já era motivo para todos declararem o Brasil como um dos favoritos ao título, mesmo tendo naquele ano a Argentina de Maradona.

Enquanto tudo isso acontecia, o aniversário da minha mãe se aproximava e ela, que sempre gostava de ver a casa cheia, se animava para fazer uma festinha.

Afinal, não é todo ano que seu aniversário cai num sábado, né?

E naquele 1986, quando completava seus 41 anos, o dia 21 de junho, que marca também o início do inverno no nosso hemisfério, cairia num sábado.

Coincidentemente, aquele dia 21 de junho marcava também o início da disputa das quartas de final da Copa do Mundo.

E o primeiro jogo era o do Brasil.

Lógico que muitos detalhes eu não vou me lembrar, mas me lembro perfeitamente que minha mãe marcou sua festa para aquela tarde, que seria uma comemoração com comidas típicas de festa junina, afinal era junho, e que o jogo seria apenas mais um motivo para comemorarmos.

A ideia pareceu excelente.

No dia 21 de junho de 1986 a casa estava arrumada para a festa. Naquela época ainda não tínhamos tantas bandeiras pra lá e pra cá, mas alguma coisa sempre se fazia para marcar a experiência de mais uma Copa.

Lembro que morávamos em um apartamento bem grande na Lins de Vasconcelos, aquelas construções antigas onde o apartamento era sim espaçoso, e por isso daria para fazer a festa lá mesmo, preparando para lá, também, a comemoração com a vitória da Seleção Brasileira.

Praticamente ninguém contava com mais uma eliminação brasileira.

Se não tínhamos o timaço de 1982, ao menos estávamos com uma Seleção competitiva e que iria pegar a tal da França, atual (para aquela época) campeã europeia, mas com pouquíssima tradição em Copas do Mundo.

A França de 86 era algo parecido com o Portugal desse ano.

Estava a baba do quiabo.

Doce inocência.

Certamente também não me lembro de todos os detalhes do jogo, afinal eu era apenas uma criança ainda.

Mas me lembro daquelas malditas cobranças de pênalti.

Lembro que naquela cobrança francesa que bateu na trave e nas costas do goleiro brasileiro, Carlos, meu pai gritava com a televisão pedindo que anulassem a cobrança, dizendo que não poderia valer aquele gol.

Meu pai não era o único que gritava.

Me lembro também da aflição, e depois do alívio, de todos quando viram que o Galinho pegara a bola para a cobrança de pênalti. Afinal, ele havia perdido um pênalti durante o jogo, mas acabou convertendo a sua cobrança na decisão.

Alegria.

Que foi maior quando o ídolo deles, Michel Platini, isolou sua cobrança, fazendo com que o Brasil empatasse a série na quarta cobrança.

Que rapidamente se transformou em tristeza, quando o zagueiro, sim um zagueiro cobrou o último pênalti do Brasil, mandou a bola na trave.

E que se tornou em depressão quando o último francês, um tal de Fernández, cobrou e converteu seu pênalti.

Pronto, o fantasma do Sarriá estava novamente sob nossas cabeças.

O Brasil estava eliminado.

E a festa acabada.

E não importava o que eu fizesse, e eu juro que lembro que tentei convencer a todos (do jeito que uma criança faz, claro) de que era a festa de aniversário da minha mãe, e que não devíamos ficar tristes na festa.

De nada adiantava.

Pra falar a verdade, acho que nem minha mãe queria mais continuar aquela festa.

O clima parecia mais com o de um velório.

A Copa havia acabado para o Brasil.

E havia acabado com a festa da minha mãe.

A História de Torcedor de hoje foi vivida por esse blogueiro há quase vinte anos, quando o Corinthians era uma das minhas maiores distrações e, por que não, das maiores preocupações.

Espero que vocês se divirtam com essa pequena passagem da minha vida de torcedor.

Ah, e se você quiser ver sua história publicada aqui no nosso blog, basta enviá-la para o e-mail constante no meu perfil do blog (clique aqui).

Vamos lá então?

Uma Kombi parecida com essa nos levou ao Morumbi naquela noite.

Uma Kombi parecida com essa nos levou ao Morumbi naquela noite.

Até de Kombi nós iremos:

Todo torcedor Corinthiano se lembra de bom grado do ano de 1997, onde, com a ajuda de um já falido banco, o Timão montou um bom time para a disputa do Campeonato Paulista, da Copa do Brasil e do Brasileirão daquele ano.

Num time com estrelas do porte de Túlio Maravilha, Donizete, o Pantera, e Mirandinha o pai, o tio, o irmão do vento (sei lá), nós nos acostumamos a ver um ataque bem eficiente, mas uma defesa que carecia de bons nomes (contava com Célio Silva e Henrique).

Mas um jogo marcou bastante a participação Corinthiana na Copa do Brasil daquele ano: a goleada por 6 a 2, pra cima do Atlético Paranaense, já nas quartas de final da competição, após ter perdido o primeiro jogo em casa.

Mas a minha história de hoje não é sobre esse jogo. É sobre o que aconteceu depois desse jogo.

Empolgado com a disputa das semifinais diante de um poderoso Grêmio, e também com a forma como havíamos nos classificado para essa fase, esse que vos escreve quis porque quis ir ao primeiro jogo daquela fase, que seria realizado no Morumbi.

Na época, estudante de um curso supletivo para finalizar o ensino médio (que na época chamávamos de colegial), tinha em minha classe muitos colegas com idade mais avançadas do que a minha. Um deles, de nome Gilberto (se eu não me engano), um jovem senhor de mais ou menos 50 anos e também Corinthiano, empolgado com a minha própria empolgação quis me acompanhar ao jogo.

Ótimo.

Além de companhia, teria carona para ir ao longínquo estádio São Paulino.

Comprei os ingressos antecipadamente e combinei com meu colega de classe como iríamos. Na época eu trabalhava na Av. Angélica e ele na Rua Estados Unidos, ambas em São Paulo. Quem conhece sabe que não é perto, mas para ir da Angélica até a Estados Unidos a pé não é tão ruim, visto que é apenas descida.

Combinamos então de nos encontrar na frente da corretora onde ele trabalhava às 19 horas, para irmos ao Morumbi onde o jogo começaria às 22 horas.

Ao fim do meu expediente me paramentei, colocando uma blusa de moletom preta, uma camisa do Corinthians branca por cima da blusa e um gorro do Timão, pois já estávamos próximos ao inverno paulistano.

E lá fui eu, até a porta da empresa onde meu colega trabalhava.

O que eu não previa, na minha doce inocência, é que o lugar onde trabalhava meu colega era nada menos do que uma das maiores corretoras de imóveis da cidade, num puta lugar chique e apenas com carrões e gente de terno e gravata entrando e saindo do imóvel.

Fiquei lá, parado na frente da corretora, por uns 10 minutos, pensando se deveria ou não entrar.

Ah, e naquela época o celular não era algo tão comum como hoje e esse pobre rapaz não tinha nenhum em seu bolso.

Eis que decidi por entrar. Afinal, estava com o ingresso do meu colega no bolso e ele, por já passar das 19 horas, deveria estar me esperando.

Entrei.

E, ao entrar, percebi que todos que podiam me ver pararam o que estavam fazendo por um segundo, apenas admirando aquele ser “extraterrestre” entrando em tão refinado local.

Homens e mulheres belíssimos, bem vestidos e muito finos ficaram ali, incrédulos, me medindo por uma fração de tempo que eu não sei precisar, até que eu me dirigi ao balcão da recepção e, da forma mais natural possível, pedi para chamarem o Sr. Gilberto (que eu não me lembro o sobrenome). Falei que era amigo dele e que havia marcado com ele aquele horário.

A recepcionista, incrédula, pediu para que eu aguardasse e ligou para o meu colega. Acho que mais incrédula ainda ela ficou ao receber a resposta dele, dizendo que já sairia para me atender.

No pouquíssimo tempo que fiquei naquela bela recepção, senti que era a atração de todos que por lá passavam, principalmente dos seguranças.

Ao me ver, pude perceber que meu colega de classe ruborizou na hora, me cumprimentando bem disfarçadamente e já me encaminhando para fora do imóvel. Ao sairmos, ele me pediu mil desculpas, dizendo que não poderia ir ao jogo naquela noite e me dando o valor do ingresso, sem querer ficar com ele, dizendo que era para colaborar com a condução caso eu fosse para o estádio sozinho.

Muito a contragosto aceitei o dinheiro e me despedi do tal Gilberto, que após o término daquele semestre eu nunca mais tive contato.

Fui, então, procurar alguma forma de ir ao Morumbi de condução. Me lembrei de que estava próximo à Rua Augusta e que lá poderia passar um ônibus para próximo do estádio.

Mais alguns minutinhos de caminhada e eu já estava num ponto de ônibus da congestionada Augusta.

Pouco tempo depois vi uma Kombi velha, descendo a Rua Augusta, cheia de bandeiras do Timão, chacoalhando com a cantoria dos quase dez fanáticos que estavam lá dentro.

Ao se aproximarem do ponto onde eu estava, um deles, que estava no banco da frente do lado do passageiro, virou pra mim e falou: “E aí mano, tá indo pro Morumbi?”.

Respondi que sim, ao que ele concluiu: “5 conto e a gente te deixa lá. Vamô?”.

Pra quem estava perdido em plena Augusta, depois de ter pago um puta de um mico, o que viesse era lucro.

Dei os cinco reais pro cara (que hoje deve equivaler a uns R$ 20,00), e entrei na Kombi.

Ao entrar, vi que não tinha bancos na parte traseira. Eu e mais uns dez caras nos segurávamos como e onde dava, e cantávamos músicas de arquibancada para ajudar a passar o tempo.

Lógico que algumas drogas, lícitas e ilícitas, rolavam a vontade na Kombosa.

E lógico que eu não as experimentei.

Até porque, eu teria que ficar são para conseguir um meio de voltar do Morumbi depois da meia-noite, o que não é uma tarefa assim tão fácil.

Ao chegar no estádio tive que me despedir dos meus colegas de Kombi, já que eles iriam para a arquibancada vermelha e eu estava na azul.

O jogo terminou 2×1 para o Tricolor, com Marcelinho Carioca perdendo um pênalti que poderia dar o empate para o Timão (que saiu perdendo por 2×0).

Mas, o que valeu mesmo foi saber que, parafraseando o hino do time gaúcho, até de Kombi nós iremos para o Morumbi.

A volta?

Bem, aí é para uma outra História de Torcedor.

A segunda história da série Histórias de Torcedor, diferente da primeira e de muitas que ainda certamente virão, não tem o autor do blog como seu principal personagem.

Na verdade, não sei se me coloco como um coadjuvante nessa história, ou apenas como uma testemunha dela.

O fato é que a história que irei relatar hoje trata de uma questão muito discutível quando o assunto é a escolha pelo seu time de preferência. Afinal, é possível trocar de time? É possível, depois de vestir o manto sagrado de uma cor passar a vestir a de um de seus maiores rivais?

Essa história prova que sim, é possível. Não só possível, como ela aconteceu.

O título não comemorado:

Lembro-me bem da noite de 16 de junho de 1999, mais precisamente da tensão vivida naquele fim de noite, começo de madrugada.

Estávamos no quarto do apartamento localizado no bairro da Aclimação, praticamente ajoelhados na frente da televisão, torcendo como se fosse nosso time que estava em campo.

Mas não era.

Era o principal rival de três dos quatro fanáticos torcedores que estavam ali. Principal rival que decidia pela terceira vez o maior título do continente, a tão sonhada Taça Libertadores da América.

Em campo, Palmeiras e Deportivo Cali disputavam para ver quem conquistava o título pela primeira vez.

Fora dele, mais precisamente ajoelhados na frente daquela televisão, no quarto do apartamento na Aclimação, três Corinthianos e um São Paulino secavam o time Alviverde, desejosos de ver o Parque Antárctica ficar silencioso após aquela disputa de pênaltis.

Mas não foi possível.

Ao chutar aquela última penalidade para fora, bem rente à trave direita do goleiro Marcos, o argentino Martín Zapata fez explodir de alegria a imensa torcida Alviverde, e fez calar a pequena secação (se é que essa palavra existe) mista de Alvinegros e Tricolores daquele quarto na Aclimação.

Lembro-me de ser abraçado pelo meu primo Luiz Filipe, o único São Paulino do quarto, que na maturidade dos seus quase 11 anos de vida me disse “Faz parte, Má”.

Luiz Filipe, ou Fi para esse “tio véio”, sempre foi um garoto acima da média. Muito inteligente, sensível, um pouco nojentinho naquela época, o Fi já era, desde a sua infância, alguém muito querido e admirado por mim.

O mais curioso é que, pouco tempo depois (não sei bem precisar quando) o Fi percebeu que torcer para o São Paulo era algo que ele fazia mais para agradar o seu pai, São Paulino de coração, do que para agradar a si mesmo.

Também percebeu que mudar de time para virar mais um Corinthiano na família (sua mãe e seus dois irmãos já o eram) seria lugar comum demais para ele, que sempre se destacou onde quer que estivesse por sua inteligência, esperteza e sagacidade.

Foi quando ele decidiu, para contrariar a todos, se tornar Palmeirense.

E enquanto a maioria de nós achava que era apenas uma forma de se rebelar, de chamar a atenção, sua mãe sempre falava: “Apesar da decepção, tenho certeza que ele não fez isso para chamar a atenção dos outros. Fez porque quis. Porque se sentiu melhor assim”.

E que baita torcedor o Palmeiras ganhou, hein?!?

Fi passou a acompanhar o Palmeiras, a sofrer pelo Palmeiras, a ser um Palmeirense nato, como se fosse descendente de italianos nascido no Bexiga.

É verdade que até hoje, desde que se converteu à Sociedade Esportiva Palmeiras, o meu primo mais sofreu do que sorriu. Fato esse que prova que não é apenas títulos e boas campanhas que nos faz torcer pelo time que for.

Se ele sofreu na conquista do título acima descrito, exatamente por torcer contra o Palmeiras, sofreu mais ainda quando o Palmeiras caiu para a Série B do Brasileirão já em 2002, pouco tempo depois da sua conversão. Sofreu também uma série de anos sem conquistas, até vibrar com o Paulistão de 2008, seu primeiro título como Palmeirense (quase dez anos após ele ter secado o Alviverde).

Ele também vibrou com a conquista da Copa do Brasil de 2012, mas continuou seu calvário alguns meses depois, quando viu, para alegria discreta de seus irmãos e mãe, o seu Palmeiras ser rebaixado mais uma vez.

Hoje morador de Campinas e bem distante dos seus dois irmãos (um em Bauru e outro em São Paulo), sempre que tinha um Corinthians x Palmeiras quando todos moravam sob o mesmo teto era a mesma rotina: os Corinthianos no andar de baixo e ele no andar de cima (ou vice-versa), sempre com a recomendação da mãe: “Não provoquem o Fi, ele fica nervoso pelo Palmeiras”.

É, o cara passou a ser mesmo fanático pelo Alviverde.

Não sei bem como isso deve funcionar na cabeça dele, mas acho que, mesmo tendo torcido contra o Palmeiras naquela final da Libertadores, ele se considera sim campeão do torneio continental. Afinal, quem já sofreu tanto por um time, como eu sei que ele sofre a cada jogo do Alviverde, merece ser perdoado por ter sido tão “mal” influenciado por esse fanático Corinthiano que vos escreve.

E eu espero que ele me perdoe, um dia, por tê-lo influenciado exatamente no momento que não poderia.

Embora, conhecendo o Fi como eu conheço, certamente ele nunca colocará essa “culpa” em mim!

Eu e o primo Fi. Ninguém nunca diria que ele já torceu contra o Palmeiras.

Eu e o primo Fi. Ninguém nunca diria que ele já torceu contra o Palmeiras.

Ps.: ninguém mandou me fazer aquela surpresa no carnaval!

Como prometido no primeiro post de 2014, vou inaugurar hoje a seção Histórias de Torcedor, onde eu vou relatar algumas das histórias mais interessantes vividas não só por mim, mas por quem também quiser participar enviando as suas histórias e experiências.

Se você quiser mandar também a sua história de torcedor, veja no perfil do autor do blog o e-mail para contato. Não serão publicadas histórias com qualquer tipo de conteúdo agressivo ou que, obviamente, não tenham nada a ver com futebol.

Então vamos lá, vamos à primeira História de Torcedor do Blog FTB:

2008 começou como um ano muito estranho pra nós, torcedores Corinthianos.

Não era pra menos, o nosso Timão havia sido rebaixado no Brasileirão de 2007, naquela que fora a pior derrota que nós sofremos dentro de campo.

Acredito que nem a perda do título do Paulista de 1974 para o nosso arquirrival Palmeiras, quando o Timão estava há 20 anos sem conquistas, não fora tão dolorida para o Alvinegro. Não sei.

Mesmo assim, nosso orgulho de sermos Fiéis foi novamente demonstrado, quando o marketing do Timão lançou a camiseta “Eu Nunca vou te Abandonar” e a torcida Corinthiana fez dela um manto no apoio ao time naquele ano de 2008.

Nesse sentimento eu e meu primo combinamos de irmos ao estádio acompanhar o Timão na maioria dos jogos que pudéssemos ir.

E fomos.

Estivemos, por exemplo, no primeiro jogo do Timão daquele ano, contra o Guarani pelo Paulista, quando ganhamos por 3×0.

Mas essa História de Torcedor não se refere a este jogo.

Naquele ano, o primeiro da reconstrução do Timão, o campeonato mais importante que o Corinthians disputaria seria a Copa do Brasil. Passamos por Barras-PI, Fortaleza, Goiás (no memorável jogo da uva-verde) e São Caetano, até chegarmos nas semifinais.

O primeiro jogo, contra o Botafogo no Rio de Janeiro, uma derrota. 2×1 para os cariocas deixou o jogo de volta com um quê de drama Corinthiano.

Lógico que eu e o Daniel quisemos estar nesse jogo. Fomos, mas não só nos dois. Meu irmão Leonardo e um ex-colega de empresa foram também conosco.

Eu, o primo e o irmão, na entrada do Morumbi para o confronto contra o Botafogo.

Eu, o primo e o irmão, na entrada do Morumbi para o confronto contra o Botafogo.

Morumbi lotado, estávamos lá mais de 60 mil vozes empurrando o Timão para cima do Fogão. Jogo de Alvinegros, pra não dizer jogo de desesperados.

Depois de um 0x0 no primeiro tempo que nos deixava mais tensos, saímos na frente com um gol de Acosta (lula-molusco) antes dos 10 primeiros minutos do segundo tempo.

Festa no Morumbi.

Esse era o gol da classificação, que daria a redenção para qualquer Corinthiano.

Precisávamos ver nosso Timão dando uma resposta desse tipo ao cruel deus dos estádios, responsável máximo por nossa queda para a Série B.

Mas não foi tão fácil.

Dois minutos depois o bom time Botafoguense empatou, com um gol do zagueiro Renato Silva. Foi o primeiro momento que ouvimos a torcida do Botafogo, obviamente em menor número, cantar mais alto do que a nossa.

Mais sofrimento a vista.

Até que, aos 20 minutos do segundo tempo, o zagueiro Chicão, recém-chegado ao Parque São Jorge, bateu uma falta com perfeição levando a disputa para os pênaltis.

Dali em diante o sofrimento foi mútuo, até o apito final do árbitro.

Pronto. Tudo seria decidido nas malditas cobranças de pênalti.

E decisão por pênalti você sabe como é, né? Tudo quanto é mandinga, amuleto, reza brava, vale nessa hora.

O Timão começou a disputa e bateu suas cinco cobranças com precisão, não tendo errado nenhuma penalidade.

O Glorioso também não deixava por menos, e convertia cada uma das cobranças que tinha por fazer.

Até que chegou a última cobrança do Fogão.

Se o meia Zé Carlos convertesse, teríamos a continuidade da disputa com cobranças alternadas de uma em uma.

Se perdesse, o Timão estaria na quarta final de Copa do Brasil de sua vida.

No momento em que o meia tomou distância para cobrar eu não aguentei e me ajoelhei na arquibancada, dando as costas para o gramado, e colocando as mãos na frente da minha face, numa típica posição de oração.

Mas não, eu não estava orando.

Principalmente porque eu acho que Deus tem coisa muito melhor para cuidar, do que uma simples penalidade.

Eu estava torcendo e, principalmente, sofrendo.

A torcida Corinthiana fazia um barulho ensurdecedor, assoviando e gritando com o intuito de atrapalhar a cobrança do meia carioca.

O famoso “Sai Zica!” era ouvido em todas as vozes, todos os tons, todos os sotaques.

Mas, eis que de repente um silêncio sepulcral se fez no Morumbi.

Certamente quem estava com os olhos voltados para o gramado, para a cobrança, não deve ter percebido.

Mas eu percebi.

Do momento que o meia Botafoguense bateu o seu pé na bola, até ela resvalar na mão do goleiro Felipe (que havia falhado no gol que deu o empate aos cariocas) e depois se espatifar na trave, acredito que não se passaram nada além de 2 segundos.

E foi nesse tempo que eu, ali ajoelhado, ouvi os assovios e gritos se calarem.

Por um mísero instante eu percebi o Morumbi em Silêncio Absoluto, mesmo tendo mais que 60 mil pessoas lá dentro.

Até a explosão de alegria.

Que veio acompanhada de vários abraços, gritos e, por que não, lágrimas de emoção.

Não amigos, eu não vi o goleiro Corinthiano defendendo o pênalti.

Mas eu ouvi o que mais ninguém naquele estádio ouviu.