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A onda de protestos que toma conta do Brasil vem despertando a consciência do povo para muitas questões que há tempos vêm incomodando, mesmo que silenciosamente, a todos nós.

Estamos acostumados, infelizmente, a ouvir sempre más notícias quando o assunto é a qualidade dos serviços públicos prestados à população. Salvo raríssimas exceções, a saúde, a educação, a segurança pública, os transportes, a infraestrutura e diversos outros pontos que atacam-nos diariamente são motivos da mais deveras e justas reclamações e preocupações. E, por comodismo ou por falta de lideranças, sempre nos calamos diante disso tudo.

Mas parece que agora as coisas vão tomar um novo rumo.

Diante dos inúmeros protestos os governantes das duas maiores cidades do país voltaram atrás e vão revogar o aumento das tarifas do transporte público, em detrimento de outros investimentos segundo eles mesmos, mas para tentar acalmar os ânimos da população. Outras cidades de menor porte também já estão revendo os preços de suas tarifas de ônibus, o que pode gerar um efeito dominó muito interessante.

E durante os protestos dos últimos dias uma das reivindicações,  se é que podemos chamar assim, foi o “Não à Copa” que muitos estenderam em cartazes, até em inglês, pedindo que se boicote os dois principais eventos que serão organizados no nosso país, obviamente estendendo o “Não” também aos Jogos Olímpicos de 2016.

Além desses apelos vi hoje um outro, com muito mais conteúdo e alcance. Trata-se de um vídeo que uma brasileira que mora no exterior fez pedindo para que os estrangeiros boicotem a Copa do Mundo no Brasil, onde muito bem elaboradamente ela explica os diversos problemas que temos em nosso país, utilizando-se de argumentos bem convincentes para justificar seu apelo.

O vídeo claramente demonstra a consciência que está tomando conta dos brasileiros em geral, e da classe média em específico, sobre todos esses problemas nacionais.

Mas, vamos tentar raciocinar com um pouco de frieza agora.

Particularmente eu não discordo dos argumentos apresentados tanto no vídeo, quanto por quem defende esse boicote, com exceção de um ponto no vídeo, que será explicado mais a frente.

Mas discordo totalmente do “Não à Copa” há pouco menos de um ano do início do torneio. Essa consciência e esse “Não” vieram tardiamente, quando o prejuízo já está em nossas mãos. Esse “Não” de forma mais veemente deveria ter sido dito há uns três, quatro anos, quando já sabedores do que viria pela frente nos indignamos mas, como sempre, nos calamos.

Vou explicar minha discordância começando pelo começo. Uma Copa do Mundo pode trazer para o país organizador, embora não seja esse o intuito da FIFA, três principais benefícios:

  1. O primeiro benefício, e mais diretamente ligado ao futebol, são as novas arenas (ou estádio, como preferir) com muito mais estrutura, conforto e benefícios para quem as utilizará;
  2. O segundo benefício fica geralmente relacionado ao entorno do estádio e à sua cidade sede. Investimentos em infraestrutura de transporte, como metrô, novos terminais de ônibus e aeroportos, além de possíveis investimentos na área da saúde, com ampliação de leitos e novos (ou reformados) hospitais;
  3. O terceiro benefício está diretamente ligado ao número de vagas de emprego direto e indireto que o evento pode gerar. Tanto na construção civil, quanto no turismo (e aí subentende-se hotelaria, restaurantes, aviação, entre outros) quanto em outras demandas gerais que o público que vem ao país atraído pelo evento pode vir a ter. E não, esse benefício não se resume a apenas uma semana de vendas boas do “tiozinho da praia” como é dito no vídeo;

Se analisarmos as condições em que a “Copa do investimento privado” está sendo organizada no Brasil, veremos que o primeiro e mais banal benefício realmente teremos, apesar de ser certo e sabido que ao menos quatro dessas arenas serão verdadeiros elefantes brancos. Isso sem falar na suposta roubalheira que tais obras, extremamente dispendiosas, podem ter possibilitado.

Com relação ao segundo suposto benefício, esse não teremos mesmo. A incompetência da administração pública brasileira, que não fica restrita a apenas um partido, ou a apenas um estado, impossibilitou que tais obras que supostamente beneficiariam a população fossem realmente feitas.

E o terceiro benefício é realmente o único que pode, de fato, sobrar para nós brasileiros.

Abrir mão de realizar a Copa, ou propagandear uma imagem negativa desse evento no país, a essa altura do campeonato é burrice.

Desmotivar a vinda de estrangeiros pode impedir que muitos tenham uma oportunidade de um emprego melhor, ou até mesmo de um emprego, ou a oportunidade de um comerciante ter um ano um pouco melhor, de algumas empresas brasileiras terem uma possibilidade maior de negócios, enfim de muitas oportunidades que o próprio setor privado pode ter com esse tipo de evento.

Sem contar que muitas das grandes empresas do país vincularam seu nome ao evento, como patrocinadores, exatamente esperando ter sua imagem cada vez mais fortalecida no mercado externo. E essas grandes empresas empregam muitos, mas muitos brasileiros.

E, se você não é comunista de carteirinha, por favor, não me venha criticar o setor privado.

Isso não quer dizer que apenas com a realização desses eventos teremos um Brasil melhor daqui pra frente. Não!

Mas fazer propaganda negativa lá fora também não vai fazer com que tenhamos esse Brasil melhor! Muito pelo contrário, pode impedir até que a nossa verdadeira imagem (a de que não somos apenas bunda, sexo e samba) seja transmitida lá pra fora.

Por isso, dizer “Não à Copa” agora não é uma boa!

NÃO DIGA “NÃO À COPA”!!!