Posts Tagged ‘torcidas organizadas’

Presidência da República

Casa Civil

Lei No. 12345 de desde sempre.

A Presidente da República faz saber que o Congresso aprova e eu sanciono a seguinte lei:

Art. 1º: Este Estatuto estabelece normas de proteção e defesa ao Torcedor Vândalo Organizado;

Art. 1ºA: A proteção e defesa do Torcedor Vândalo Organizado é de responsabilidade do poder público, das confederações, federações, ligas, clubes, associações ou entidades esportivas, inclusive de seus respectivos dirigentes,  bem como daqueles que, de qualquer forma, promovem, organizam, coordenam ou participam dos eventos esportivos;

§ 1º: Não se encaixa nos termos desse Estatuto qualquer outro torcedor que não se identifique como Torcedor Vândalo Organizado, aos quais denominamos torcedores comuns;

Art. 2º: Torcedor Vândalo Organizado é todo aquele que tem no esporte uma válvula de escape para as suas frustrações pessoais, problemas profissionais e/ou amorosos e que, vez por outra, utilizam-se da violência para dar vazão aos seus sentimentos;

Parágrafo único: pode ser considerado como Torcedor Vândalo Organizado, também, aquele que não tenha frustrações, problemas profissionais e/ou amorosos, mas que, mesmo assim, utiliza-se da violência para protestar contra qualquer situação do desporto;

Art. 3º: Se faz importante salientar que nem todo Torcedor Organizado se encaixa no perfil de Torcedor Vândalo Organizado, embora saibamos que o contrário não possa ser afirmado como verdadeiro;

Art. 4º: É assegurado ao Torcedor Vândalo Organizado, nos termos dessa lei, o direito de protestar de forma violenta contra resultados negativos, eliminações (mesmo advindas de vitórias), rebaixamentos, ou quaisquer situações que não estejam de acordo com o que o Torcedor Vândalo Organizado supõe ser a ideal para seu clube ou associação/entidade esportiva de preferência;

§ 1º: Como protesto entende-se: pichar muros e fachadas dos clubes; promover quebra-quebra em estádios (e seus arredores), em centros de treinamento, bares, estações de metrô, estações de trem, terminais de ônibus; e em qualquer lugar em que o Vândalo Organizado estiver;

§ 2º: Também são aceitos como protestos: ofensas morais a jogadores, membros de comissões técnicas e dirigentes; arremesso de objetos ao campo da prática esportiva; invasão de quaisquer ambientes destinados apenas aos profissionais do esporte (como vestiários, centros de treinamentos, salas de imprensa, e quaisquer outras áreas que são inicialmente destinadas apenas aos profissionais), agressões físicas a qualquer integrante da comissão técnica, jogador e/ou qualquer profissional que estiver envolvido com clube/esporte motivador do protesto (inclusive, mas não restrito, aos profissionais de imprensa);

Art. 5º: Os atos provenientes de protestos citados no artigo anterior, e em seus parágrafos, não são passíveis de punição alguma por nenhuma autoridade constituída formal ou informalmente;

Art. 6º: Também é direito do Torcedor Vândalo Organizado agendar encontros, emboscadas, ou quaisquer outros tipos de situações em que se possa entrar em confronto com Torcedores Vândalos Organizados de outros clubes e associações/entidades esportivas;

§ 1º: Os encontros, emboscadas e quaisquer outras situações a que se refere o caput desse artigo podem ocorrer dentro dos estádios e praças esportivas, em seus arredores, estações de metrô, trem e terminais de ônibus ou em qualquer região que os Torcedores Vândalos Organizados sentirem disposição para tal fim;

§ 2º: Está incluso no direito garantido pelo caput desse artigo, o direito de transformar o local escolhido em praças de guerra, sem precisar demonstrar a mínima preocupação com os chamado torcedores comuns, ou com qualquer cidadão que porventura esteja no local escolhido no momento do embate;

Art. 7º: Cabe aos clubes, através de seus dirigentes, financiar e assegurar a ida dos Torcedores Vândalos Organizados aos estádios de futebol, ginásios poliesportivos e em qualquer lugar que seu clube ou associação/entidade esportiva esteja disputando qualquer tipo de competição;

Art. 8º: As possíveis mortes causadas em decorrência da violência causada pelos Torcedores Vândalos Organizados, seja na forma de protesto, seja no embate com outros Torcedores Vândalos Organizados, deverão ser tratadas pelo poder público, pelas confederações, federações, ligas, clubes, associações e entidades esportivas, inclusive por seus dirigentes, como algo normal e corriqueiro, sem que nenhuma ação deva ser tomada para evitá-las ou coibi-las;

§ 1º: As mortes referidas no caput desse artigo podem ser de Torcedores Vândalos Organizados ou de qualquer outro cidadão (seja profissional do desporto, profissional da imprensa, policial militar ou civil, ou até mesmo do torcedor denominado comum);

§ 2º: É direito das autoridades públicas e dirigentes das confederações, federações, ligas, clubes, associações e entidades esportivas vir a público sempre que houver comoção social em decorrência da violência utilizada pelos Vândalos Organizados (em caso de morte ou não) para darem explicações sem sentido, repetirem discursos vazios e/ou dizerem que irão tomar as “providências” que é sabido que nunca virão;

Art. 9º: É dever dos jogadores e atletas (profissionais ou amadores), bem como dos técnicos e membros de comissão técnica, dirigentes ou qualquer outro profissional dos clubes e associações/entidades esportivas aceitar de bom grado os protestos, xingamentos e atos de violência causados pelos Torcedores Vândalos Organizados, entendendo que esta é a forma mais efetiva que o dirigente de seu clube, ou entidade esportiva, tem para pressionar a equipe por melhores resultados;

§ 1º: Mesmo que os Torcedores Vândalos Organizados não pratiquem seus protestos sob demanda da direção do clube ou associação/entidade esportiva, os jogadores e atletas (profissionais ou amadores), técnicos e membros de comissão técnica, dirigentes ou qualquer outro profissional dos clubes e associações/entidades esportivas não terão o direito de reclamar do modus operandi dos Torcedores Vândalos Organizados (mesmo que aceitá-los possa lhes custar a vida, conforme previsto no Artigo 8º e seus parágrafos desse Estatuto);

§ 2º: Até mesmo aqueles que, na função de policiais (militares ou civis), estiverem ao alcance dos Torcedores Vândalos Organizados, e sofrerem suas agressões (morais ou físicas), deverão igualmente aceita-las;

§ 3º: Árbitros esportivos e membros das comissões de arbitragem estão igualmente obrigados a aceitar os atos de violência (moral ou física) praticados pelos Torcedores Vândalos Organizados;

Art. 10º: Os Torcedores Vândalos Organizados tem o direito de se sentirem donos dos estádios e praças esportivas, podendo dentro deles criar regras de conduta que atingirão os demais torcedores (denominados comuns), definir quais espaços eles ocuparão nos estádios e praças esportivas e determinar até quem pode ou não acessar o espetáculo (independente do torcedor comum portar ou não ingresso para tal);

§ 1º: Os Torcedores Vândalos Organizados têm garantidos por este Estatuto: espaço exclusivo nos estádios/praças esportivas; escolta e proteção policial antes, durante e depois dos jogos; direito a furtar os produtos que são vendidos por comerciantes próximos ao estádio/praça esportiva, bem como daqueles que trabalham dentro dos estádios/praças esportivas; poder de depredar o bem público ou particular independente do resultado conseguido por sua equipe;

§ 2º: É também assegurado o direito ao Torcedor Vândalo Organizado de: reunir-se com atletas, membros da comissão técnica ou qualquer outro integrante do seu clube de coração sempre que um resultado adverso ocorrer; pressionar esse atleta, membro da comissão técnica ou qualquer integrante do clube por meio da violência física ou moral; ameaçar, agredir ou depredar veículos e demais bens dos atletas, membros de comissões técnicas ou qualquer outro integrante do seu clube de coração, sem sofrer o prejuízo de qualquer espécie, previsto em qualquer outra lei;

Art. 11º: Essa lei entra em vigor a partir da data de publicação, apesar de estar sendo respeitada desde que surgiu o Torcedor Vândalo Organizado no Futebol em Terras Brasilis.

Brasil, Fevereiro de 2014.

A marca de uma instituição, seja ela de qual ramo for, é como o nome de uma pessoa: nada é mais importante.

Porém, uma marca, quando bem consolidada e divulgada, diz muito mais sobre aquela instituição do que apenas o seu nome.

Ela diz como a instituição quer ser reconhecida, qual posicionamento ela quer ocupar no mercado em que atua, quais são os seus clientes, enfim, ela diz praticamente tudo sobre a determinada instituição.

No mundo corporativo vemos constantemente essa preocupação das empresas com a sua marca. Nike, Coca-Cola, IBM, Microsoft são algumas das gigantes globais que mais prezam pela boa imagem da sua marca.

Algumas empresas, como o Mc Donald’s, por exemplo, enfrentam resistência de uma parte da sociedade e têm que fazer um trabalho constante para manter o nome de sua marca como algo positivo na mente do mercado consumidor.

É uma luta diária.

Como é, também, a luta de um clube de futebol por angariar cada vez mais torcedores e, principalmente, transformá-los em consumidores.

De nada adianta para o Grêmio, por exemplo, ter a maior torcida do Rio Grande do Sul se o seu rival é que tem o maior mercado consumidor (mais torcedores pagantes do programa de sócio-torcedor, mais vendas de camisas, de produtos licenciados, mais audiência nos jogos transmitidos e maior venda no pay-per-view).

Certamente, no exemplo acima, o Inter terá mais receita do que o Grêmio, mesmo que o último tenha mais torcedores.

Por isso a preocupação com a marca do clube deve ser uma constante na cabeça dos dirigentes dos nossos clubes.

O Cruzeiro já proibiu suas torcidas de usarem a marca do clube. Não está na hora de outros times seguirem esse exemplo?

O Cruzeiro já proibiu suas torcidas de usarem a marca do clube. Não está na hora de outros times seguirem esse exemplo?

E, talvez por terem essa preocupação, os dirigentes do Cruzeiro tenham tomado a decisão de proibir as torcidas organizadas do clube (Máfia Azul e Pavilhão Independente) de utilizarem a marca do Cruzeiro. Essa decisão, tomada no final do ano passado, teve como principal pano de fundo as confusões criadas por membros dessas torcidas em jogos do Brasileirão 2013 (um contra o rival Atlético Mineiro e outro no jogo da festa do título, em pleno Mineirão).

Imaginem o quanto deve ter sido difícil para esses dirigentes a tomada dessa decisão. No mundo do futebol, ao contrário do mundo corporativo, existe o quesito paixão, que pode ser transformado em violência na cabeça dos mais ignorantes, e que pode fazer com que uma medida tão impopular seja impedida de ser tomada.

Ontem, outro presidente de um grande clube foi questionado sobre essa possibilidade. Mário Gobbi, presidente do Corinthians, em sua entrevista coletiva disse não ter poder para decidir isso sozinho, que o Corinthians tem seu Conselho Deliberativo e que este deve ser consultado com relação a essa decisão.

Ok.

Mas ele se ele não tem poder para decidir isso sozinho, certamente tem poder para influenciar a decisão do Conselho do clube. Certamente, também, ele tem poder para ao menos colocar esse assunto em pauta, dado a sua importância e gravidade.

O Corinthians vem trabalhando nos últimos anos não só para conquistar títulos, mas também para construir uma imagem de time vencedor e de clube organizado (sei). Porém, para conseguir construir essa imagem uma decisão muito séria e drástica deve ser tomada pela diretoria do clube com relação às torcidas organizadas.

Vejam o exemplo do Vasco, que perdeu o seu contrato de patrocínio com a Nissan depois da guerra campal que a torcida do clube se envolveu na última rodada do Brasileirão 2013, no jogo contra o Atlético Paranaense.

A matriz da montadora que influenciou nessa decisão, uma vez que a briga campal vai totalmente contra os valores da empresa e arranha, sim, a sua imagem.

Prejuízo de R$ 7 milhões por ano, por 4 anos.

O Vasco pode até arranjar outro patrocinador no lugar da Nissan. Certamente arranjará. Mas a imagem do clube já foi arranhada perante aquela empresa, e perante a todos aqueles que podem ser influenciados pelos gestores da empresa.

E você pode dizer até que proibir o uso da marca pelas torcidas organizadas não vai desviculá-las totalmente dos clubes.

Pode ser.

Mas o que é certo é que é tudo questão de imagem.

E enquanto os clubes brasileiros continuarem suas relações promíscuas com essas torcidas organizadas, quem vai mais sofrendo é a imagem do Futebol em Terras Brasilis.

Foto do torcedor envolvido na briga do último domingo, que passou uma bela temporada em Oruro.

Foto do torcedor envolvido na briga do último domingo, que passou uma bela temporada em Oruro.

Uma notícia extracampo vem tomando conta do noticiário esportivo essa semana: a participação, na briga entre “torcedores” de Vasco e Corinthians no jogo do último domingo, de um (ou dois) integrantes da Gaviões da Fiel que ficaram detidos na Bolívia, por conta da morte do garoto Kelvin Espada no primeiro jogo do Corinthians pela Libertadores desse ano.

O que pareceu algo espantoso para muitos, não foi nada além da constatação do pensamento desse que vos escreve: que aqueles que foram detidos, tinham sim, alguma coisa a ver com o ocorrido em Oruro. Direta ou indiretamente.

Mas como não estou aqui para julgar ninguém, até porque, de acordo com o que lemos na imprensa, não foram encontradas provas dessa participação dos doze caras que foram presos lá na Bolívia, o cerne desse post não será discutir a participação ou não deles na morte do menino.

Ao contrário disso, quero escrever sobre a dependência que os grandes clubes brasileiros têm de suas torcidas organizadas, e tentar analisar se isso é ou não prejudicial ao Futebol em Terras Brasilis.

Também não espere, caro leitor, encontrar nesse blog amador uma informação de bastidor, ou algo que ainda ninguém tenha falado, ou escrito. Eu não tenho essa pretensão, tão menos essa  capacidade…

Mas, vamos aos fatos, tomando como exemplo o caso desse(s) integrante(s) da maior organizada Corinthiana.

Já é muito complicado para um pai de família como eu, para um jovem trabalhador, para quem quer que seja, acompanhar de perto o clube de coração em viagens longas. Geralmente essas viagens levam mais que um ou dois dias, atrapalhando aqueles que têm de trabalhar de segunda a sexta (às vezes também nos sábados e domingos). Se o jogo é numa quarta-feira, então, aí que fica realmente inviável.

Mais complicado ainda, para esse mesmo pai de família, deve ser ficar detido em um país que seja por seis longos meses. Quem paga as contas desse pai de família? Como ele volta a trabalhar, depois de um ocorrido desses? O que acontece com esse emprego?

Complica mais um pouco a situação se, logo após voltar dessa prisão, tirar uns dias para acompanhar seu time do coração em um jogo na capital federal, distante uma pá de quilômetros da cidade de São Paulo. Se a viagem for de ônibus, então, pior ainda.

Logo percebe-se que esse torcedor, por exemplo, ou vive de torcer para o seu time ou é muito rico…

Vamos considerar que ele viva de torcer para o seu time, pois até aqueles que são muito ricos possuem compromissos, ou profissionais ou de quaisquer outras áreas, que impeçam de acompanhar tão de perto sua paixão futebolística.

Então, usando um pouco de raciocínio lógico, e ligando um ponto ao outro, percebemos que alguns torcedores vivem de serem torcedores organizados, dos mais variados times, visto que essa situação não se restringe apenas ao Alvinegro do Parque São Jorge.

São torcedores que acompanham seus times nos mais distantes pontos do país e, por que não, do mundo.

E alguém financia tudo isso.

Uma vez eu vi uma entrevista do atual presidente do Fluminense, Sr. Peter Siemsen, onde ele admitiu que o clube dava subsídios (agora não me lembro se financeiros, ou de logística) para que a torcida organizada do Tricolor acompanhasse o seu time onde fosse.

E ele justificou essa despesa como uma forma de promoção do clube, coisa que a torcida era responsável por levar o estandarte, faixas e bandeiras do clube onde fosse.

Declaração interessante, corajosa e polêmica.

E o presidente foi voz solitária, sendo que nenhum outro, nunca mais, admitiu tal fato.

Mas, apesar de ninguém afirmar com certeza, sempre lemos e ouvimos na imprensa que todos, absolutamente todos os clubes, dirigentes e conselheiros mantém suas torcidas organizadas por perto, financiando viagens, dando ingressos (ou descontos na aquisição destes), e até bancando carnavais e etc.

Afinal, o que faria, por exemplo, a torcida Independente ter defendido com unhas e dentes o atual presidente do São Paulo, maior responsável pela péssima fase que o clube vive atualmente?

Quando da morte do garoto boliviano, lembro-me que escrevi que todos os culpados teriam que ser punidos (leia aqui). Óbvio que isso nunca aconteceria, né? Seria como punir toda classe política pela morte de um cidadão comum na porta de um hospital público esperando atendimento.

Mas, e aí, é vantagem para os clubes manterem suas organizadas tão próximas?

Politicamente, para os dirigentes, sim, é!

Evita protestos, gritaria na porta dos CT’s, depredação das sedes e até ameaças de morte! Além, é claro, de garantir tal dirigente, ou seus pares, no poder dos clubes e federações.

Já, para aquele torcedor desorganizado, que gostaria de ir a um estádio com seu filho, com sua filha, para curtir um domingo de sol, não, não é!

Mas esse torcedor pouco influencia no processo eletivo do clube, né? Geralmente não protesta, não briga, não discute. Se o time dele perde ele vai pra casa e continua sua vida normalmente, sabendo que futebol, para ele, é apenas uma forma de lazer, de entretenimento. Ele praticamente não conta…

É lógico que existe o lado bom das torcidas organizadas. Para tudo na vida existe um lado bom. Realmente é muito bonito ver a festa que essas torcidas fazem nos estádios, quando se propõem apenas a isso, e aí independe de qual time você torça, de qual torcida estamos falando.

Mas esse lado bom compensa o lado ruim? E, acrescento, o lado ruim dessa ligação estreita entre dirigentes e torcidas organizadas não pode ser favorável para o próprio dirigente?

Fosse você o presidente de um grande clube do futebol brasileiro, tentaria aproximação a essas entidades, ou afastamento?

Fato é que, por inúmeras razões que vão desde a política interna dos clubes, até a certeza da impunidade nos casos como o do garoto Kevin, os dirigentes mantém essa aproximação com as torcidas organizadas, financiando-as e criando vínculos de difícil dissolução no futuro.

E a nós cabe apenas assistir a tudo pela televisão.

Porque em estádio eu não boto mais meus pés!

É impossível, embora não seja o foco desse blogueiro, ficar indiferente à tragédia ocorrida ontem, no momento do gol Corinthiano, quando um jovem torcedor boliviano foi atingido por um sinalizador, e morto pela violência do impacto.

E, com essa morte, muito blá-blá-blá será falado em todos os veículos de comunicação. De tudo o que leremos e ouviremos a única constatação importante é essa: que os responsáveis sejam punidos. Todos.

A começar pelo imbecil que disparou o sinalizador em direção à outras pessoas. Pelo o que vi, esse não era um sinalizador qualquer, daqueles utilizados comumente pelas torcidas mundo afora. Não, esse era um sinalizador específico de navegação em alto mar, que quando disparado atinge uma velocidade de mais de 300km/h para estourar lá em cima, chamando a atenção de outras embarcações.

Então puna-se o assassino que disparou isso e o responsável que levou tal objeto para um estádio de futebol, caso não tenha sido a mesma pessoa.

Já que ele levou, deve ser punido também quem deixou ele entrar com tal objeto. A revista feita em estádios sul-americanos é precária e não coíbe ninguém de entrar com qualquer tipo de artefato perigoso nos estádios. Então puna-se também o responsável, ou os responsáveis, pela revista da torcida Corinthiana no jogo de ontem.

Por falar em torcida Corinthiana, certamente o responsável pelo disparo do artefato não é aquele torcedor comum, que tem que levantar cedo no outro dia para ir trabalhar, tão menos era algum Corinthiano que more nas proximidades de Oruro e aproveitou a oportunidade para ver o seu time de coração de perto.

Sim, ele é de alguma torcida organizada. Sendo assim, essa torcida organizada, seja ela qual for, deve também ser responsabilizada pela morte do menino.

Vale lembrar que os dirigentes de clubes brasileiros, dependentes que são das torcidas organizadas para se manterem no poder dos clubes, e em específico os dirigentes do Corinthians, que cederam ingressos ou o transporte desses torcedores para a longínqua Oruro, também devem ser responsabilizados. Ou seja, o clube, do qual eu sou torcedor, deve sim ser punido pela organização do torneio, uma vez que seus torcedores não sabem se comportar em um estádio de futebol.

Por falar no estádio, puna-se também quem organiza e quem autoriza que um jogo do segundo maior torneio continental do mundo seja jogado em um estádio sem as mínimas condições de segurança, onde qualquer um pode entrar portando um objeto que mostrou-se fatal. Então puna-se o time de Oruro e quem autorizou a realização do jogo lá.

Finalizando, também deve ser punida a organizadora da competição, que em pleno ano de 2013 ainda permite que pessoas sejam mortas ao assistirem um jogo de futebol, pois não está nem aí para a organização, melhoria e aperfeiçoamento da sua competição.

É inaceitável que uma competição desse porte ainda seja disputada em estádios inseguros, campos que mais parecem nossa boa e velha várzea, tendo que haver proteção policial para cobrança de um simples escanteio e acompanhadas por esses bandos de marginais que sempre têm a conivência dos clubes.

Até outro dia o jornalista Juca Kfouri estava propondo que os times brasileiro boicotassem a Taça Libertadores por conta dos diversos motivos aqui listados, principalmente por ter que jogar em cidades com a altitude como a de ontem. Certamente ele não sabia que um clube brasileiro seria “responsável” pela morte de um torcedor boliviano. E aí eu pergunto: agora serão os bolivianos que boicotarão o torneio para não terem mais torcedores mortos por vândalos brasileiros?

Em resumo, todos devem ser punidos. Talvez não no mesmo nível daquele que disparou o sinalizador em direção à torcida do San José, mas todos tem sua parcela de culpa.

Todos!

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Eu já disse aqui, ou no endereço antigo do blog, que o único legado que a Copa do Mundo de 2014 vai deixar para o país é um pouco mais de 15 estádios modernos, novos e em condições de abrigar o público com todo conforto e segurança. Alguns desses estádios serão, sem dúvida nenhuma, grandes elefantes brancos. Mas outros não.

E, na esteira da nova onda de estádios brasileiros, três clubes que não tiveram seus estádios escolhidos para a Copa de 2014 também terão estádios novos (ou renovados). O São Paulo que aprovou a instalação da cobertura no estádio do Morumbi, e além disso o projeto consiste também em dedicar uma área do estádio para shows de médio porte. O Palmeiras que praticamente pôs abaixo seu antigo Parque Antártica e está construindo no local um novo estádio, muito bonito por sinal, e o Grêmio que construiu sua nova arena em local diferente do antigo estádio Olímpico (que será demolido).

Dos três, apenas esse último já está pronto e em uso. Sua inauguração foi em um jogo amistoso no final do ano passado e o estádio recebeu nessa última quarta-feira seu primeiro jogo oficial.

Nem preciso narrar aqui, com dois dias de atraso, o que ocorreu no estádio gaúcho.

O que é preciso refletir, e isso parece que o presidente do clube gaúcho e sua torcida ainda não fizeram, é que um estádio novo não comporta mais esse tipo de atitude, esse tipo de situação. Ou não poderia comportar.

O Grêmio erra em manter um espaço dedicado aos vândalos em seu estádio. Erra ao permitir que um investimento daquele porte, que trás ao torcedor comum uma sensação de estar sendo bem tratado, querido, ainda abrigue os mesmos que destroem seu patrimônio, afastam investimentos e causam sérios riscos à integridade física deles e dos outros.

E lembremos que nos dois jogos na nova arena houve esse tipo de problema. No primeiro, por sinal um simples amistoso comemorativo de abertura do estádio, teve um quebra-quebra no mesmo setor.

O legado que um estádio moderno pode trazer para o futebol não é apenas a beleza das novas construções, mas sim uma mudança de comportamento dos clubes com relação aos seus torcedores, passando a tratá-los com o respeito e a dignidade que qualquer empresa do setor de entretenimento dá aos seus consumidores, e não como um bando de qualquer coisa ou um rebanho de bezerros.

Seja na Arena Grêmio, seja no Mineirão (que receberá um clássico já no seu jogo de abertura), seja na Fonte Nova ou lá em Itaquera, essas novas e modernas arenas multi-uso sugerem um novo tratamento àqueles que ocuparão suas cadeiras, seus camarotes. Se eu compro um ingresso para um estádio desses, quero chegar com conforto, entrar sem empurra-empurra, comer e ir ao banheiro sem perder meu lugar (reservado) e, principalmente, ter ao menos uma pequena sensação de que chegarei bem em minha casa.

Chega de espaços reservados para torcidas organizadas, chega de permitir que os vândalos que sempre agem brutalmente frequentem mais nossos estádios (velhos ou novos), chega de dar abrigo para aqueles que um dia ou outro, certamente, irão destruir o patrimônio dos clubes.

Enquanto mantivermos a mentalidade antiga, os estádios novos serão apenas bonitos por fora, para se tirar fotos de helicóptero e fazer cartões-postais. Mais nada. E, com episódios como o dessa última quarta-feira ocorrendo constantemente, essas novas arenas se tornarão os velhos estádios em pouco tempo.

E aí, o único legado que a Copa do Mundo poderia ter deixado, será destruído por nossa ignorância.

A foto desse post é de Lucas Uebel / Uol Esporte.